De todos os títulos já lançados pela Graphic MSP, o que menos me empolgou, desde o início, foi o do Astronauta. Isso não quer dizer que eu odeio essas edições ou o personagem, é sempre importante deixar claro — especialmente porque alguns leitores possuem a horrenda mania de tirar conclusões generalizadoras e “absolutas” quando a gente coloca o mínimo ponto de questionamento numa obra de arte com um fã clube. O fato é que, tirando a ótima Assimetria de cena, meu nível de empolgação e sede de leitura para um título do Astronauta nunca foi muito grande. E aqui em Parallax, esse grande arco encontrou o ponto mais baixo. Eu não só gostei pouco da edição. Vejo-a também como o pior volume dentre as MSP até o momento.
O meu maior problema aqui é a coroação da síndrome de “…veremos no próximo capítulo” que Danilo Beyruth abraça com gosto, deixando um final com todas (sim, todas!) as pontas narrativas abertas. Isso é algo que não me desce. Eu acompanho essas novelas gráficas desde o lançamento de sua primeira edição (Magnetar, em outubro de 2012) e escrevi sobre a quase totalidade delas aqui no Plano Crítico, de modo que posso afirmar, como leitor e como crítico focado nessas publicações, que a série do Astronauta recebe um tipo de licença da editoria do projeto que eu não acho que deveria existir, especialmente porque gera a situação que tivemos nesse final de Parallax, basicamente enchendo o leitor de blocos narrativos isoladamente interessantes, mas que não chegam em lugar nenhum ao fim da edição, comprometendo de maneira grandiosa a nossa experiência.
Notem que em todos os outros títulos da série, esse tipo de permissão é absolutamente vetado. Existe uma continuidade inteligente e coerente entre os volumes, é verdade, mas elas nunca fogem da ideia de “trama que não precisa de outras para fazer sentido“. Enquanto isso estava focado na ideia de num arco muito grande, narrado em episódios autocontidos, eu não tinha grandes problemas — embora preferisse que cada edição trouxesse uma exploração distinta do Astro, afinal, este é o título sci-fi do projeto, e fico até tonto ao pensar nas milhares de possibilidades de exploração que estamos perdendo há 10 anos, com essa opção de “única história“. Mas tudo bem, essa foi a escolha da editora, vamos lidar com ela… desde que ao menos faça sentido, com histórias que conseguem se sustentar sozinhas, sem abarrotar o público de informações que não encontram uma única compensação no volume em que aparecem.
Aqui estão alinhadas três realidades dramáticas: a do Astronauta pirata lá de Assimetria; a do Astronauta barbado (Comandante), que vem de uma dimensão onde a Lua está destruída e onde o planeta Terra está vivendo uma verdadeira catástrofe; e Astro e Isa, em cujo bloco reaparece o octaedro de Singularidade. Isoladamente, esses blocos são relativamente bons. Eles possuem uma cadência de eventos bem pensada — com uma leve corrida desnecessária no afunilamento entre narrativas, mas nada absurdo –, e estabelecem problemas que chamam a nossa atenção. Bem, talvez nem tanto o problema no bloco do Astronauta pirata, que coleciona Ritas de outros Universos. Como são três linhas dramáticas, é claro que o roteiro não tem tempo, em 86 páginas (já que o restante é de extras), para explorar bem esses pedaços, mas isso também não é algo marcantemente negativo. O verdadeiro e crucial problema da edição está no final, quando o encerramento aberto deixa o leitor com a sensação de que a leitura de Parallax não serviu para absolutamente nada. Meu consolo é que tudo isso termina em Convergência, o volume que concluirá a saga. Amém. Antes tarde do que nunca.
Astronauta – Parallax – Brasil, setembro de 2020
Graphic MSP #28
Roteiro: Danilo Beyruth
Arte: Danilo Beyruth
Cores: Cris Peter
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Souza Editora
Páginas: 98