Número de temporadas: 2
Número de episódios: 52
Período de exibição: 1980 – 1981
Há reboot?: Esta série já é um, da original de 1963, sendo sucedida por Astro Boy (2003 – 2004).
Astro Boy é uma das criações mais famosas do grande Osamu Tezuka, primeiramente fazendo um enorme sucesso nos mangás (de 1952 a 1963) e então chegando pela primeira vez à TV na década de 60, num projeto que teve o próprio criador do personagem diretamente envolvido, assim como foi nessa versão de 1980. Neste primeiro episódio recriado do anime, intitulado O Nascimento de Astro, temos, em essência, tudo aquilo que vimos ser exibido no piloto da série original, característica que marca, inclusive, as diferenças entre a versão japonesa e a versão americana do presente piloto.
E já para deixar claro, eu assisti às duas versões, mas esta crítica é apenas para a versão japonesa. A versão americana é um pouco pior (daria 2,5 HALs), com uma abordagem que sacrifica a lógica narrativa para criar um elemento bobo de continuidade. Posto isso de lado, estamos diante de uma história conhecida para dois tipos de público: o que conhece o mangá e o que conhece a série original. Ainda assim, existe um charme muito grande em ver uma adaptação em cores e melhor tratamento visual para o personagem, além de apresentar alguns novos detalhes da cidade, do processo de criação e dos primeiros inimigos.
Os ganhos na animação, que não são apenas plásticos mas também de movimento dos personagens e do cenário em volta, certamente cresceram devido ao avanço tecnológico, o que torna essa versão dos anos 80 visualmente mais chamativa e mais limpa que a original, mas não necessariamente mais criativa ou com uma melhor história. No centro das questões discutidas há a difícil relação entre pai e filho, sendo o trabalho do Dr. Boynton o grande distanciador emotivo que se tornará o motor de toda a saga, pois é isto que, indiretamente, leva à trágica morte de Toby. O roteiro não faz o bastante para estabelecer uma fluída passagem de tempo, mas o espectador não fica perdido. Sabemos que o novo robozinho ganhou as qualidades de Toby e então se desenrola o primeiro aspecto tocante da trama, que é quando o Dr. Boynton adota Astro como se fosse de fato o seu filho, uma compensação um tanto enraivecedora — por ser uma compensação, uma ação de culpa –, mas não mesmo emotiva por isso.
Esse laço entre “pai e filho” tornará mais interessante a segunda parte do episódio, que na versão americana não tem sentido nenhum de existir, mas que aqui na versão japonesa ganha sua aceitável explicação. Astro é “chamado” para um lugar e acaba, mesmo contra sua vontade, desencadeando uma busca militar/científica que o fará utilizar seus poderes de forma heroica pela primeira vez. A ação final já dá uma boa mostra do que a série e o personagem são, e a versão japonesa faz um ótimo trabalho em estabelecer ligações com Atlas, o robô que fará frente a Astro mais adiante.
Mesmo com um primeiro ato marcado por problemas de encadeamento temporal e dramático de cenas (às vezes a passagem de um bloco para o outro nos dá a impressão de ter perdido uns 5 episódios no meio) o piloto dessa versão de 1980 para o icônico personagem de Tezuka traz uma boa história e mostra que não importa o tempo, a mídia e a abordagem, toda vez que falamos de relações entre pais e filhos, sempre existirão coisas complexas demais para serem trabalhadas em um único episódio. É dessa profundidade da vida que criações assim tiram o seu material de análise, tentando nos fazer pensar de forma segura e distanciada sobre problemas que todos já enfrentamos, em maior ou menor grau.
Astroboy (Shin Tetsuwan Atom) – 1X01: O Nascimento de Astro (The Birth of Astro / アトム誕生) – Japão, 10 de janeiro de 1980
Criador: Osamu Tezuka
Direção: Ishiguro Noboru
Roteiro: Osamu Tezuka
Elenco: Shimizu Mari, Katsuda Hisashi, Masako Sugaya, Kazuo Kumakura, Tamio Oki, Takeshi Kuwahara, Misako Hibino, Ichiro Naga
Duração: 30 min.