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Crítica | Asterix e o Segredo da Poção Mágica

por Ritter Fan
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No momento em que escrevo a presente crítica, existem 38 álbuns canônicos de Asterix e Obelix, sendo que 24 deles escritos por René Goscinny em parceria com Albert Uderzo. Da mesma forma, existem 15 longas animados e live-action sobre os irredutíveis gauleses, contando com o que é objeto da presente crítica e também com o estranhíssimo Dois Romanos na Gália, tecnicamente a primeira obra audiovisual dos personagens. Até o lançamento de Asterix e o Segredo da Poção Mágica e excetuando-se o tal primeiro filme, apenas um longa não foi baseado em material pré-existente, Os Doze Trabalhos de Asterix, que, porém, teve seu roteiro co-escrito pelos próprios Goscinny e Uderzo, em parceria com seu amigo Pierre Tchernia. E tem mais estatística: dentre os 12 longas “elegíveis” baseados em material original, apenas 11 álbuns foram utilizados, alguns deles mais de uma vez, o que deixa de fora nada menos do que 27 outros ou 13 se contarmos apenas os que foram escritos por Goscinny, de longe os melhores.

Para que esse monte de números no parágrafo de abertura, alguns perguntarão. E minha resposta é muito simples: com essa quantidade de excelente material inexplorado, para que – PARA QUE – criar um roteiro completamente original? Porque não beber dos riquíssimos e hilários Asterix na Hispânia, Asterix entre os Helvéticos ou Asterix e os Godos? Porque não dar uma chance para A Foice de Ouro ou até mesmo Uma Volta pela Gália com Asterix? E não é que eu queira que os roteiristas fiquem escravizados pelo material fonte, mas sim que eles o usem para criar belas adaptações como aconteceram algumas vezes antes, bastando lembrar do álbum Asterix e Cleópatra, que deu origem a duas versões sensacionais, uma animada, outra live-action ou de O Domínio dos Deuses, que resultou na animação homônima logo anterior à sob análise, aliás capitaneada pelos mesmos diretores, mesmo roteirista e mesma equipe de produção.

Infelizmente, porém, o caminho tentado em Asterix e o Segredo da Poção Mágica foi o de tentar algo inédito, resultando em um roteiro que até tem uma boa premissa, mas que, uma vez que ela está em movimento, torna-se repetitiva e cansativa, ainda que longe de ruim. Na história, o druida Panoramix (Bernard Alane), depois de sofrer um acidente na floresta próxima à aldeia enquanto colhia ervas para suas poções, decide que já está velho demais e que precisa achar um sucessor a quem a secretíssima fórmula da poção mágica seria confiada. Começa, então, uma busca pela Gália, com o druida sendo ajudado por Asterix (Christian Clavier, o ator que viveu o personagem nos dois primeiros longas live-action, cuja voz vem substituir a clássica de Roger Carel, que se aposentou depois da animação anterior) e Obelix (Guillaume Briat, pela segunda vez no papel) e perseguido pelo druida do mal Sulfurix (Daniel Mesguich), que se alia a Júlio César (Philippe Morier-Genoud, também vivendo o personagem pela segunda vez) e ao Senador Tomcrus (Olivier Saladin) para descobrir a cobiçada fórmula.

O roteiro esgota-se muito rapidamente, com o texto telegrafando com muito didatismo o desfecho da narrativa, retirando muito do mistério que poderia ser construído ao redor do tal sucessor. Ao mesmo tempo, a presença diabólica de Sulfurix, que funciona muito bem em seu início, cai na mesmice depois de sua introdução na Floresta dos Carnutos, passando a ser, apenas, um personagem inconveniente e não uma verdadeira ameaça a Panoramix e seus amigos. Além disso, a história carece de elementos que diferenciem verdadeiramente as sequências, mesmo que, por vezes, ela tente suprir essa falta forçando referências, como a presença dos piratas em um rio e o uso de Tomix, o chefe gaulês assimilado pelos romanos que vemos no álbum O Combate dos Chefes.

Felizmente, porém, a qualidade do CGI vista em O Domínio dos Deuses continua aqui, ainda que o design dos personagens tenha sofrido alterações em prol do “fofuchismo”, com feições mais arredondadas, que, confesso não gosto muito. Mas as movimentações são fluidas, a pancadaria funciona muito bem, valendo destaque para a legião romana atacando a aldeia gaulesa defendida apenas por Chatotorix como chefe interino e as mulheres e crianças e há um cuidado excepcional com a iluminação, o que beneficia as sequências na Floresta dos Carnutos e também a batalha final contra Sulfurix, cuja maior habilidade como druida é o controle do fogo.

Asterix e o Segredo da Poção Mágica desaponta mais por desperdiçar material base pronto e à disposição para ser adaptado do que pela animação em si. Mas essa não é a única fonte de desapontamento, já que o roteiro, exatamente por tentar viver por seus próprios méritos, sem se apropriar de obras escritas principalmente por Goscinny, não consegue criar liga suficiente para justificar essa escolha, o que acaba gerando uma história que não consegue preencher sua duração com elementos narrativos realmente interessantes.

Asterix e o Segredo da Poção Mágica (Astérix: Le Secret de la Potion Magique – França/Bélgica, 2018)
Direção: Alexandre Astier, Louis Clichy
Roteiro: Alexandre Astier, Louis Clichy, Joël Savdie, Mariette Kelley
Elenco: Christian Clavier, Guillaume Briat, Bernard Alane, Daniel Mesguich, Lévanah Solomon, Alex Lutz, Alexandre Astier, Elie Semoun, Gerard Hernandez, Lionnel Astier, François Morel, Florence Foresti, Arnaud Léonard, Olivier Saladin, Philippe Morier-Genoud
Duração: 87 min.

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