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Crítica | Assassinato no Espelho

Tentando ser estiloso.

por Luiz Santiago
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Em certo ponto de Assassinato no Espelho, eu fiquei me perguntando qual era a real intenção dos diretores Jean Josipovici e Ambrogio Molteni com esse filme. Isso porque tanto a direção quanto o roteiro parecem muito mais preocupados em fazer comentários morais indiretos do que verdadeiramente desenvolver pontos dessa história que poderiam, sim, transformá-la em um bom filme. Mas esse desenvolvimento, infelizmente, nunca acontece. 

De maneira aproximada, lembrei-me aqui da ambientação de E Não Sobrou Nenhum, e me parece que o livro teve algum tipo de influência sobre o roteiro, embora a única coisa boa realmente aproveitada aqui é o medo causado pelo confinamento e, no geral, toda a dinâmica de uma narrativa claustrofóbica – especialmente porque os cineastas usam muito bem o espaço cênico e alguns objetos dele (como as estátuas e os espelhos) para complementar o medo. Esse aproveitamento gera algumas cenas muito boas, que alinhadas aos pontos de maior tensão da história, ainda na procura pelo assassino, garantem momentos isolados de tensão e diversão para o espectador. 

O que frustra, porém, é o abandono de linhas narrativas que poderiam desembocar em situações muito boas, no final. Há até uma sequência sobrenatural aqui, ainda na primeira parte do filme, que acontece para expor o aviso de perigo, mas que depois não tem mais nenhuma presença na narrativa. Outra mudança que também parece estranha é a do clima festivo e altamente libidinoso do início (trazendo alguns dos momentos mais constrangedores e mal atuados que eu já vi no cinema) para uma espécie de letargia macabra servindo de estudo de personagem. Podemos pensar uma dúzia de maneiras diferentes pelas quais o filme poderia ter começado e que nos introduziria de forma bem menos vergonhosa esse grupo de jovens passando um final de semana em um estranho castelo.

Quanto ao elenco, dá-se um tratamento bem pífio às personagens femininas e uma atenção bem maior aos personagens masculinos, criando uma das disparidades dramatúrgicas mais ridículas do longa. Notem como todos os homens possuem elementos externos à sua aparência, libido e questões simplórias, indo do viciado em jogo ou do voyeur, até alguém que luta contra problemas psicológicos, ponto narrativamente bem relacionado com o personagem do canastrão Michel Lemoine (Riccardo). Por outro lado, as mulheres são apenas “seres sexualizados, estúpidos e super-emotivos”, representação que irrita e torna difícil passar por determinadas partes da obra, onde a estupidez e a superficialidade das mulheres reinam nas cenas. 

Pelo menos o plot de Assassinato no Espelho faz sentido. Claro que estamos falando de uma história fraca e mal executada, mas ainda assim, ela encontra senso no problema que cria e resolve. Em se tratando de uma obra da fase inicial do giallo, confesso que não esperava muita coisa além disso, e como citei no decorrer do texto, existem pontos do longa que os diretores conseguiram abordar bem. Em contrapartida, o elenco não ajuda em nada a prender a nossa atenção, e o desenvolvimento da trama encadeia algumas cenas boas ou aceitáveis com uma porção de outras que são a pura representação da vergonha alheia e da aleatoriedade. Daqueles filmes ruins e irritantes que a gente encontra em nossa cinefilia.        

Assassinato no Espelho (Delitto Allo Specchio / Death on the Fourposter / Sexy Party) – Itália, França, 1964
Direção: Jean Josipovici, Ambrogio Molteni
Roteiro: Jean Josipovici, Giorgio Stegani
Elenco: John Drew Barrymore, Gloria Milland, Luisa Rivelli, Antonella Lualdi, Michel Lemoine, Mario Valdemarin, Joe Atlanta, Massimo Carocci, Alberto Cevenini, Maria Pia Conte, Giuseppe Fortis, José Greci, Vittoria Prada, Monique Vita
Duração: 90 min.

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