Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | As Três Máscaras do Terror (Black Sabbath – As 3 Faces do Medo)

Crítica | As Três Máscaras do Terror (Black Sabbath – As 3 Faces do Medo)

Uma antologia macabra.

por Luiz Santiago
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Em termos de cronologia do giallo, podemos dizer que a grande preparação, o lançamento das principais sementes e o impulso estético e dramático do gênero vieram em dose dupla pelas mãos do diretor Mario Bava, que em fevereiro de 1963 lançou A Garota Que Sabia Demais, e em agosto do mesmo ano completou a dose com o primeiro ato de As Três Máscaras do Terror. A obra é uma antologia de três curtas-metragens, todos assinados por Bava, e que mente descaradamente sobre adaptar aventuras macabras da literatura. Mas a coisa não é bem assim não.

O Telefone, por exemplo, foi provavelmente inspirado em O Medo e O Horla, e não em um suposto conto chamado O Telefone, de Guy de Maupassant. Já O Wurdulak é mesmo levemente baseado em A Família do Vurdalak, de Aleksei Tolstói — entretanto, os créditos de abertura iludem o público, uma vez que indicam apenas o sobrenome do autor, fazendo com que se pense automaticamente em Lev Tolstói, autor de Guerra e Paz. Já A Gota D’Água, supostamente escrito por Anton Tchekhov, na verdade é a versão de Mario Bava para Dalle Tre Alle Tre e Mezzo (ou Das Três às Três e Meia), de Franco Lucentini. Cada uma das tramas recebe um tratamento visual muito particular, imperando em todo o filme uma atmosfera densa, de medo à espreita, e o cineasta é muito eficiente em usar isso para fortalecer os enredos.

A unidade, aqui, vem inicialmente por um grande cuidado da direção de fotografia, que é assinada por Ubaldo Terzano (que trabalharia com o diretor outras três vezes: em O Chicote e o Corpo, em Seis Mulheres Para o Assassino e em A Estrada Para o Forte Álamo), mas Bava, que já vinha em uma longa caminhada nessa função, também foi responsável pela iluminação de inúmeras sequências da obra, o que ajuda a explicar o belíssimo e gótico exagero de cores que ele imprime aos curtas, especialmente no segundo e no terceiro, que são os mais bem polidos da trilogia. No caso do primeiro, O Telefone, temos o único giallo do grupo, com direito a reviravolta no final e uma paleta de cores em tons térreos que é muito bem trabalhada, e que serviu perfeitamente ao ambiente sufocante de uma mulher ameaçada de morte por um ex-parceiro recém fugido da prisão. O final não é exatamente aplaudível, porque falta fôlego dramático (sem trocadilhos), mas certamente deixa impressa a sua marca como um exemplar do giallo.

O Wurdulak é o grande espetáculo visual da tríade, e ainda traz Boris Karloff no papel de Gorca (uma baita interpretação do ator), patriarca de uma família de recém convertidos em bebedores de sangue. É um filme gótico, que se passa na Sérvia, no século XIX, e possui a melhor construção de atmosfera em As Três Máscaras do Terror, com destaque para a alternância entre a iluminação azul, verde e vermelha nos rostos dos personagens. Por fim, A Gota D’Água, que se passa na década de 1910 e conta a história de uma médium que morre — exibindo uma horrenda face contorcida –, e de uma enfermeira é convocada para vestir o cadáver. O que eu mais gostei nessa história foi de sua estrutura cíclica, dando a entender que a morte e os tormentos das personagens continuarão acontecendo, enquanto o anel continuar sendo roubado. E claro, não posso deixar de citar as cenas em que o fantasma da médium aparece em diversos lugares da casa da enfermeira. Uma incrível demonstração de controle do ritmo cênico por parte do diretor, sustentando o medo até o seu ataque final.

O crime, no primeiro curta, e o horror sobrenatural nos outros dois, conseguem mostrar muito bem aquilo que Bava queria com esta coletânea, ou seja, mostrar como eventos macabros podem atingir a vida das pessoas em diferentes momentos da História. Como sempre, o grande destaque da fita vai para a parte estética, em primeiro lugar a fotografia, depois a trilha sonora. Mas as histórias aqui, principalmente a do Wurdulak, deixam plantada no público uma semente de reconhecimento desse medo que pode surgir em qualquer lugar, e por qualquer meio.

Black Sabbath – As Três Máscaras do Terror / As 3 Faces do Medo (I tre volti della paura) — Itália, França, EUA, 1963
Direção: Mario Bava
Roteiro: Mario Bava, Marcello Fondato, Alberto Bevilacqua (baseado em obras de Aleksei Tolstói, Guy de Maupassant e Anton Tchekhov)
Elenco: Michèle Mercier, Lidia Alfonsi, Boris Karloff, Mark Damon, Susy Andersen, Massimo Righi, Rika Dialyna, Glauco Onorato, Jacqueline Pierreux, Milly, Harriet Medin, Gustavo De Nardo, Milo Quesada, Alessandro Tedeschi
Duração: 92 min.

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