Equipe: 6º Doutor, Peri
Espaço: SS Orcus, Megaptera
Tempo: Futuro Distante
The Song of Megaptera é uma história que percorreu um longo caminho até finalmente ver a luz do dia. O roteiro, então intitulado The Song of Space Whale foi escrito por Pat Mills inicialmente para os quadrinhos da DW Magazine, mas a esposa de Mills teria ficado tão impressionada com a história que sugeriu ao marido que ele apresentasse a história para o escritório de produção da série, então recentemente assumido por Jonathan Nathan Turner. E assim foi feito, mas Turner acabou recusando a história, que não entrou na 18ª Temporada, a última do 4º Doutor. Dois anos depois, a história quase foi aprovada para integrar a 20ª Temporada, em uma versão que teria sido usada inclusive para apresentar um novo Companion, Turlough, mas Turner acabou optando por Mawdryn Undead. Um tempo depois, com o Sexto Doutor de Colin Baker já no comando, o roteiro foi finalmente aprovado para integrar a 23ª Temporada, mas em mais um golpe de azar, o programa foi posto em hiato, e a temporada teve que ser completamente reescrita. Foi só quase 30 anos depois da primeira versão desse roteiro ter sido escrita que a história de Pat Mills finalmente pode chegar ao público através da Big Finish, agora rebatizada como The Song of Megaptera.
Na trama, ao atenderem a um pedido de socorro, o 6º Doutor e Peri acabam se deparando com a nave baleeira SS Orcus, que está no encalço de uma gigantesca baleia espacial, espécie que, neste período do tempo, já está em risco de extinção. Ao mesmo tempo em que tentam sabotar as tentativas do Baleeiro de capturar a baleia Megaptera, o Doutor e Peri precisam lidar com uma misteriosa criatura que está escondida nas entranhas do SS Orcus.
The Song Of Megaptera é uma divertida trama de consciência ecológica bastante direta em seus comentários. Em suas duas primeiras partes, a trama poderia perfeitamente se passar em um baleeiro normal, se não fosse a presença do divertido computador de bordo da nave, que após ser reprogramado pelo Doutor, desenvolve duas personalidades bem distintas ao longo da narrativa, ambas hilárias. A partir dos dois episódios finais, entretanto, o arco assume uma natureza mais fantástica, ao explorar a relação do animal com a TARDIS, além de uma sociedade inteira que tem vívido há décadas no interior da Megaptera, ainda que esse núcleo acabe se revelando o mais desinteressante do áudio, roubando muito de seu ritmo.
O arco realmente traz a sensação de uma Lost Story, não só por trazer aquela atmosfera distópica e agressiva típica dos anos de Colin Baker na série, mas também por suas temáticas, que mesmo permanecendo atuais, eram especialmente significativas para os anos 80. Podemos perceber isso através das analogias em relação às preocupações reais sobre a extinção das baleias, ou a metáfora para as tensões sindicais na Inglaterra, proporcionadas pelas políticas da então primeira-ministra Margaret Thatcher, simbolizadas aqui por uma crise de desemprego na Terra que força muitas pessoas a embarcar nas naves baleeiras, não tendo as melhores condições de trabalho ou acordos vantajosos com os seus empregadores.
O arco é dividido em dois momentos distintos, com seu ponto alto estando localizado nas duas primeiras partes. Há um clima de tensão bem desenvolvido em torno da criatura à solta na nave, enquanto temos um elenco de coadjuvantes que, mesmo não sendo memorável, consegue entreter. Há uma dupla de baleeiros atrapalhados que fornecem um bom alívio cômico para a história, ao mesmo tempo em que as alfinetadas entre o Doutor e o Capitão Greeg dão um tom ácido para a trama e corroboram os comentários sociais e ecológicos do roteiro. A química entre o 6º Doutor e Peri também está tinindo, e a passagem onde a Companion é arranhada pela criatura de origem fungoide, entrando numa alegre viagem de cogumelos é divertidíssima, com Nicola Bryant parecendo estar divertindo-se pra valer ao interpretar Peri chapada.
A história, entretanto, acaba perdendo o foco a partir da segunda metade, quando o roteiro insere uma sociedade vivendo dentro da baleia Megaptera, enquanto a verdadeira natureza e objetivo da criatura fungoide, chamada the caller é revelada. Esses episódios finais possuem os seus bons momentos, especialmente aqueles envolvendo a obsessão do Capitão Greeg em capturar a Megaptera (na inevitável referência ao clássico Moby Dick), que gera bons enfrentamentos com o Doutor. Mas infelizmente, as ideias em torno do roteiro de Pat Mills começam a brigar por atenção nessa reta final, não sendo muito bem articuladas (o núcleo do interior da baleia é especialmente bagunçado). Apesar desse problema, este é um arco ainda muito gostoso de se ouvir, especialmente pelo bom trabalho de seu elenco. Como já dito, os dois protagonistas estão muito à vontade, não só tendo uma excelente química cômica, mas ganhando alguns momentos mais intensos em suas discussões sobre a importância de se preservar as baleias. John Benfield entrega uma performance sólida como o Capitão Greeg, transmitindo bem a amargura do personagem, e a sua crescente obsessão ao longo da narrativa.
Ainda que tenha uma segunda metade desorganizada, The Song of Megaptera consegue concluir a sua narrativa de forma satisfatória. O audiodrama explora a contento os seus principais pontos temáticos, e conta com personagens muito divertidos. Levou quase trinta anos, mas o roteiro de Pat Mills finalmente chegou ao público de alguma forma, resultando em um bom arco, mas que nos deixa com a impressão que poderia ter sido um pouco melhor.
The Lost Stories 1X07: The Song of Megaptera (Reino Unido, Maio de 2010)
Direção: John Ainsworth
Roteiro: Pat Mills
Elenco: Colin Baker, Nicola Bryant, John Benfield, Neville Watchurst, John Banks, Susan Brown, Toby Longworth, Alex Lowe
Duração: 100 Minutos