Publicada pela DC Comics em três edições, entre setembro e novembro de 1981, a minissérie As Crônicas de Krypton tinha uma estranha “missão tardia” de ampliar para o leitor as informações sobre o planeta natal do Superman (tarefa executada com maior foco na minissérie Mundo de Krypton, lançada em 1979) e sobre a família original do herói, não apenas seu pai e sua mãe, da qual os leitores já tinham muitas e distintas informações vindas das Eras de Ouro, Prata e Bronze, mas de muitas e muitas gerações anteriores. Em outras palavras, era a hora e a vez de a DC arriscar um pouco na estrutura da árvore genealógica da família El.
Escrita por E. Nelson Bridwell (co-criador do Sexteto Secreto), a minissérie começa com uma reunião no Planeta Diário, onde Clark Kent e Morgan Edge são chamados por Perry White no escritório na Galaxy Broadcasting. O editor está pensando em um novo tipo de produção jornalística e quer entregar a missão pessoalmente. Ele elenca Clark para fazer uma pesquisa detalhada sobre as raízes familiares do Superman, esperando que o livro que deverá surgir dessa pesquisa seja um sucesso de vendas. Clark fica intrigado ao receber a tarefa e, mais tarde, assume para si mesmo que nem ele conhece exatamente os detalhes de sua árvore genealógica. É preciso investigar. E aí está o centro de toda a minissérie, exposto de maneira rápida, logo nas primeiras páginas da edição de estreia. O leitor sabe exatamente o produto final da investigação e tem em mente mais ou menos o trajeto que Kal precisa percorrer. Eis aí o ponto onde a minissérie começa a falhar.
A premissa para a reportagem do Superman é, de imediato, atrativa. Não dá para ficar indiferente a uma proposta que quer mostrar a árvore genealógica de um personagem como o Superman. Todavia, os meios que o roteirista encontra para fazer com que isso aconteça é que impedem que a história seja realmente interessante, a começar pela colocação extremamente conveniente de Kara na história. Uma jornada solo faria muitíssimo mais sentido para Kal, já que ao longo de todo o texto, quando eles enfim chegam ao planeta [agora nomeado Rokyn, antes, “Novo Krypton”] onde Kandor foi aumentada/desengarrafada (na emocionante e ao mesmo tempo triste Superman #338, uma história de Len Wein), Kara fica apenas como uma observadora casual. Seu forçado momento de ação na história é, na verdade, um desvio narrativo imperdoável do autor, que insiste em colocar um perigo momentâneo, encenado, como cortina de fumaça, por Zora Vi-Lar (Black Flame). A ação é fraca, não tem nada a ver com a história, é mal introduzida, mal desenvolvida, mal finalizada e atrapalha o que realmente importa, a pesquisa genealógica da Casa El. Tudo isso para Kara ter o que fazer enquanto Superman realiza “viagens em projeção” pela vida de seus antepassados. Pode, isso?
Um outro ponto problemático é o modelo que o autor escolheu para narrar a história. Talvez a arte pouco inspirada de Curt Swan e a finalização de Frank Chiaramonte tenham um peso nisso também, mas um bom roteiro conseguiria fazer algo muito melhor, independente das escolhas visuais dos desenhistas. No momento em que começa a visitar seus antepassados, Kal vai do ponto mais próximo a ele, considerando a linha do tempo do planeta, até o momento mais distante, muito depois do retorno dele e da Supergirl para a Terra e a tentativa de chegar ao “primeiro El”. Nessa jornada, existem confusões demais. O leitor tem dificuldade de entender o por quê de alguns dramas representados (isso só fica claro na edição final, focada em desenvolvimento bélico e tecnológico/civilizacional) e em fixar os primeiros momentos da História da família. Talvez uma caminha cronológica, do ponto mais antigo até o mais recente funcionasse melhor. Como existem interrupções em demasia na trama, o retorno para esses momentos seria melhor abstraído, o que não acontece no formato adotado aqui pelo autor.
Então entra a falha da arte. Embora a revista não tenha um projeto visual que podemos caraterizar como “ruim”, Curt Swan deixa muito a desejar na representação dos tempos históricos de Krypton, com pouquíssimas diferenças entre rostos, roupas e até tecnologia básica encontrados nas viagens da primeira revista. Se há uma falha no esquema narrativo, a arte também tropeça ao evitar contrastes, o que me parece uma coisa bastante absurda, dada a liberdade (mesmo com os “limites cronológicos da DC” — como se isso realmente existisse) para retratar essa sociedade. Um outro ponto estranho é a similaridade que o crescimento de Krypton tem com o Planeta Terra. E aí não é nem um problema de se adequar ao que veio antes na editora, é falta de imaginação mesmo. O único ponto da minissérie onde essa abordagem funciona é na edição #3, porque o ponto religioso em desenvolvimento tem um melhor tratamento de personagens, sem diálogos truncados e sem uma imitação pouco interessante de períodos da Terra, “dos mais recentes para o mais antigos”, entre as Grandes Navegações e o início das Grandes Civilizações. Mas a minissérie é divertida em muitos pontos e pelo menos traz aquilo que promete. Contudo, até o seu encerramento, há muita lombada em palavra e imagem que o leitor não precisava encarar.
Krypton Chronicles (EUA, 1981)
Roteiro: E. Nelson Bridwell
Arte: Curt Swan
Arte-final: Frank Chiaramonte
Cores: Carl Gafford
Cores: Ben Oda
Capas: Rich Buckler, Dick Giordano, Ross Andru
Editoria: Julius Schwartz
72 páginas