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Crítica | As Cicatrizes de Drácula

O filme que representa a transição final de qualidade dos vampiros da Hammer.

por Leonardo Campos
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Desde o lançamento do interessante O Vampiro da Noite, a Hammer estabeleceu um império vampiresco com diversas produções voltadas ao potencial do personagem Drácula, do escritor irlandês Bram Stoker. Emulando traços da sedução estabelecidos pelo vampiro na era dos monstros da Universal, o estúdio trouxe Christopher Lee num desempenho dramático que mixava caricatura, sedução e sanguinolência e criou uma linha de filmes que apresentavam as artimanhas do icônico conde em cores vivas, altas doses de erotismo, mulheres mergulhadas na sexualidade e cenas de violência consideravelmente proibidas para a grande aceitação da crítica na época, ficando o deleite para o público, nicho mais importante para os realizadores, afinal, era quem pagava os ingressos para conferir as sequências quase intermináveis e absurdas. Com As Cicatrizes de Drácula, temos uma demarcação exata do declínio dos padrões de qualidade do ciclo envolvendo a mais famosa criatura da noite, não exatamente em seus aspectos estéticos, mas no desenvolvimento do enredo e nas escolhas dramáticas em geral.

Sob a direção de Ray Ward Baker, cineasta guiado pelo roteiro de Anthony Hinds, As Cicatrizes de Drácula inicia a sua narrativa com planos gerais do castelo do vampiro. Num breve preâmbulo situacional, corta para a tumba do conde, aniquilado no filme anterior. Um morcego lhe traz sangue, extraído de onde ainda nós não sabemos. A substância é o ingrediente responsável por lhe trazer de volta ao mundo dos vivos. Com este renascimento das cinzas para atormentar os moradores de um pequeno vilarejo nas imediações do castelo, sabemos que o dia ensolarado com personagens que cantarolam, na cena seguinte, é um momento com duração limitada. Paul (Christopher Matthews) foge da guarda real após ter se envolvido com a filha do prefeito, que desaprova a união, se mantendo escondido no castelo, sem saber que encontrará o vampiro por lá e terá a sua jornada modificada para o resto da vida.

Considerado como um dos mais violentos da Hammer, As Cicatrizes de Drácula não traz as ligações iniciais com o desfecho do filme anterior. E, para aumentar a contagem dos aniquilados pelo vampiro, temos o irmão mais velho de Paul, Simon (Dennis Waterman) e sua bela noiva, a loira e sensual Sarah (Jenny Hanley), dupla que parte em busca do fugitivo e também encontrará Drácula e seu servo, Klove (Patrick Throughton), pelo caminho. Neste festival de momentos tensos mixados com cenas bizarras, temos a destruição de uma igreja na aldeia, cena acima do razoável ao se estabelecer impactante, bem como os momentos de fúria e sanguinolência do vampiro de Christopher Lee, aqui silencioso e acompanhado por caretas que o tornaram uma curiosa caricatura, imagens que provocam riso involuntário ao longo dos 95 minutos de filme.

Com algumas cenas de morcegos em ação quem lembram vagamente Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, As Cicatrizes de Drácula, como mencionado lá na abertura do texto, perdeu qualidade em sua estrutura dramática, mas visualmente mantém os elementos similares do gótico dos filmes anteriores. James Bernard, compositor de toda a jornada do vampiro no território da Hammer, entrega uma trilha sonora fincada nos padrões definidos desde o primeiro filme desta jornada, sem grandes novidades, o que não impede a textura percussiva de ser funcional para o que contemplamos na visualidade sombria da direção de fotografia de Moray Grant e no design de produção de Scott MacGregor, ambos esforçados na manutenção da atmosfera de horror dentro de um esquema exaurido ao longo das produções anteriores: corredores sombrios, lugares abandonados, forte simbologia cristã em paralelo aos ícones do macabro, dentre outros adereços que compõem uma perspectiva narrativa gótica.

A saga, por sua vez, ainda continua em Drácula no Mundo da Minissaia.

As Cicatrizes de Drácula (Scars of Dracula, Reino Unido – 1970)
Direção: Roy Ward Baker
Roteiro: Anthony Hinds
Elenco: Christopher Lee, Dennis Waterman, Jenny Hanley, Christopher Matthews, Patrick Troughton, Michael Gwynn, Michael Ripper, Wendy Hamilton, Anouska Hempel, Delia Lindsay, Richard Durden
Duração: 95 min.

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