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Crítica | As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl

por Ritter Fan
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Robert Rodriguez é um cineasta de sorte. Se olharmos sua filmografia, notaremos muito facilmente que ele basicamente faz o que lhe dá na telha, sem muita preocupação com retornos financeiros ou em entregar obras perfeitamente acabadas, ainda que, aqui e ali, seja possível destacar algumas verdadeiras maravilhas como Sin City: A Cidade do Pecado ou trasheiras muito divertidas como Um Drink no Inferno. Sua veia infantil, iniciada pela série Pequenos Espiões, em 2001, ganhou uma versão super-heróica em 2005 com As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl, filme feito para surfar também no renovado interesse no cinema 3D, mesmo que ainda com a ultrapassada tecnologia dos anos 50, algo que só mudaria, mas não necessariamente para melhor, em 2009, com Avatar.

Em poucas palavras, o longa infantil de Rodriguez tendo as então crianças Cayden Boyd, Taylor Lautner e Taylor Dooley, é uma ruindade inegavelmente simpática. A simpatia vem, primeiro, da premissa clichê, mas sempre importante, sobre a contraposição de sonhos e realidade e como fazer para um tornar-se o outro e, em segundo, da imaginação que o cineasta demonstra ter e que ele disse – e é perfeitamente crível que tenha sido assim – que teria vindo de seus filhos em grande parte. A ruindade, por seu turno, vem de praticamente todo o restante.

Se o rápido prelúdio que conta a origem “mogliana” de Sharkboy (Lautner) promete uma narrativa interessante exatamente pela criatividade que demonstra em poucos minutos, o ritmo muito rapidamente degringola quando o foco passa a ser no garoto sonhador Max (Boyd) que, sofrendo bullying na escola, encontra refugio em seus sonhos, tendo que impedir a destruição do Planeta Drool com a ajuda da dupla Sharkboy e Lavagirl (Dooley). A estrutura básica do mundo real ser repetido no mundo dos sonhos é algo que funciona da maneira mais basal possível, com um roteiro que não procura trazer nenhum grau de sofisticação. E, antes que os roladores de olhos de plantão venham dizer que “é um filme feito para crianças” e que, portanto, não há razão para algo complexo, vale lembrar que há uma infinidade de obras criadas para exatamente o mesmo público que não simplificam o roteiro ao ponto de ele ser uma sucessão didática de diálogos ruins acompanhado de sequências aleatórias. A idade baixa do público-alvo não é e nunca foi passe livre para fazer qualquer coisa.

O CGI já nasce ultrapassado e, mesmo para um filme de baixo orçamento (que nem é tão baixo assim, já que custou 50 milhões de dólares), desaponta praticamente do começo ao fim mesmo quando usa tecnologia de décadas como chroma key ou pinturas matte. No entanto, cabe ressaltar que a computação gráfica é o menor dos problemas de As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl, pois uma história bem construída, com personagens interessantes e um elenco de qualidade poderiam muito facilmente compensar esse aspecto.

Mas o filme não tem nada disso. Mesmo se conseguirmos ultrapassar, com muita boa vontade (muita mesmo), os problemas de um roteiro mal-ajambrado construído ao redor de jogo de palavras e de situações repetidas ad nauseam, temos que encarar um fato difícil de ser ignorado: o elenco infantil é um dos piores que já singrou as telonas. Não consigo nem colocar a culpa integral na direção de atore de Rodriguez, pois a questão não está somente com um ou outro jovem talento, mas sim cada um deles e, de quebra, também com os adultos. Sei muito claramente que os personagens são, basicamente, caricaturas, mas mesmo em casos assim, quando o ator ou atriz mirim sabe fazer mais do que apenas cara feia, nuanças dramáticas são perfeitamente detectáveis. Aqui, elas simplesmente não existem e o que vemos na tela é o que há, sem mais, nem menos, o que talvez explique o porquê de nenhum dos três principais terem tido carreiras prolíficas (e não, o lobinho da saga Crepúsculo nem de longe faz de Lautner um ator de verdade).

Mesmo com tanto problema, o longa é, como eu disse, simpático. Rodriguez sem dúvida é um cineasta que demonstra muito amor por seu ofício e isso transparece até mesmo em sua piores obras, como é o caso aqui. Há uma camada bem leve de inocência e bobeira que é capaz de esquentar corações. O problema é que, quando enxergamos além dessa camada, o que notamos é um longa que não parece ser muito mais do que uma sucessão dos rabiscos de Max em seu caderno.

As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl (The Adventures of Sharkboy and Lavagirl – EUA, 2005)
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: Robert Rodriguez
Elenco: Cayden Boyd, Taylor Lautner, Taylor Dooley, David Arquette, Kristin Davis, George Lopez, Jacob Davich, Sasha Pieterse
Duração: 93 min.

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