Número de temporadas: 04
Número de episódios: 144
Período de exibição: 26 de Setembro de 1955 até 1º de março de 1959
Há continuação ou reboot?: O filme Robin Hood – O Invencível (Sword of Sherwood Forest, 1960) é derivado desta série.
As Aventuras de Robin Hood foi uma versão icônica da televisão britânica para a lendária história do fora-da-lei que roubava dos ricos para dar aos pobres. Criado por Hannah Weinstein, o programa estreou em setembro de 1955 e se destacou por oferecer oportunidades a diversos roteiristas da “lista negra de Hollywood”, perseguidos e proibidos de trabalhar em seu suposto “país da liberdade”, apenas por serem ou estarem ligados ao partido comunista. A orientação política de Hannah Weinstein também influenciou a série, que adotou uma abordagem dramaticamente inclinada à esquerda, retratando de forma crítica a relação entre a nobreza, as autoridades, os camponeses e outros cidadãos comuns na Inglaterra do século XII, durante o reinado de Ricardo Coração de Leão, cenário da narrativa.
Embora apresente falhas, este episódio piloto (escrito por Ring Lardner Jr., um dos perseguidos pelo Macarthismo, utilizando dois pseudônimos — um para as cartelas exibidas na Inglaterra e outro para os Estados Unidos) equilibra o espírito aventureiro de Robin Hood com uma marcante aura de justiça social. Em sua simplicidade, o episódio cativa o público de forma eficiente ao entrelaçar elementos de drama novelesco, como vingança, injustiça, corrupção, insensibilidade dos donos das terras, desrespeito a acordos e um “vigilantismo do bem” que define a origem do protagonista. Nesse contexto, Robin de Locksley (Richard Greene, em boa atuação), um caloroso nobre saxão que retorna das Cruzadas, é forçado a se tornar um fora-da-lei na lendária Floresta de Sherwood.
A construção do protagonista se destaca desde o início, com a série oferecendo a Robin Hood um contexto emocional rico e um arco de desenvolvimento multifacetado, sem recorrer ao clichê romântico — o que é um alívio. Sob a direção de Ralph Smart, há um esforço evidente em explorar as motivações do habilidoso arqueiro, ainda que sua perícia com o arco nem sempre seja favorecida pelos ângulos escolhidos. Mais do que um herói carismático, Robin Hood é apresentado como um homem marcado por dilemas morais e pessoais, alguns apenas sugeridos, mas o suficiente para despertar a curiosidade do espectador. Essa abordagem estabelece uma base sólida, essencial para criar a empatia do público.
É claro que o episódio apresenta falhas na continuidade e na montagem, especialmente em transições abruptas e impactantes entre cenários — como do interior de um castelo para uma floresta. No entanto, essas questões não comprometem irreversivelmente a narrativa, permitindo que o episódio se recupere ao longo de sua duração. Entre os pontos fortes, destaca-se a inclusão de conteúdo original, uma das marcas da série, que explora aspectos das relações sociais e políticas com potencial para maior desenvolvimento nos capítulos seguintes. Contudo, o maior desafio reside na conclusão. Com um formato curto, a série enfrenta limitações de tempo para desenvolver e resolver os arcos narrativos. O desfecho, embora funcional, carece de impacto dramático. A história termina de forma abrupta, apenas com Robin entrando em contato com os foras-da-lei que habitam a Floresta de Sherwood. Apesar de ser um momento crucial para o avanço da trama, ele não atinge a intensidade emocional esperada após um início tão promissor.
Para muitos espectadores, porém, essas limitações têm pouco peso. A série foi um grande sucesso e estabeleceu um marco na forma de retratar Robin Hood na televisão. A direção e a ambientação, em certa medida, compensam algumas de suas falhas, com destaque para as cenas ambientadas em Sherwood. Elas evocam uma atmosfera simultaneamente encantadora e tensa, contribuindo para o charme da produção. A direção de arte e os figurinos, apesar de algumas liberdades estilísticas e de uma visão parcialmente genérica, refletem um compromisso impressionante com a fidelidade histórica, especialmente para uma produção de recursos limitados nos anos 1950.
The Adventures of Robin Hood é uma série que, mesmo com suas limitações estruturais, merece reconhecimento por sua abordagem pioneira e envolvente do lendário herói inglês. Seu equilíbrio entre aventura e drama, aliado a uma boa caracterização do protagonista, oferece uma base sólida para o restante da produção. Apesar de um episódio piloto longe da perfeição, a obra cativa pela simplicidade e pela ousadia de reimaginar uma lenda tão rica nas telas, com criatividade e um toquezinho de coisas novas.
As Aventuras de Robin Hood – 1X01: The Coming of Robin Hood (The Adventures of Robin Hood) — Reino Unido, 26 de Setembro de 1955
Criação: Hannah Weinstein
Direção: Ralph Smart
Roteiro: Lawrence McClellan (nas cartelas dos EUA), Eric Heath (nas cartelas do Reino Unido), ambos pseudônimos de Ring Lardner Jr.
Elenco: Alan Wheatley, Leo McKern, Gerard Heinz, Alfie Bass, Norman MacOwan, Susan Richards, Willoughby Gray, Gabriel Toyne, Richard Greene, Diana Beaumont, Sandy Becker, John Drake, Bruce Seton, Victor Woolf
Duração: 25 min.