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Crítica | As Aventuras de Mark Twain (1985)

por Luiz Santiago
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Talvez a obra mais conhecida e bem acaba de Will Vinton como diretor, As Aventuras de Mark Twain é uma verdadeira pérola da animação. A técnica de stop-motion empregada tem um impacto chamativo imediato sobre o público, e o diretor consegue verdadeiramente fazer mágica com o uso que dá à massa de modelar em cada um dos pequenos atos dessa viagem por tantos lugares reais e imaginados.

O conceito para o roteiro de Susan Shadburne veio de uma fala do escritor Mark Twain sobre uma curiosa ligação que ele acreditava ter com o cometa Halley: “Eu vim com o cometa Halley em 1835. Ele está chegando novamente no próximo ano (1910), e espero sair com ele. Será a maior decepção da minha vida se eu não sair com o cometa Halley. O Todo-Poderoso disse, não há dúvida: “Agora, aqui estão esses dois malucos irresponsáveis, eles vieram juntos, eles devem sair juntos“. O que tornou essa fala mitológica foi justamente o fato de que Twain morreu no dia 21 de abril de 1910, em decorrência de um ataque cardíaco. Um dia depois de o Halley passar mais próximo da Terra.

O que The Adventures of Mark Twain faz é colocar o escritor homenageado e três de seus icônicos personagens (Tom Sawyer, Huck Finn e Becky Thatcher) em um balão explorador à la Júlio Verne, cujo objetivo é encontrar o cometa Halley. A base metalinguística da obra dá suporte à riqueza de eventos, descobertas e aprendizado que esses personagens, que são um arquétipo do público que assiste, têm diante de si, explorando cenários que na verdade são trechos ou variações de histórias escritas por Mark Twain, como As Aventuras de Tom Sawyer, A Célebre Rã Saltadora do Condado de Calaveras, Cartas da Terra (nos esquetes com Adão e Eva), O Estranho Misterioso (no esquete com Satã), A Visita do Capitão Stormfield ao Céu e citações ou referências menores a outros de seus trabalhos.

A oportunidade de encontrar alguém que está literalmente partindo para uma outra dimensão (e isso significa morrer, para nós da Terra) é recebida como um convite à aventura pelas crianças, mas logo essa jornada traz medo, desconfiança e encontros que os fazem perceber detalhes escondidos no meio de um rico trabalho literário, trazendo à tona as características, falhas e manias do grande escritor que acompanham, ao mesmo tempo que aprendem valiosas lições de vida com ele. Cada estágio aqui representado dá a entender um encontro do homem com alguma situação ou persona ao longo da vida, antes de juntar-se ao seu cometa particular e então chegar ao seu céu particular.

Os pequenos atos não começam exatamente com uma boa ligação, mas depois que o espectador entende a premissa narrativa — as aventuras, na obra, acontecem em três distintas dimensões: dos trabalhos do escritor; das crianças numa aventura com ele e do próprio Twain, em avançada idade — o fluxo se endireita e segue tranquilamente, mesmo não se fechando de maneira perfeitamente cíclica. De toda forma, a opção por refigurar esses personagens, transformando-os também em aventura, pode ter sido um tipo diferente de cumprimento de descobertas, com eles e nós mesmos aprendendo algo. Exatamente como acontece com o próprio Mark Twain, em sua linha final de aventuras, encontrando-se com o seu lado negativo, assumindo-se portador de mais de uma faceta e cumprindo o seu destino, deixando um enorme e vivo legado para o mundo.

As Aventuras de Mark Twain (The Adventures of Mark Twain) — EUA, 1985
Direção: Will Vinton
Roteiro: Susan Shadburne, Mark Twain
Elenco: James Whitmore, Michele Mariana, Gary Krug, Chris Ritchie, John Morrison, Carol Edelman, Dal McKennon, Herb Smith, Marley Stone, Wilbur Vincent, Wally Newman, Tim Conner, Todd Tolces, Billy Scream, Bob Griggs
Duração: 86 min.

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