- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.
Certamente abordarei isso com mais detalhes na minha análise mais abrangente da temporada final de Arrow, mas é um tanto desapontador que esse último ano de Oliver Queen como Arqueiro Verde (pois acho que ele voltará como Espectro algumas vezes) seja brindado com episódios que primeiro serviram de armação para o crossover Crise nas Infinitas Terras e, agora, como backdoor pilot para o spin-off que terá sua filha, Mia Smoak (ou Queen), adotando seu manto. A impressão que fica é que pouco se deu atenção ao protagonista e que tudo é apenas parte de uma engrenagem para estabelecer o que virá.
Mas tudo bem. Esse Oliver Queen de Stephen Amell também não é tão importante assim – fora ser o primeiro super-herói do Arrowverse – para que eu fique reclamando muito dessa questão (e ele ganhou lá o foguinho dele no Salão de Justiça dos Superamigos, claro). Apenas estou achando tudo muito disperso e repetitivo, algo que Green Arrow & The Canaries só vem para reiterar. Afinal, como mencionado, esse episódio arma as premissas para o vindouro spin-off que focará primordialmente nas personagens de Katherine McNamara, Katie Cassidy e Juliana Harkavy ao que tudo indica no futuro da Terra Prime pós-Crise, dando algum significado maior para os insuportáveis flashforwards para 2040 que ajudaram a destruir a 7ª temporada da série. Mas essa Star City, aproveitando as mexidas trazidas pela Crise, não é a terra de ninguém originalmente apresentada, mas sim um paraíso que não vê violência há décadas. É, finalmente, o grande legado de Papai Arqueiro.
Lógico que nada é tão simples assim e o episódio não perde tempo em introduzir Laurel Lance, a Sereia Negra (Black Siren) da ex-Terra-2, que viajou para esse futuro para impedir o sequestro e assassinato de Bianca Bertinelli (Raigan Harris), eventos que, de acordo com ela, levariam Star City ao caos. Recrutando Dinah Drake que misteriosamente “acordou” nesse futuro e tornou-se dona de um bar, Laurel parte em seguida para reativar as memórias pré-Crise da Mia Smoak desse futuro usando um dispositivo que conveniente emula os poderes do Caçador de Marte. Isso, claro, gera todo tipo de conflito já que Mia é uma socialite que, nesse futuro, nunca foi treinada em nada e que está noivando com ninguém menos do que J.J., o líder da gangue do Exterminador na realidade pré-Crise.
O estabelecimento do novo status quo, porém, é corrido demais e não se fixa para o espectador, sendo alterado imediatamente pela chegada disruptiva de Laurel. É, basicamente, um incessante derramamento de linhas expositivas de diálogo sem cuidado para efetivamente contextualizar e trabalhar os acontecimentos. Em um minuto temos Mia brigando com Laurel porque ela foi deixada sozinha e poderia não se lembrar com lutar e, logo em seguida, ela vestindo o uniforme de Arqueira e lutando contra uma penca de bandidos e atirando flechas para sair na base da tirolesa do teto de um prédio como se fosse apenas mais um dia na vida dela. Ah, mas isso é detalhe, alguns dirão. Exato. É detalhe. Mas detalhes ajudam a “construir mundos” e o roteiro escrito pelos showrunners e outros dois roteiristas (quatro pessoas para escrever isso é hilário) é inábil em desenvolver de maneira concatenada a premissa da história.
Mas, pior do que isso é notar que a equipe criativa perdeu a oportunidade de fazer algo diferente, de realmente tentar dar o pontapé inicial para uma série que se diferenciasse de Arrow para além do protagonismo da sempre péssima McNamara. Estar no futuro não significa absolutamente nada se esse futuro é, basicamente, a mesma coisa que o passado agora que todo mundo que vivia no 2040 pré-Crise será acordado pelo dispositivo criado por Cisco e, mais irritantemente ainda, com o objetivo de mais uma vez salvar a cidade. A pegada sem graça de “Batman dos pobres” que sempre marcou Arrow continua firme e forte aqui. Digam o que quiserem das demais séries da CW, mas cada uma tem sua assinatura própria e não custava muito deixar Arrow para trás de verdade e estabelecer uma nova forma de contar a história de Mia Smoak e equipe. Afinal, não é possível que a população de Star City seja tão tapada a ponto de não acertar de cara quem é o “misterioso Arqueiro Verde mascarado – mas de silhueta feminina e com longos cabelos loiros – que repareceu na cidade depois de tantos anos”.
Aliás, nem sei se eles realmente perderam a oportunidade, pois isso seria imaginar que eles fizeram “sem querer”. Os showrunners estão simplesmente jogando seguro mais uma vez e aplicando a eterna regra que diz que não se mexe em time que está ganhando. E tenho certeza que muito fã de Arrow ficou como pinto no lixo ao ver que Green Arrow & The Canaries potencialmente será só mais do mesmo, perenizando uma estrutura cansada e ruim que não fica magicamente boa só porque a série “tem audiência significativa”. É a mediocridade pela mediocridade coroada pelo números, já que tentar caminhos novos arrisca a alienação do público cativo.
O episódio piloto da futura nova série, no final das contas, mesmo considerando seus problemas sérios, faz o básico do básico: apresenta a situação e deixa todos os ganchos possíveis para serem trabalhados em intermináveis temporadas. Como parte orgânica da última temporada de Arrow, porém, ele não funciona nem um pouco. No entanto, se o objetivo era perpetuar a mediocridade, então os showrunners estão de parabéns!
Arrow – 8X09: Green Arrow & The Canaries (EUA, 21 de janeiro de 2020)
Showrunners: Marc Guggenheim, Beth Schwartz
Direção: Tara Miele
Roteiro: Beth Schwartz, Marc Guggenheim, Jill Blankenship, Oscar Balderrama
Elenco: Katherine McNamara, Katie Cassidy, Juliana Harkavy, Ben Lewis, Joseph David-Jones, Charlie Barnett, Andrea Sixtos, Raigan Harris, Chad Duell
Duração: 42 min.