- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das temporadas anteriores.
Depois de um começo “chuchu sem sal” em outro universo, Oliver, John e Laurel (essa da Terra-2, agora extinta) acordam em Hong Kong da Terra-1 em meio a um inexplicável tiroteio e com uma nova missão dada pelo Monitor: encontrar um tal de Dr. Robert Wong, o MacGuffin da vez. Mesmo apostando todas as fichas na estrutura de um longo prelúdio para o vindouro crossover Crise nas Infinitas Terras, Marc Guggenheim e Beth Schwartz perdem a chance de fazer algo minimamente diferente, preferindo repetir uma estrutura cansada.
E que estrutura é essa? Nada mais do que pancadarias preguiçosamente coreografadas que são intercaladas por explicações crípticas sobre a “Crise” (essa palavra é dita a cada cinco minutos!), discursos motivacionais de impacto instantâneo (o da vez foi o de Lyla para Laurel que a faz parar de choramingar por seu universo e entrar em ação), diálogos expositivos a toque de caixa que, dentre outras pérolas, chegam ao ponto de fazer com que Tatsu diga algo como “é gás” logo depois que uma bomba de gás é lançada por China White, conveniências narrativas hilárias que fazem materializar computadores ligados com a A.R.G.U.S. onde Oliver está, além dos obrigatórios flashforwards para 2040 com direito às menos inspiradas transições da televisão mundial.
Antes de eu falar do futuro (preciso mesmo?), focarei na trama do presente que não se arrisca em momento algum. Sim, é simpático e nostálgico ver China White e Katana novamente, além da locação na Hong Kong de estúdio com direito a CGI de primeira geração de Playstation como pano de fundo, mas a correria atrás do tal doutor que recriou o vírus Alfa/Omega (que precisa ser acondicionado em um tubo com logotipo próprio, claro) é anticlimática do começo ao fim, sem um segundo sequer em que o espectador seja desafiado a pensar ou mesmo a sentir algum tipo de aflição. Afinal, nem mesmo quando Tatsu é esfaqueada a direção de Antonio Negret transmite sensação de perigo e de perda, logo cortando para uma cena em que tudo está bem novamente.
O único e solitário consolo é que, apesar de o mistério sobre o plano do Monitor ser mantido assim, o fato de Mar Novu ser conhecido por Tatsu e por sua Ordem e de Layla ser revelada como Precursora bem no finalzinho traz elementos que, ainda que muito vagarosamente, ajudam a construir a trama maior de fim do multiverso. É pouco ainda para uma temporada misericordiosamente econômica, mas, pelo menos, o espectador não sai da experiência de mãos abanando.
Sei que prometi falar do futuro, ou seja, das sequências em 2040 com Mia Smoak e companhia limitada, mas confesso que me dá uma canseira danada desses flashforwards. A história é desinteressante, os atores são limitadíssimos e os personagens não criam nenhuma empatia, além de terem zero de química entre eles. Mas há algo de bom nesse futuro que, muito em breve, depois da Crise, será transformado na nova série da Arqueira Verde: na comparação, ele faz a trama no presente ficar melhor do que é. Viu? Consegui enxergar um ponto positivo. 2040 é como o proverbial “bode na sala” na boa e sábia parábola…
Em sua derradeira temporada, Arrow repisa seu passado para tentar ganhar o espectador unicamente com base no fator nostalgia, enquanto que não seria muito difícil acrescentar algumas outras camadas para retirar a série de sua costumeira mediocridade. É como ver uma compilação de “melhores momentos” de uma obra que não pode se gabar de ter muitos deles (se é que tem algum). Se a Crise apagar tudo, não reclamarei…
P.s.: Para que Oliver Queen continua falando com “voz de super-herói” e usando máscara e capuz? Fetiche?
Arrow – 8X02: Welcome to Hong Kong (EUA, 22 de outubro de 2019)
Showrunners: Marc Guggenheim, Beth Schwartz
Direção: Antonio Negret
Roteiro: Jill Blankenship, Sarah Tarkoff
Elenco: Stephen Amell, David Ramsey, Katherine McNamara, Ben Lewis, Joseph David-Jones, LaMonica Garrett, Katie Cassidy, Charlie Barnett, Andrea Sixtos, Audrey Marie Anderson, Rila Fukushima, Kelly Hu
Duração: 42 min.