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Crítica | Arrow – 5ª Temporada

por Ritter Fan
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estrelas 2,5

Obs: Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Quando a quinta temporada de Arrow começou, o que mais li e ouvi por aí – inclusive de leitores aqui do site – é que ela havia melhorado muito. Como deixei acumular vários episódios para ver quase que em uma sentada só, tendo feito uma exceção apenas ao 100º, que fez dobradinha como a parte dois do crossover Invasion!, não tinha como julgar apropriadamente, mas meu pensamento inicial era simples e objetivo: não haveria como os showrunners fazerem algo sequer do mesmo “nível” da tóxica quarta temporada. O proverbial fundo do poço havia sido alcançado e, dali, qualquer coisa que viesse simplesmente tinha que ser melhor.

E melhor a quinta temporada definitivamente é. Mas “melhor” não necessariamente quer dizer “bom” e a série não conseguiu, apesar dos francos esforços, sequer voltar ao nível de sua melhor temporada até agora, que foi a inaugural, ajudada pelo fator novidade e pela coragem de trazer um super-herói assassino, que flechava bandidos sem dó na consciência.

Mas não pretendo, aqui, ficar na comparação com o que veio antes. Pensemos, portanto, na nova temporada em si. Apesar da audiência costumeiramente alta da série, creio que até Greg Berlanti (este empatando com Jerry Bruckheimer o recorde de ser showrunner de 10 séries simultaneamente, mas em breve caminhando para uma 11ª), Marc Guggenheim e Andrew Kreisberg perceberam a curva descendente da série e tentaram repaginá-la, afastando, pelo menos inicialmente, os membros originais do Team Arrow. Com a saída de Arsenal e a morte da Canário Negro, o caminho era terminar de debandar o grupo, com a saída de Speedy como super-heroína mascarada e também a de John Diggle, ou Spartan, que volta para o exército e acaba preso por um crime que não cometeu.

Com apoio apenas de Overwatch, codinome da sempre insuportável Felicity Smoak, Oliver Queen acaba montando uma nova equipe a partir de justiceiros mascarados que surgem do nada – ou quase do nada – para ajudá-lo em sua luta noturna enquanto, de dia, ele faz as vezes de prefeito de Star City. Se já era difícil aceitar a tentativa de Oliver, o solteiro bilionário mais cobiçado do lugar, de manter sua identidade secreta, algo que, na série, funciona em reverso, com mais gente sabendo que ele é o Arqueiro Verde do que não sabendo, agora os showrunners esticam a corda da suspensão da descrença tão absurdamente que torna tudo risível. Afinal, temos um prefeito de desaparece durante dias sem dar satisfação, que, de uma hora para outra, usa o jatinho que a cidade fornece para dar um pulo em Moscou, que se envolve com o crime da cidade como se sua sala fosse uma delegacia de polícia, que segue a escola brasileira da política, com mais cargos baseados em nepotismo que qualquer político fictício e assim por diante. E isso sem ter nenhum pudor em usar suas habilidades atléticas em público, “disfarçado de prefeito”, como se fosse impossível identificar que ele, sempre de barba por fazer, obviamente é o vigilante mascarado.

E quem já está rolando os olhos achando que isso é um detalhe menor, repare que não é. Aceitar que ninguém consegue descobrir que Clark Kent é o Superman no cinema requereu todo um complexo trabalho corporal e de figurino de Christopher Reeve na produção dirigida por Richard Donner. Lá, vemos o cuidado em pelo menos abordar a questão com algum grau de verossimilhança. Em Arrow, não há sequer um pingo de preocupação com isso, com Oliver não alterando em nada sua pose atlética seja como prefeito, seja como vigilante encapuzado. Isso demonstra que, por mais que a série tenha melhorado, ela ainda procura trafegar de maneira rasa nos roteiros, não oferecendo qualquer semblante de desafio intelectual a seu público.

Mas os problemas não param na identidade do herói. O novo Team Arrow transforma o cientista Curtis Holt (tão chato quanto Felicity, aliás) em Mr. Terrific/Senhor Incrível, que, não só de incrível não tem nada, como, assim como nos quadrinhos, usa uma máscara em forma de “T” no rosto que só esconde sua identidade para quem não sabe quem ele é na vida real (e nem vou mencionar aquelas esferas dele, pois meus olhos estão revirando demais enquanto escrevo). Wild Dog/Cão Raivoso (Rick Gonzalez) surge do nada como um vigilante com máscara e camisa de hockey, além de muita vontade de atirar, como alguém para convenientemente lembrar Oliver de como ele era no começo. Ragman/Retalho (Joe Dinicol), por sua vez, é um herói tão poderoso, mas tão poderoso, que ele simplesmente não combina com o resto do time e poderia lidar com todos os bandidos (inclusive Prometheus) facilmente, razão pela qual seus poderes desaparecem e ele é banido lá para o limbo onde vão os personagens de Arrow que precisam sumir por algum tempo, pois os roteiristas não sabem o que fazer…

A nova Canário Negro, Dinah Drake (Juliana Harkavy), merece até um parágrafo próprio, pois ela tem uma das introduções em série mais absolutamente patéticas e mal escritas que já tive o desprazer de testemunhar: basta Oliver, com olhar choroso, desejar uma substituta para Laurel Lance, que, de repente, assim como quem não quer nada, Curtis se lembra de uma “lenda urbana” sobre uma mulher com exatamente os mesmos poderes da falecida heroína que vem atuando há três anos. Santa coincidência, Batman! E pior, pois ela está ao final de uma caçada ao vilão que matou seu namorado, o que permite que o Team Arrow a ajude, além de ela ser uma ex-policial, ou seja, já treinada e pronta para entrar na equipe sem curva de aprendizado e, a cereja no bolo, chama-se Dinah, o mesmo primeiro nome de Laurel. Destino? Profecia? Não. Roteiro imbecil mesmo.

Fica evidente uma falta de planejamento de longo prazo para a série. Ela caminha ao “Deus dará”, sofrendo modificações com ela em movimento, quando, por exemplo, os showrunners não têm o refinamento para lidar com o elenco em expansão, e precisam que personagens desapareçam magicamente por alguns episódios, algo que acontece com Ragman, como já mencionei, mas também com Quentin Lance, pai de Laurel e sub-prefeito, Thea Queen, irmã de Oliver e assistente de relações públicas dele e Susan Williams (Carly Pope), a repórter que quer derrubar o prefeito, mas que, como todas as mulheres da série sem parentesco com Oliver, acaba na cama dele. E fica mais do que claro, também, que simplesmente não há material para 23 episódios. Os fillers são constantes e tomam basicamente metade da temporada, com episódios de mão pesada na lição de moral (estão lembrados da discussão for dummies sobre controle de armas?), aleatórios, que requentam tramas e repetem a cansativa e pouco imaginativa coreografia de luta da série, que pareça feita por um lutador de meia-tigela aposentado ganhando meio-salário mínimo para gritar dicas aos atores e dublês com a ajuda de um megafone. E isso sem contar com toda a trama paralela sem objetivo maior que envolve Felicity com a organização hacker Helix e que, assim como começou, acaba como que em um daquelas bombas de fumaça ninja que são tão usadas na série.

Mas então, como a temporada melhorou, senhor crítico metido à besta?

Simples: arrumaram um vilão principal que, por grande parte da temporada, não quer destruir a cidade como todos os anteriores. Isso, por si só, já é uma novidade, ainda que ele sucumba ao plano maquiavélico “jamesbondiano” de envenenar Star City mais para o final. Prometheus (outro arqueiro, pois vilão de arqueiro precisa ser arqueiro, lógico) tem sua identidade secreta mantida assim por um bom pedaço da temporada de todos os espectadores que nunca assistiram uma série de TV na vida e não puderam deduzir o óbvio ululante: que ele era o procurador do município bonitão (e chato – repararam como só tem gente chata nessa série?) Adrian Chase, vivido por Josh Segarra, ator com a mesma profundidade dramática de Stephen Amell.

Temos um vilão típico dos quadrinhos, ou seja, alguém que tem como objetivo não matar o herói, mas sim atazanar sua vida até que ele (ou o espectador) enlouqueça. Funciona bem até certo ponto, quando descartamos os 15 episódios fillers e focamos no plano mirabolante dele que, como não poderia deixar de ser, tem relação com o passado de Oliver Queen e que Queen é cego demais para chegar próximo de entender (sério, aquele momento em que Prometheus queria uma confissão de Oliver e Oliver não entendia sobre o que demonstra que o personagem deve ter o Q.I. de uma ameba). Seria mais correto afirmar, na verdade, que o grande acerto da temporada não foi o vilão em si, mas sim o que ele representa para a série, ou seja, uma volta ao seu começo, uma circularidade bem vinda à narrativa que utiliza o sempre irritante e interminável sentimento de culpa de Oliver por tudo o que há de errado no mundo a favor de uma história que resvala no interessante e retoma elementos lá do início da jornada.

Aliás, os flashbacks também melhoraram, depois daquele show de horrores que foram os da quarta temporada de volta à Lian Yu atrás de um artefato mágico. Com base na promessa feita à Taiana ao final da temporada anterior, Oliver vai à Rússia para matar Konstantin Kovar (Dolph Lundgren, uma bela surpresa!), mas, para isso, primeiro procura por Anatoli Knyazev, seu amigo dos tempos de Lian Yu vivido pelo sempre simpático David Nykl para ajudá-lo e passa a fazer os testes para entrar para o Bratva, a máfia local. Há muitas idas e vindas nessa parcela dos episódios, mas há um diálogo razoavelmente bem estruturado com a narrativa no presente, ajudando na já referida circularidade. E, quando chegamos ao capítulo final, temos a nítida impressão de que tudo poderia – e deveria – acabar ali, com uma espécie de volta ao começo que encerra a história, mas, claro, somos deixados com um cliffhanger exagerado e que mais do que obviamente não terá as consequências nefastas que Chase esperava, pois, se tiver, a série finalmente demonstrará que cresceu de verdade e que quer se desvencilhar de suas bobajadas, algo que considero tão provável quanto o Flash não enfrentar um vilão velocista na próxima temporada. Afinal, se a audiência está alta sem necessidade de nenhum esforço efetivo para melhor, para que mudar, não é mesmo?

Mas, além da história principal, a narrativa paralela que lida com o passado de Rene Ramirez (o Cão Raivoso) e cria um paralelo – e uma relação de amizade – com a vida de Quentin, tem seu charme e uma boa química entre os dois atores, quase que como um bônus por nos fazer aturar todas as demais frívolas e bobalhonas relações chorosas entre praticamente todo mundo (com especial destaque para a relação não tão platônica entre Oliver e Felicity). Não é material suficiente para tirar a série da mediocridade, mas certamente é um passo na direção certa.

Então sim, Arrow melhorou. E melhorou muito. No entanto, ainda foi uma temporada na melhor das hipóteses mediana, daquela que demora a passar, que se arrasta em razão de seu próprio peso e que trata o espectador como todo personagem que olha para a cara do Arqueiro Verde e não deduz na hora que ele é Oliver Queen…

Arrow – 5ª Temporada (EUA, 05 de outubro de 2016 a  24 de maio de 2017)
Showrunners: Greg Berlanti, Marc Guggenheim, Andrew Kreisberg
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Stephen Amell, David Ramsey, Willa Holland, Paul Blackthorne, Emily Bett Rickards, Echo Kellum, Rick Gonzalez, Joe Dinicol, Carly Pope, Juliana Harkavy, Lexa Doig, Madison McLaughlin, David Meunier, Dolph Lundgren, Chad L. Coleman, Tyler Ritter, Katie Cassidy, Josh Segarra, David Nykl
Duração: 1056 min. (23 episódios)

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