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Crítica | Arranjo de Natal – Minissérie Completa

Uma deliciosa e divertida jornada natalina francesa que supera as expectativas.

por Leonardo Campos
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Para retratar o período natalino e não se dilatar tanto, o formato minissérie me parece o ideal quando a ideia é dividir a narrativa em formatos episódicos. Para Arranjo de Natal, produção francesa do streaming Netflix, a escolha não podia ter sido a mais assertiva. Em três episódios com média de 50 minutos de duração, acompanhamos todos aqueles clichês acerca do perdão, do reencontro e do respeito e amor ao próximo, temas reacendidos quando os festejos natalinos se aproximam. Desta vez, no entanto, além dos lugares mais comuns deste âmbito temático, temos a construção de um roteiro mais envolvente, com piadas mixadas com críticas contundentes aos próprios assuntos abordados, numa demonstração do quão as produções europeias estão bem mais criativas na concepção de tramas focadas na exaltação do espírito natalino, ao menos quando comparadas com as últimas realizações estadunidenses sobre as peripécias durante os encontros de Natal. Dirigida por Nadige Loiseau, guiada pelo texto de Victor Rodenbach, Marianne Levy e Henri Debeurne, esta minissérie de 2021 faz rir e emociona em doses muito equilibradas, numa comprovação da possibilidade de trabalho com o tema natalino sem recorrer ao manancial de elementos já exauridos em outras narrativas do tipo.

Aqui, nos deparamos com dois protagonistas de personalidades intensas. Sim, desde o começo sabemos que o final será feliz, que os obstáculos aparecerão e que o casal vai brigar bastante antes de se estabelecer, mas isso não significa que a jornada não seja construtiva e inteligente, com as coisas acontecendo de maneira orgânica, numa evolução que vai além do básico amor à primeira vista. Ambos formam aquilo que consideramos como dupla improvável. Romance entre os dois? É de duvidar, mas como falamos da magia natalina no terreno ficcional, o amor vai se estabelecer aos poucos, transformando a vida de todos aqueles que gravitam em torno destas duas figuras ficcionais esféricas, situadas muito além dos personagens geralmente planos que compõem a maioria deste tipo de trama. Paris serve como cenário para as pessoas que trafegam por aqui, indivíduos imersos por uma cidade representada com brilhantismo e muita luz, haja vista o excelente trabalho de direção de fotografia, assinado por Julien Hirsch.

Além do aspecto fotográfico eficiente, Arranjo de Natal também conta com um dedicado design de produção, gerenciado por Pierre du Boisberranger, profissional que transforma o tema natalino em algo além do contexto de imersão dos personagens, adornando todos os espaços possíveis e assim, criando a atmosfera de luzes, guirlandas, neve, árvores decoradas, dentre outros símbolos comuns ao universo natalino. Agora, sobre a trama e seus desdobramentos, vamos ao panorama de personagens: o protagonismo fica por conta de Lila (Shirine Boitella) e Marcus (Tayc). Eles compõem dois ambientes totalmente diferenciados. Ela é uma feminista que possui sociedade com duas amigas, criadoras do perfil nas redes sociais e blog As Simones. Consideradas discípulas de Simone de Beauvoir, elas postam, palestram e se dedicam ao processo de reflexão sobre o lugar da mulher na sociedade contemporânea. #Metoo, misoginia, masculinidade tóxica e outras palavras-chave demarcam o cotidiano deste grupo de jovens idealistas.

Assim, como esperar que uma mulher dentro deste padrão de militância se apaixone por um rapper que entoa em todas as suas composições, letras que rebaixam a condição feminina? Essa é a postura de Marcus, um jovem que saiu cedo de casa e entrou para o mundo da música. Levado pelo seu empresário e diretor de gravadora a produzir tudo aquilo considerado comercial, os seus videoclipes e shows reforçam lugares rebaixados para as mulheres, transformadas em objetos sexuais e associadas com submissão no desenvolvimento da carreira deste artista polêmico que, no primeiro episódio, atravessa um dificultoso processo judicial. Agora, como missão para limpar a sua imagem, ele precisa gravar um álbum com temática natalina, envolvendo ópera e outras incursões musicais. Nesta travessia de confusões, encontros e desencontros, coincidências do destino fazem os personagens distintos se cruzarem e trocarem as suas experiências, todos contemplados pela magia natalina que promove os devidos ajustes para que, de maneira coerente, o amor prevaleça na vida destes personagens magnéticos.

Parece mais uma produção pueril sobre o Natal, mas acredite, não é. Divertida, instigante e inteligente, a minissérie Arranjo de Natal traz reflexões e, claro, nos permite o exercício diletante de consumir uma comédia romântica nada ofensiva, sem foco no consumismo ou nas hipocrisias muito comuns a este tipo de narrativa. No ramo das produções sobre a magia natalina, temos aqui, digamos, um diferencial.

Arranjo de Natal – Minissérie Completa (França – 2021)
Criação: Victor Rodenbach, Marianne Levy e Henri Debeurne
Direção: Nadège Loiseau
Roteiro: Victor Rodenbach, Marianne Levy e Henri Debeurne
Elenco: Shirine Boitella, Tayc, Marion Séclin, Aloïse Sauvage, Camille Lou, Walid Ben Mabrouk, Estelle Meyer
Duração: 47 min. (03 episódios no total)

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