Criada na edição #80 da revista My Greatest Adventure, a Patrulha do Destino se estabeleceu com facilidade e rapidamente caiu nas graças do público, graças a uma estranha combinação de tramas bizarras e equipe estranha, com humor ácido e muito mistério envolvendo os próprios membros. Muitas histórias de ficção científica e de fantasia moldaram a jornada da equipe, que um ano depois de ter sido criada, já ganhou título próprio, sendo o carro-chefe do que antes era a MGA. No presente compilado, trago as críticas para as edições #114 a 121 da Doom Patrol Vol.1, publicadas entre setembro de 1967 e outubro de 1968. A última aventura inédita da revista, neste volume, está na edição #121, mas o título seguiu até o número 124, com republicações de tramas anteriores da Patrulha.
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Kor, o Conquistador e O Garoto Que Era Rei dos Bandidos
Kor — the Conqueror + The Kid Who Was King of Crooks
Edição do tipo “um pouquinho de cada“. Na primeira história, que começa muito, muito bem pra ser verdade, temos a Patrulha numa luta contra o neandertal Kor, o Conquistador, que descobrimos ser um antigo colega de trabalho do Chefe, com quem estivera durante a Segunda Guerra Mundial. A história é surpreendentemente sólida no começo, além de muito divertida, com uma piada melhor que outra, por parte de Cliff, o grande destaque da equipe aqui.
Todavia, vacinado como estava de muitas outras edições desses aquivos, eu comecei a achar estranho que tudo estava bom demais e o flashback de explicação ainda não havia acontecido. Estava claro que na próxima esquina apareceria o tropeço e… apareceu mesmo. Pasme, o problema aqui nem é o flashback, que é rápido e eficiente. O problema é que o elemento final para a derrota do “inimigo” é totalmente banal, se comparado à força do restante da trama. Eu esperava algo com um pouquinho mais de tutano, para acompanhar o restante da edição, mas isso não veio…
A segunda história, O Garoto Que Era Rei dos Bandidos, segue contando o passado de Mutano, no mesmo estilo de “crônicas do menininho verde” que vimos no Vol.4 dos Arquivos. Apesar de não ser concluída totalmente aqui, pelo menos mostra todo o período em que o pequeno Beast Boy roubou, sem saber o que estava fazendo. É uma história de exploração e corrupção infantil que, imagino, só passou pelo Comics Code porque tem um fator moral (ótimo, por sinal) ao fim; e porque o tom fantasioso dado pelas transforações de Mutano — novamente deixado sozinho — distrai… A propósito, aquela mulher da feira em Johannesburg, no quadro final da trama, não parece a Rita?
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O Mestre Mutante e General Mutano da Brigada dos Macacos
The Mutant Master + General Beast Boy–of the Ape Brigade
Putz! Qual é mesmo o sentido dessa história? Isso tem alguma mensagem final? Porque pensando bem, a ideia para o que o sr. Arnold Drake nos apresenta aqui é realmente impactante, mas só na premissa mesmo. A execução simplesmente decepciona. Imaginem que três mutantes atômicos monstruosos planejam destruir o mundo, querendo se vingar por causa seu trágico destino (ou seja, são “filhos da bomba”). Sim, isso é intenso e daria uma baita história legal, certo? Certo! Mas como é possível levar a sério um contexto impactante como esse, diante de uns caras com ESSAS FEIÇÕES? Sério, não dá mesmo. Durante a leitura eu dei várias risadas (Cliff, de novo, cheio de piadinhas maravilhosas), mas o enredo, sendo bem sincero, não é nada engraçado! No fim, a Patrulha do Destino é derrotada em seus encontros com o trio de mutantes bizarros, acabando com Cliff “morto” e Rita sequestrada, um cliffhanger mais interessante do que o ritmo e visão geral de toda a história. E verdade seja dita: a capa dessa revista é bem legal!
A propósito, eu nem ia falar da chatice da história com a personalidade dividida de Madame Rouge, mas tenho que fazer isso, certo? O Chefe (totalmente fora de si) continua fazendo seus experimentos secretos para “curar” a mulher, que ao mesmo tempo, passa por uma experiência de intensificação de seu lado sombrio, feita pela Irmandade Negra… O “final” é absolutamente patético.
Então seguimos com a Crônicas de Mutano, o fanfarrão! Eu rio demais com essas bobagens fofas que uma revista como a Patrulha ou um personagem como Mutano se permitem. Só em ver o menino verde já adolescente, de óculos, diante de uma máquina de escrever, supostamente datilografando um diário, é ótimo. Acompanhar a história, então… melhor ainda! A narrativa termina aqui, de qualquer forma, com Galtry enfim reencontrando Gar e, na trama central, o garoto no meio de um plot (neo) nazista para dominar o mundo. Tudo é muito absurdo mas pelo menos me divertiu mais do que a história louca com a Patrulha e os mutantes atômicos.
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Dois Para se Preparar… e Três Para Morrer
Two to Get Ready… and Three to Die
E não é que a invasão de privacidade e outros arroubos moralmente questionáveis do Chefe renderam a redenção (claramente temporária) de Madame Rouge? Aqui, “curada” de sua indução comportamental maligna pela Irmandade — após uma bizarra e risível luta “contra ela mesma”, na mais estranha mistura de O Duplo com O Médico e o Monstro — a personagem se une à batalha da Patrulha do Destino contra o trio de mutantes da história anterior, tendo igualmente Mento e Mutano chegando para completar o time.
Eu confesso que ri com a bobagem do roteiro em não fazer o Beast Boy se transformar em um animal adaptado ao frio para… se proteger do frio! Sem contar que a cena que ele protagoniza juntamente com Mento, seu pai adotivo, é totalmente fora da história como um todo, não é mesmo? Só para fingir que eles ainda existiam!
Na história principal, os desamparados da última revista são resgatados e então o time confronta os mutantes, apenas para serem ameaçados por uma ameaça alienígena ainda maior, liderada pelo “Gladiador Galáctico”. A explicação da vida do Gladiador em seu planeta natal, onde os mutantes são os mestres e humanos normais são escravos, acaba virando o jogo e eu não pude deixar de revirar os olhos diante do fato de que a consciência de salvação do planeta apareceu para os mutantes tão logo eles ouviram o discurso… É conveniência demais para pouca história! O que salva são algumas boas piadas e o princípio da ação que, como disse na trama anterior, eu acho muito boa. O problema é que não dá pra levar esses mutantes a sério.
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O Abutre Negro
The Black Vulture
Certo. Esse é o tipo de “história de vergonha alheia” que não dá vontade de escrever nada a respeito. Se a gente tirar alguns elementos da relação interna da Patrulha e alguns quadros da arte, não sobra nada de bom aqui. Primeiro, a absurdamente ridícula briga entre os Patrulheiros e uma “psicologicamente remodelada” Madame Rouge, que está dando uns amassos no Chefe e acaba assumindo o papel de Yoko Ono. E o mais triste é que esses dramas de separação, por mais clichês que sejam, podem trazer uma boa história a tiracolo, já que trata diretamente com emoções humanas ligadas a pessoas que se gostam. É algo interessante, quando bem feito. O que não é o caso aqui.
Basicamente vemos O Chefe sendo abandonado pela Patrulha do Destino depois de uma briga entre ele e os heróis, que o acusam de negligência para com seus deveres, o que é verdade. E pior que não faz muito sentido uma pessoa como o Chefe deixar essas ocupações sem dar nenhuma satisfação ou fazer algo que diminuísse o impacto de sua “ausência”. Não combina com ele! Pois bem, quando os enfurecidos Patrulheiros se afastam, o tal de Black Vulture (velho inimigo que se tornou um criminoso fantasiado) vem para se vingar e o Chefe começa lutando sozinho contra ele. A Patrulha retorna a tempo para ajudar a combater o abutre e seus pássaros treinados. E como se não bastasse toda a insossa presença dele, vem a verdadeira cereja podre do bolo: surge o líder indígena Pena Branca e seus guerreiros. Não. Simplesmente “não” para essa história.
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Videx Monarca da Luz
Videx Monarch of Light
Pronto, agora nem o coitado do Mutano pode dar umas namoradinhas de leve que os roteiros já querem fazer dele um “Kid Desastre” de novo — ou seja, injustiça dois-ponto-zero. Aqui, temos uma trama um pouquinho mais interessante que a da revista passada, mas ainda não é uma boa história. A verborragia desnecessária para contextualizar o tal Videx parece piorar a cada vez que o personagem aparece e, de todos os indivíduos bizarros que a Patrulha já enfrentou, esse aqui tem o demérito que estar em um enredo que se quebra em partes aleatória que nos distraem demais. E pior: uma distração para picuinhas familiares que até começam de maneira engraçada, mas depois enjoam.
A presença de Madame Rouge na Patrulha passa a ser sentida negativamente pelos meninos da casa, que reclamam que ela deixa manequim, fios de cabelo e marcas de creme num lugar como a Academia do grupo. E sim, isso tudo é um absurdo, mas o exagero de Arnold Drake transborda dos quadros. Para justificar o futuro afastamento da personagem, ele criou dois caminhos (um de ameaça à vida do Chefe e outro de rejeição interna à mulher), o que até poderia gerar bons frutos se estivéssemos falando de um arco melhor pensado, coisa que definitivamente não acontece.
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À Sombra do Grande Guru
In the Shadow of the Great Guru
Ooops! Deu ruim para o Chefe! Até que fim o drama de Madame Rouge se concluiu (assim espero!), com ela seguindo seu caminho e assumindo uma postura, ao que parece, livre da Irmandade Negra. Mas até chegarmos a essa informação, no final da história, passamos por uma interessante e, devo dizer, engraçada narrativa sobre esse Grande Guru do título, o Yaramishi Rama Yogi. Através de uma técnica que o leitor não sabe, no início da revista, o místico transforma o Homem-Robô em um veemente pacifista e desencadeia tudo o que vem depois.
Quando a Patrulha do Destino começa a investigar a questão, o guru captura o Homem-Negativo e a Mulher-Elástica, infligindo a eles um medo e ódio irracionais, respectivamente, sensações que podem ser desencadeadas a um sinal pós-hipnótico. Os membros da equipe quase se destroem antes de superar o poder do Guru sobre eles e lutar contra o inimigo e seus seguidores. A história é divertida até certo ponto e eu gostei bastante da arte aqui, além de dar risada com a transformação inicial, do Homem-Robô pacifista. E devo dizer… aleluia, até que fim algo pelo menos divertido nessa reta final da revista!
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A Ira do Destruidor
The Rage of the Wrecker
Penúltima edição do Volume Um da revista da Patrulha do Destino! E olha… no geral, a história é interessante, viu! Tudo bem que eu fiquei meio entediado na segunda parte, com a luta que acontece no espaço (e vejam que aí já existe um problema, porque em cenas de luta ninguém deveria ficar entediado!), mas a história tem uns momentos que acabam elevando a qualidade para acima da média. Gosto particularmente da briga onde Rita e Mento se metem, para ajudar o filhote Mutano; e da primeira parte, com Cliff e Larry no espaço, momento bom no roteiro e na arte. Também gostei da ideia de satélites desaparecendo/sendo destruídos da órbita da Terra. Isso é o que levará a Patrulha a combater o Destruidor, que está querendo acabar toda a tecnologia moderna por meio de bombardeios de raios, utilizando a sua base espacial. O caminho para essa luta entretém, mas o enfrentamento em si ganha ares burocráticos demais. Ainda bem que o encerramento da história retoma a diversão e finaliza o texto com uma boa nota de humor.
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O Começo do Fim!???
The Beginning of the End!???
Yukê? Você quer quebra de quarta parede? Você quer desenhos do roteirista e artista do título conversando sobre a morte dos personagens? Você quer? Então toma! Olha, por mim, só a brincadeira que Arnold Drake e Bruno Premiani se permitiram aqui já era o bastante para fazer dessa edição algo bastante relevante. Como já tinha comentado no texto de apresentação, o título Doom Patrol Vol.1 foi cancelado justamente nessa edição e a trama aqui foi pensada de fato para ser a canônica morte da Patrulha do Destino (sim, de todos eles), do Cérebro e do Monsieur Mallah. Toda a história tem um fator instigante de urgência e mesmo quando deixa alguns pontos soltos (até porque, seriam os leitores que decidiriam se a Patrulha iria ou não continuar… o que não aconteceu e a revista foi cancelada assim mesmo) não tropeça tão grandiosamente a ponto de derrubar a qualidade maior da trama.
E não é que Madame Rouge acabou tendo um caminho final de vilania e personalidade bem interessante? Notem que o plano dela aqui foi imensamente bem pensado e consegue um resultado final realmente importante! Uma história de sacrifício que seria interessante se tivesse sido mantida na continuidade. Um final digno, emocionante, chocante. Uma boa sacada dos autores. Mas que em poucos anos seria revista… Em 1977, sob roteiro de Paul Kupperberg (que depois assumiria o segundo título solo da Patrulha), nas páginas da Showcase, a Patrulha voltaria mais uma vez à ativa, e consideravelmente modificada… Isso, porém, já é outra história…
Doom Patrol Vol.1 #114 a 121 (EUA, setembro de 1967 a outubro de 1968)
Roteiro: Arnold Drake
Arte: Bruno Premiani
Arte-final: Bruno Premiani
Capas: Bob Brown, Carmine Infantino, Jack Sparling, Joe Orlando
Editoria: Murray Boltinoff
12 a 24 páginas