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Crítica | Ariel (1988)

por Fernando Campos
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Em diversas culturas, é comum pessoas do interior ou do campo migrarem para cidades maiores em busca de uma qualidade de vida melhor. Seja no Brasil ou na Finlândia, as metrópoles atraem diversas pessoas como uma promessa de progresso, emprego e um novo começo. Para o trabalhador, a segurança e felicidade parecem estar sempre em um futuro próximo ou passo seguinte que nunca chega. Permanecemos em uma fuga da própria realidade. 

O diretor finlandês Aki Kaurismäki abordou o tema em Ariel, segundo capítulo da Teologia do Proletariado. O filme acompanha Taisto Kasurinen (Turo Pajala), trabalhador de uma mina de carvão que passa por graves problemas financeiros. Após fracassar na tentativa de uma vida melhor na capital, o rapaz passa a imaginar uma maneira de fugir para outro país.

A experiência do filme é acompanhar as diversas fugas de Taisto ao longo da história, representando os diversos escapes que muitos buscam em suas vidas. A primeira delas, como já citado, é a ida do campo para a capital, com a expectativa de adquirir um emprego menos desgastante e mais recompensador financeiramente. A segunda “fuga” do protagonista é o casamento, se juntando com Irmeli para ter mais conforto e dividir responsabilidades. A terceira “fuga” é a criminalidade, como um recurso desesperado para ter alguma renda. Aliás, dentro dessa reflexão de “fugas”, Taisto literalmente precisa fugir de uma prisão na parte final do longa. O escape final de Ariel é a saída do país, algo ainda mais significativo visto atualmente, devido à recente crise imigratória.

Portanto, dentro da Trilogia do Proletariado, Ariel se posiciona como o filme menos pessimista dos três, utilizando boas doses de humor, mas que também não enxerga no capitalismo uma saída, visto a dificuldade de Taisto de construir uma vida digna, seja no interior ou na capital. Visualmente, também é possível ver diferenças na obra com relação às demais. Ao contrário do capítulo inicial e final da trilogia, que conta com uma atmosfera bastante fria e melancólica, Ariel possui uma ambientação mais realista e leve. 

Marca registrada de Kaurismäki, os ambientes de suas obras transmitem o espírito dos protagonistas e, aqui, os espaços e objetos ressaltam a independência e prestatividade do protagonista. Uma escolha da direção que ressalta a camaradagem do protagonista é o abrigo que ele dorme, onde divide o quarto com várias pessoas, filmado com um plano aberto e simétrico, como se fosse algo confortável para o protagonista. Outra representação disso é o carro dele, conversível e forrado em vermelho, mostrando o sentimento de liberdade que o homem busca.

A única derrapada de Kaurismäki está no casal principal, apresentado com um dinamismo que prejudica a construção da relação. Ainda que essa descontração possa combinar com o ritmo do filme, acaba impedindo que o público realmente se envolva com os desafios passados pela dupla. No entanto, ancorado por uma atuação carismática de Turo Pajala, Taisto é um personagem desenvolvido de forma envolvente e guia a obra com segurança, mostrando a transição de um homem ingênuo para um sujeito inteligente que ultrapassa limites para conseguir o que quer.

No fim, descobrimos que o título do filme, Ariel, se refere ao nome do navio que Taisto e Irmeli embarcam para fugir para outro país. Em algumas vertentes do cristianismo, Ariel é considerado o anjo de novos começos e da cura da natureza. Talvez, essa busca incessante por fugas ou novos começos seja justamente uma forma de tentar se curar daquilo que nos machuca. Porém, enquanto não atacarmos a origem do problema, as renovações continuarão ocorrendo, mas pouco resolvendo.

Ariel (Idem) – Finlândia, 1988
Direção: Aki Kaurismäki
Roteiro: Aki Kaurismäki
Elenco: Turo Pajala, Erkki Pajala, Esko Nikkari, Esko Salminen, Heikki Salomaa, Jaakko Talaskivi, Jouko Lumme, Juuso Hirvikangas, Marja Packalén, Matti Jaaranen, Matti Pellonpää, Pentti Auer, Sakari Kuosmanen, Susanna Haavisto, Tarja Keinänen, Tomi Salmela, Veikko Uusimäki
Duração: 73 min

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