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Crítica | Arcane – 2X07 a 09: Fingir que É a Primeira Vez / Matar É um Ciclo / A Terra Sob Suas Unhas

A história de Jayce e Viktor.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas dessa temporada e, aqui, do restante da série.

2X07
Fingir que É a Primeira Vez

Depois do sacrifício de Isha no final do segundo ato dessa temporada, Fingir que É a Primeira Vez decide mudar completamente de rota e seguir Ekko, Heimerdinger e Jayce em universos paralelos depois dos eventos surreais com a Hextech. Apesar de ser uma introdução para multiversos, novas realidades e viagem no tempo, que em tese complicam ainda mais a confusa mitologia da produção, esse episódio é bastante autocontido, simples de seguir e talvez o núcleo melhor focado em personagens do segundo ano.

Eu gosto da abordagem do texto de Amanda Overton, que deixa um pouco a euforia tão característica do seriado para enaltecer uma história bem singela e melancólica de “e se?” com bons desdobramentos dramáticos sobre arrependimento, remorso e o que poderia ter sido. Do lado de Ekko e Heimerdinger, chega a ser triste ao mesmo passo que bonito ver uma versão de Zaun que não sofreu com os efeitos da guerra e da criação da Hextech, com Ekko no centro de um capítulo intimista, romântico e reflexivo para um personagem coadjuvante que acaba ganhando o arco que melhor respira na temporada e que de certa forma recontextualiza vários personagens do universo principal da série, como Jinx e Silco.

Do lado de Jayce, temos um vínculo um pouco maior com a história macro da temporada, com o personagem sendo transportado para um futuro pós-apocalíptico onde a Hextech destruiu tudo, esclarecendo porque Jayce matou Viktor no sétimo episódio. Mesmo com o grande impacto na escala da narrativa, a jornada de Jayce ainda soa como algo bem autocontido, como um pesadelo que se tornou realidade por suas ações com a Hextech. Muita coisa aqui é extremamente enigmática, incluindo a participação da figura que lhe deu a pedra de runa quando era criança, levantando questionamentos intrigantes para o final da temporada e o possível retorno de Viktor como antagonista.

O episódio alterna muito bem entre os dois núcleos, com uma montagem esperta apesar das abordagens diferentes de cada trama, se aproveitando do aspecto mais urgente com a história de Jayce para deixar o episódio em um ritmo que se assemelha ao tom acelerado do seriado. Também é um episódio com destaques visuais absurdos, passando tanto pelos experimentos com viagem no tempo de Ekko e Heimerdinger, quanto pelos “passeios” fantasmagóricos de Jayce por um universo morto – algumas das sequências panorâmicas aqui estão entre as mais belas da obra. Ainda assim, são os momentos mais íntimos e reflexivos entre os personagens, como a conversa sobre a morte de Vi ou os diversos reencontros surpreendentes de Ekko, que compõem o grande destaque de um capítulo paciente, que foge um pouco das loucuras da guerra para trabalhar e estudar bem alguns desses personagens, em especial como Jinx poderia ser tão diferente.

2X08
Matar É um Ciclo

De longe o episódio que menos gostei na série, Matar É um Ciclo levanta muitos questionamentos e preocupações antes do grande final da produção, que, ressalto, não será renovada, então a quantidade de informações despejadas e resoluções súbitas que ocorrem nesse episódio me soam como um atropelo que pode não resultar na conclusão mais satisfatória possível. Lembrando que estou fazendo essa crítica antes do episódio final, razão pela qual minha opinião pode ser alterada logo no texto abaixo.

Bem, de maneira geral, esse episódio lida diretamente com as consequências do sacrifício de Isha, com Jinx se rendendo, Vi se recuperando do ataque e Ambessa preparando sua própria investida contra Caitlyn, que a traiu no episódio anterior. Temos alguns bons momentos entre as irmãs protagonistas da série, incluindo desdobramentos temáticos que vêm sendo desenvolvidos no seriado, como quebra de ciclos, novas chances e reescrita de histórias, em particular com Jinx e sua interminável luta entre ser uma heroína ou uma vilã. As sequências de Jinx na prisão são muito boas, encapsulando bem a complexidade da personagem, ainda mais agora nessa situação emocionalmente quebrada depois da morte de Isha. Sua última traição contra Vi parece ser um momento definitivo na jornada da personagem, mas será interessante saber se Ekko, que conheceu uma outra versão de Jinx, pode ajudá-la.

No mais, porém, esse episódio é muito confuso e corrido. A mitologia em torno da série já vinha sendo bastante complicada até aqui, mas agora que estamos chegando nas partes de explicações e resoluções, esses problemas se agravam. Basicamente, temos um núcleo de Mel se tornando uma bruxa e outro de Viktor se tornando um antagonista que quer dominar todas as mentes para criar um “mundo de paz”. Ambos os núcleos são conceitualmente interessantes, com o bloco de Mel ganhando toques de horror, enquanto as sequências de Viktor são belíssimas em suas ideias astrais e discussões sobre individualidade, mas tudo pra mim não soa orgânico. Os personagens mudam de personalidade muito rápido, a mitologia não ganha contornos lógicos e logo estamos dentro do conflito final.

Obviamente que a qualidade da animação e as lutas escondem alguns desses problemas. O próprio combate na sala de reunião entre Jayce, Mel e Viktor está entre algumas das cenas mais legais do seriado. Além disso, temos grandes momentos emocionais, como a despedida da companheira de Viktor no plano astral ou a perda de consciência de Vander, que efetivamente se torna uma besta, mas no todo, é um episódio estranho na maneira como parece mais focado em preparar a franquia para novos derivados, como a Rosa, os universos paralelos, etc, do que necessariamente contar a história aqui em questão. Isso fica bem evidenciado pela maneira como a trama principal sobre Vi e Jinx parece subsidiária no quadro geral do episódio.

2X09
A Terra Sob Suas Unhas

A Terra Sob Suas Unhas confirma alguns dos meus temores, mas ainda é um belíssimo e gigantesco desfecho para a produção, que termina numa nota alta, apesar de deixar muitas perguntas para o futuro. Logo de cara, o final da série precisa ser elogiado pelo seu escopo. A animação ficou conhecida por sua qualidade visual, suas grandes coreografias, os designs de encher os olhos e a trilha sonora sempre em grande estilo que marcam as batalhas e os momentos de êxtase, mas aqui a produção consegue se sobressair.

A sequência inicial entre Jinx e Ekko já é um destaque, com o relacionamento complicado da dupla ganhando um momento que foi bem construído ao longo das temporadas, principalmente no oitavo episódio quando Ekko descobre o que poderia ter sido. Temos uma metáfora visual inteligente com a constante volta no tempo, ressaltando como tudo poderia ser diferente para Jinx. E o restante do episódio não para por aí, com um clímax fabuloso no grande conflito contra Ambessa e Viktor em Piltover.

Várias sequências vêm a mente, como a evocação do que é uma guerra nas diversas cenas de soldados morrendo para cumprir a missão de parar a chegada de Viktor (lembrei muito de O Senhor dos Anéis nesse bloco de parar o gigante); a chegada magistral de Jinx, que simboliza a personagem como o elemento caótico que sempre surpreende todos os personagens; a presença marcante de Ambessa no combate próximo com Caitlyn e Mel; a luta sem gravidade entre Jinx e Vi vs Vander; e, claro, a luta em câmera lenta e com voltas no tempo de Ekko e Jayce contra Viktor. É um episódio em constante movimentação, sempre muito divertido e, o melhor de tudo, sempre com cenas de ação com peso dramático.

Ainda carrego alguns problemas do episódio anterior de como algumas coisas são confusas e mal explicadas, e de como outras resoluções parecem corridas, mas de maneira geral o episódio contextualiza bem a maioria das questões da série e fecha as pontas soltas mais importantes. No entanto, podem me chamar de chato, mas tenho dois grandes problemas com o episódio, que são 1) o fato da grande conclusão da série ser mais uma história de Jayce e de Viktor do que de Jinx e de Vi, o que para mim é absolutamente imperdoável, e 2) como os instantes finais, incluindo um salto temporal safado que resolve vários problemas entre as duas cidades, fazem o que muitas séries de franquia vêm fazendo por aí, que é ser uma “conclusão” que é mais uma preparação para vários derivados, deixando propositalmente muitas subtramas em aberto.

Já esperava que isso fosse acontecer, mas não esperava que a própria história de Jinx e Vi ficasse em aberto – se lembrem da regra: sem corpo, não está morto. Ainda assim, A Terra Sob Suas Unhas é um ótimo clímax para o conflito que vem sendo preparado desde o início da série, num mix de altíssima qualidade técnica, grandes momentos, personagens marcantes e muitas recompensas dramáticas. Só talvez não seja um excelente final de série na minha visão, até porque fica muito claro que as diversas tramas de Arcane apenas começaram a serem desenvolvidas. De qualquer forma, o texto faz um trabalho competente em nos deixar curiosos para basicamente todos os desdobramentos, no que parece ser um universo que veio para ficar por muitos anos no audiovisual, para o prazer de todos nós.

Arcane – 2X07 a 09: Fingir que É a Primeira Vez / Matar É um Ciclo / A Terra Sob Suas Unhas (2X07 a 09: Pretend Like It’s the First Time / Killing Is a Cycle / The Dirt Under Your Nails) | EUA, 23 de novembro de 2024)
Criador por: Christian Linke, Alex Yee (baseado no universo League of Legends)
Direção: Arnaud Delord, Bart Maunoury
Roteiro: Christian Linke, Alex Yee, Amanda Overton
Elenco: Hailee Steinfeld, Ella Purnell, Kevin Alejandro, Katie Leung, Jason Spisak, Toks Olagundoye, JB Blanc, Harry Lloyd, Mia Sinclair Jenness, Remy Hii, Mick Weingert, Josh Keaton
Duração: 135 min.

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