Home FilmesCríticas Crítica | Aquaman 2: O Reino Perdido

Crítica | Aquaman 2: O Reino Perdido

A história de dois irmãos.

por Felipe Oliveira
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Marcando o fim de um universo de filmes mal concebidos, a sequência de Aquaman é consequência, se bem podemos lembrar, dos poucos momentos que o DCEU conseguiu brilhar. Mesmo correndo para se equiparar ao MCU – trazendo a reunião de heróis em Liga da Justiça -, foram com os filmes solos que o estúdio pôde tirar uma fatia da rinha de universos compartilhados enquanto tinha o hype do público. Depois da corrida bem-sucedida na estreia de Arthur Curry nas telonas, a última vez que a Warner comemorou com a DC nos cinemas foi em 2019, com Shazam!, que rendeu boa recepção da crítica e bilheteria; e indo na contramão, não importava se a franquia estendida se esforçava para entregar minimamente um resultado divertido já que o apreço do público com longas super-heróis foi se perdendo. Mas eis que voltamos aos setes mares para a despedida de um universo sofrido, enquanto a Warner caminha para sua nova era de redenção e promessas.

Os sinais de que a Warner já não esperava por qualquer resultado positivo vindo de Aquaman 2: O Reino Perdido se comprovou ainda mais com o lançamento do filme sem o tapete vermelho, e depois das polêmicas e regravações, finalmente é possível visualizar a abordagem com que James Wan quis fechar seu ciclo na DC: uma comédia entre “manos” com um toque dramático. Para isso, o cineasta pouco imprime sua marca – como no filme anterior, inserindo momentos de terror em meio a narrativa de comédia romântica à là Tudo por uma Esmeralda – e aposta no lado bobo dessa história que brinca sobre se levar a sério. A melhor comparação que resume The Last Kingdom é como Wan espelha as típicas comédias de ação sobre dois opostos que se unem contra um inimigo maior – nesse caso, Arthur e Orm (Patrick Wilson) – e imagina isso num filme com ambições visuais e imersivas, e que narra a nova fase do protetor dos oceanos. 

De forma semelhante ao vilão de Velozes e Furiosos 10, Jason Momoa encarna uma versão lúdica e debochada de Arthur Curry, como se não encarasse o – esse – papel de ser um herói com seriedade, e é isso que torna o filme divertido e permite o público entrar no forro dessa abordagem mais descompromissada de Wan, fazendo da história de Aquaman uma comédia de ação com ares de besteirol americano, algo próximo do que feito em Shazam! Fúria dos Deuses. Se esse era o tratamento que a Warner pretendia com o DCEU, ficaremos apenas com um vislumbre da fórmula de filmes de heróis emulando tropos clássicos da comédia e outros gêneros.

Mas claro, se O Reino Perdido se tratasse só disso, um olhar bobo para Aquaman, a comédia não se sustentaria – principalmente quando abandona as piadas por momentos melodramáticos e, então, lembramos que Arthur possui uniforme e um tridente! – e a melhor escolha de Wan é propor uma imersão imagética para esse mundo subaquático, não a nível de estar em Pandora, mas o suficiente para embarcarmos nessa aventura fantasiosa. Se observar, o olhar parental sobre Arthur e como ele precisa conciliar essa novidade à sua missão como rei de Atlântida perde a força quando o papel de Amber Heard é reduzida em prol de uma comédia sobre irmãos, e o que disfarça a falta de motivação do roteiro é o mar de possibilidades e de cores vibrantes com que Wan concebe esse mundo aquático.

Mesmo funcionando à base da fórmula de ser idiota e emocional quando precisa, nem de longe há um clima de despedida, e o que Wan faz em O Reino Perdido é tratar com ironia e auto-sátira o tratamento mais que batido que as histórias de herói vem recebendo – como no exemplo de interromper uma sequência de ação com momentos paternos de Arthur, ou usar ganchos do roteiro para efeitos dramáticos como uma piada. E enquanto faz da ironia o grande motor narrativo, Wan volta seu olhar para cenários e imagens que evocam nostalgia; e se o design de som é um deleite que chama atenção, set pieces que remetem a Star Wars, Jurassic Park ou qualquer filme que The Rock tenha participado numa selva.

Sacrificando correr riscos, Aquaman 2: O Reino Perdido é uma aventura leve, com mais promessas do que pretendia entregar, mas encerra um ciclo indo na contramão do que seria o último filme solo de herói abraçando um ritmo corrido e irônico, satirizando o nicho batido. E enquanto o MCU resiste para ser autoral, a DC segue para o lado oposto, mirando uma era consistente para seu universo cinematográfico que mais erra tentando acertar, e deixando no mar do esquecimento o que batizou de DCEU.

Aquaman 2: O Reino Perdido Aquaman and the Last Kingdom – EUA, 2023)
Direção: James Wan
Roteiro: James Wan, Jason Momoa, David Leslie, Johnson-McGoldrick
Elenco: Jason Momoa, Patrick Wilson, Nicole Kidman, Yahya Abdul-Mateen II, Amber Heard, Randall Park, Temuera Morrison, Dolph Lundgren, Jani Zhao, Indya Moore, John Rhys-Davies, Vincent Regan
Duração: 124 min.

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