Com tantas opções de narrativas que versam sobre o período natalino, esse telefilme disponível no streaming é uma opção interessante, mesmo que o seu desenvolvimento nos leve para um caminho de obviedades. Essa época é conhecida por ser um momento de reencontro entre familiares, com afagos e trocas de memórias dos envolvidos, dentre outros bons sentimentos. Mas, cinema é dramaturgia e, no drama, o conflito precisa se estabelecer para que o caminho da redenção dos personagens seja pavimentado até o desejável final feliz. Em Aplicativo Para o Natal, temos Allan Harmon na direção, um realizador que transforma em conteúdo audiovisual, o texto dramático de Samantha Herman. Assim, ao longo de 86 minutos, contemplamos a jornada de dois protagonistas em situações semelhantes: são demasiadamente bonitos, solteiros, empreendedores e dedicados aos seus projetos profissionais, mas que diferente daquilo que as suas famílias esperam, não engrenaram um bom relacionamento amoroso, um contraste diante de outras pessoas que gravitam em torno de suas existências, todos já comprometidos.
Com cenários natalinos deslumbrantes, concebidos pela equipe de design de produção de Paul McCulloch, e imagens bastante iluminadas, com ângulos que favorecem a arquitetura do espaço fílmico, Aplicativo Para o Natal tem como ponto nevrálgico os dramas de dois personagens que, entre idas e vindas, percebem a química existente entre eles e, neste processo, precisam batalhar para conseguir fazer com o que o amor prevaleça. Sim, muito clichês, mas como esse recurso funciona, o filme diverte na medida certa e, mesmo sendo pueril, nos faz torcer pelo relacionamento da dupla que enfrentará uma série de obstáculos para garantir algo mais sério adiante. Importante ressaltar que, tal como as narrativas literárias do romantismo literário, o telefilme em questão parece um desses filmes com ode ao casamento tradicional, destacando que o relacionamento com alguém, independente que a pessoa esteja plena ou não, é uma necessidade, um aparato obrigatório e que pode ser uma grande lacuna quando não existe.
Na trama, ambos os protagonistas possuem problemas consideráveis com os seus antigos namoros. Molly Hoffman, interpretada por Jen Lilley, sofre as pressões de um relacionamento tóxico com a sua mãe, uma mulher muito exigente, que não acredita nos projetos de empreendedorismo da filha. Para ela, a moça deveria seguir os negócios da empresa da família. Molly é a criadora de um aplicativo para pessoas que não estão em busca de um relacionamento, mas de um par para curtir e servir de companhia para eventos que pedem algo do tipo. É um produto ainda em prototipagem. Mas Jeff Scanlon (Brant Dougherty) resolve testar. Antes do acesso e do match entre os dois, a dupla já havia se envolvido em uma confusão numa loja de produtos decorativos para o natal. Há, no ar, uma atração, mas o que fica combinado é a praticidade das coisas: ambos vão se encontrar, ele para impressionar o chefe e ganhar uma promoção e ela, na pressão que sofre diante da família, apresentar um namorado bonitão.
Diante do exposto, não é preciso ser um expert para compreender que muitas confusões acontecerão e que, nas subtramas, os conflitos serão diluídos com perdão, companheirismo e conversas amadurecidas, como é o caso da mãe, que entende posteriormente o quão prejudicial a sua falta de apoio foi na caminhada de empreendimentos tecnológicos da filha. São diversos momentos de emoção, embalados pela trilha sonora de James Jandrisch, compositor que entrega uma textura percussiva sem grandes arroubos, mas suficiente para captar as emoções dos personagens. Lançado em 2018, Aplicativo Para o Natal é muito melhor que tantos outros filmes de grande visibilidade e com elenco mais famoso, por isso, merece ser visto por aqueles que buscam leveza, simplicidade e figuras ficcionais em busca de instantes de felicidade.
Bobo para alguns, muito simplório para outros. Em linhas gerais, escapismo natalino inofensivo.
Aplicativo Para o Natal (Mingle All The Way, EUA – 2018)
Direção: Allan Harmon
Roteiro: Samantha Herman
Elenco: Eric Freeman, Jen Lilley, Brant Daugherty, Casey Manderson, Lindsay Wagner, April Telek, Jesse Arthur Carroll
Duração: 88 min