Vulnerável. Explorar a vulnerabilidade em um suspense costuma dar certo. Quando a mente não consegue costurar os momentos um no outro fica difícil criar lembranças e sem isso se abre um vácuo que pode ser preenchido por qualquer um. É a partir desse princípio que o diretor e roteirista Rowan Joffe sinaliza que vai pregar algumas peças no espectador ao longo do filme para tentar escamotear o sujeito óbvio do medo.
Nicole Kidman é Christine. Toda noite antes de dormir ela tem que registrar com uma câmera pedaços das memórias que ela encontra escondidas para, no dia seguinte, quando já não lembra de nada, fazer algum sentido da vida. O perigo se apresenta quando ela descobre que a amnésia advém de um ataque brutal praticado por alguém que somente ela poderia identificar. A partir deste momento, a personagem aprende que não pode confiar em ninguém e busca remanejar os retratos do passado para cobrir as lacunas.
O cinema já explorou a amnésia para instigar a trama. Você deve lembrar do homem que se tatuava afim de deixar marcas para si mesmo em Memento (2000) de Christopher Nolan. Ele visceral. Tem uma estrutura narrativa de invejar e consegue agregar isso à trama, coisa que Joffe parece buscar sem tanto sucesso. Colin Firth, o eterno Mr. Darcy, se veste de camaleão e tem de transparecer ser hora o bonzinho, hora o malvado para manter a dubiedade, recurso um tanto quanto exagerado e, com isso, não entrega uma performance memorável. Mas mostra que quer variar de papel. Enquanto isso, Mark Strong consegue percorrer o mesmo caminho com mais firmeza e se torna mais convincente, roubando a cena.
O problema com Kidman é que como a personagem não tem identidade por motivos óbvios existe a necessidade de parecer desconectada demais e os lapsos de memória que retornam primeiro em sonhos e depois por lugares e pessoas rompe a validade da premissa e põe tudo a perder. Até mesmo em filmes de comédia romântica, em que existe mais liberdade para elastecer o limite do crível, a amnésia é consistente. Basta recordar de Como se Fosse a Primeira Vez (2004) ou Como Não Esquecer Essa Garota (2013). Entretanto, é um filme que entretém e consegue despertar as sensações necessárias para conversar com o espectador de igual para igual.