Contém spoilers do filme.
Depois de acabar com todos os anciões da raça dos vampiros (e dos lobisomens no processo), a franquia Anjos da Noite precisaria se reinventar para continuar viva. Considerando o sucesso comercial da trilogia inicial, era apenas natural que a saga continuaria com O Despertar, que seguiu a mesma estrutura de lançamento dos anteriores ao ser lançado três anos após A Rebelião, que nos contara sobre o início da guerra entre os lycans e os vampiros. Infelizmente, enquanto tem um início que bastante se diferencia do restante da franquia, o quarto filme acaba caindo na mesmice ao nos oferecer mais do mesmo em sua segunda metade.
A morte de Markus, Viktor e Amelia acabaram colocando em movimento algo que nenhuma das criaturas da noite esperava. Sua existência fora revelada aos humanos que, então, passaram a caçá-los metodicamente, fazendo uso de suas principais fraquezas – a luz do sol e a prata – além de utilizar mecanismos para identificar os “infectados”, como eles chamam as duas raças descendentes de Corvinus. Nesse cenário, Selene (Kate Beckinsale), junto de Michael (Scott Speedman), vivem em constante fuga. Tudo isso muda, contudo, quando os dois são capturados. A vampira é congelada e acaba acordando doze anos depois, em um mundo completamente diferente do que estava acostumada.
A proposta inicial de O Despertar é bastante interessante, visto que, até agora, os humanos desempenhavam um papel quase inexistente na franquia. Todos os mortais que apareciam em tela ou eram mortos ou transformados em uma das criaturas da noite. Essa mudança oferece uma gratificante renovação à franquia e nos traz um olhar diferente sobre os vampiros e lycans desse universo – seus poderes agora se demonstram de forma mais evidente que nunca e a relação entre as duas raças eternamente em guerra poderia ser trabalhada mais a fundo, nos entregando uma dinâmica mais distante do que já vimos na saga.
Infelizmente esse não é o caso, já que o filme acaba caindo na velha história da guerra ao revelar o principal antagonista como sendo um lobisomem. Dessa forma, a obra escolhe o caminho fácil e o resultado é nada mais que uma repetição do primeiro filme, com pequenas diferenças. Uma dessas, claro, é a ausência de Viktor, mas mesmo este é espiritualmente substituído por Thomas (Charles Dance). O que salva esse lado da trama é a sempre marcante atuação de Dance, que permanece imponente independente de onde aparece. Até uma espécie de traição aparece aqui, ainda que ela seja mais justificada que os caprichos do vampiro ancião falecido.
As sequências de ação, como de costume na franquia, não deixam a desejar e o avanço tecnológico do CGI bastante ajudou em nossa percepção dos lycans. Ainda sinto falta dos velhos efeitos práticos, mas não há dúvidas de que essas criaturas, enfim, receberam o tratamento que merecem. A direção de Måns Mårlind e Björn Stein também não deixa a desejar, permitindo que entendamos completamente o que se passa em tela. O que mais nos chama a atenção na obra, contudo, é a presença maior de uma violência gráfica ao longo da narrativa. Por mais que nada supere a morte de Markus e seu irmão, o sangue se faz bem mais presente aqui, especialmente quando se trata da morte dos humanos.
Anjos da Noite: O Despertar, no fim, acaba sendo mais do mesmo. Temos aqui um daqueles típicos exemplos de quando a grande reviravolta apenas prejudica a progressão da trama em si. A obra poderia muito bem seguir por um caminho inédito à série, explorando melhor a nova relação dos humanos com as criaturas da noite, mas prefere permanecer na superfície, substituindo alguns velhos personagens por novos e basicamente repetindo o que já vimos nos longas anteriores.
Anjos da Noite: O Despertar (Underworld: Awakening) — EUA, 2012
Direção: Måns Mårlind, Björn Stein
Roteiro: Len Wiseman, John Hlavin, J. Michael Straczynski, Allison Burnett
Elenco: Kate Beckinsale, Michael Ealy, India Eisley, Stephen Rea, Theo James, Sandrine Holt, Charles Dance, Kris Holden-Ried
Duração: 88 min.