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Crítica | Andriesh (1954)

Um conto de fadas moldavo.

por Luiz Santiago
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Em 1951, ainda na faculdade, Sergei Paradjanov realizou o média-metragem Conto de Fadas Moldavo (Moldovskaya Skazka), hoje perdido, baseado na narrativa poética de mesmo nome, escrita por Emilian Nesterovich Bukov. Em seu filme de encerramento de curso, produzido em 1954, o diretor (ao lado do colega Yakov Bazelyan) voltou a explorar a obra de Bukov, refazendo a trama do primeiro filme, mas agora, inteiramente com atores e com um enredo expandido. Em Andriesh, já é possível encontrar as sementes da magia, das tradições e da inovação que fariam parte do cinema do diretor em sua fase madura. Aqui, num conto de fadas com lição de moral, cavalo voador e batalha do “bem contra o mal“, entendemos a importância da identidade pessoal e do desafio às convenções na construção dos personagens paradjanovianos, o início sólido de uma filmografia que ainda nos traria imenso enlevo.

Após o lançamento de A Cor da Romã (1969), o diretor passou a rejeitar com bastante veemência os primeiros filmes de sua carreira, até mesmo os documentários, que chamava de “incompletos e perdidos“. Ainda assim, ele sempre disse ter um carinho especial por Andriesh, mesmo que não gostasse da qualidade geral da obra. Como espectador, devo dizer que não concordo tanto assim com o criador da arte, mas consigo entender o seu pensamento, e falarei um pouco dos elementos que, em minha análise, considero menores no filme. No todo, porém, Adriesh é uma produção cheia de boas surpresas, narrando as aventuras do pastor que dá nome ao filme (interpretado por Konstantin Russu), destacando o seu sonho de se tornar um herói, um cavaleiro valoroso na vila.

A trama começa com uma cena de trabalho, sem muito contexto sobre a vida do protagonista. Em muitos casos isso poderia ser ruim para o andamento do enredo, mas os diretores exploram tão bem a personalidade de Andriesh em suas andanças e encontros com as mais diferentes personas, que algo mais formal sobre sua vida acabou não fazendo falta. Pesa, contudo, o fato de que a narrativa de trabalho do menino é fundida ao elemento mágico da fita, quando o bruxo Furacão Negro (Robert Klyavin) aparece, toma para si a jovem Liana (Ludmila Sokolova) e coloca fogo na aldeia. A motivação para as ações do bruxo são vazias, e seu desenvolvimento é o menos interessante de toda a obra. Em compensação, a sequência que se passa em sua caverna, nos momentos finais do filme, é de um baita deleite visual, com um dos melhores momentos da direção de arte aqui.

As cenas na floresta com o gigante e as cenas na chuva com o artista são momentos de grande lirismo imagético do filme, servindo de rituais de passagem para Andriesh, que entende o temperamento dos mais diferentes indivíduos e sabe oferecer e receber ajuda, sem pré-concepções a respeito das pessoas. Nessa história, um herói é forjado, e mesmo que estejamos diante de um conto infantil, nota-se o elemento social em destaque, com toda a população restante da vila (o coletivo) partindo em direção à caverna do bruxo, remediando o ato heroico individual do menino que lá entrara primeiro. Vê-se claramente o ciclo dos contos de fada aqui, inclusive em alguns de seus exageros, representado nos momentos musicais; mas também é possível ver a esperança surgir após a derrota do ganancioso bruxo. Mais um dia de festa para a aldeia. Enfim, a liberdade após a prisão.

Andriesh (Андриеш) — URSS, 1954
Direção: Yakov Bazelyan, Sergei Parajanov
Roteiro: Yemelian Bukov, Grigoriy Koltunov, S. Lyalin
Elenco: Giuli Chokhonelidze, Konstantin Russu, Nodar Shashigoglu, Ludmila Sokolova, Kirill Stirbu, Eugeniu Ureche, Domnika Dariyenko, Robert Klyavin, Trifon Gruzin
Duração: 60 min.

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