Ainda que se tenha algumas temporadas como favoritas pelo público, um questionamento não deixa de surgir para American Horror Story: o que essa série quer ser? Uma antologia com histórias de terror ou uma antologia que possui elementos de terror mas que carece de uma construção convincente, de que, de fato, Ryan Murphy está contando uma história de terror? Parte das inspirações do criador vem de casos notórios dos EUA e que ele usa como base, a exemplo de The Night Stalker, um maníaco que assolou Los Angeles e que ganhou uma versão na temporada slasher da atração. Mas agora, Murphy decidiu ir um pouco mais longe para apresentar sua visão do marco do terror psicológico O Bebê de Rosemary. E se essa seita de bruxas imortais fosse o mistério do filme de 1968?
A cena que abre Little Gold Man é a versão de Era Uma Vez em… Hollywood do Murphy, contado do ponto de vista de um mockumentary tão cínico que quer se fazer convincente nesse cenário de culto geracional que opera na indústria do entretenimento através da fertilidade. Na linha da comparação, Murphy quer fazer de AHS o que Ti West faz em sua filmografia: usa clássicos do terror e seus subgêneros como base para contar novas histórias, o que dá para citar a trilogia slasher sobre Maxine e Pearl tendo como inspiração a era de ouro do subgênero e o cinema de Tobe Hopper. A diferença é que falta a Murphy a habilidade de quem sabe contar histórias de terror sem simplesmente misturar ideias e títulos sem construção narrativa.
Ao menos há o pretexto de um livro como inspiração para a temporada, mas não é segredo pra ninguém que Delicate tinha como principal base de emulação Rosemary’s Baby, na tentativa de forçar conexão com o clássico, o que se comprova aqui, em Little Gold Man: uma provocação com uma cena que não faz sentido e ainda planeja uma explicação para o episódio final. Considerando que este é o penúltimo episódio, o que foi apresentado parece uma ideia alternativa usada pela metade em um roteiro desesperado para criar situações ou a “explicação” que o gaslight que Anna estava sofrendo por sete episódios foi orquestrado pela amante do marido que sofreu lavagem de uma seita – outra informação solta – para, por fim, alertar a Anna sobre o risco da gravidez? Eu diria que Obsessiva, de Steve Shill, fez melhor com muito menos, mas cabe lembrar que a mrs. Preech foi mais esnobada no roteiro do que Anna seria no falso Oscar se Siobhan não tivesse pedido ao diabo pela vitória de sua amiga.
Há inúmeras incoerências para serem citadas em um episódio com menos de 35 minutos para o padrão da série – quase um episódio de American Horror Stories – mas Murphy é capaz de ir mais longe e deixar para apreciação que ele não sabe o que está fazendo, ou na pior das hipóteses, acredita piamente essa é uma versão contemporânea e inteligente que referencia O Bebê de Rosemary, e trás aqui um recorte sombrio sobre os bastidores da indústria de entretenimento. Siobhan é mesmo a grande líder por trás da seita que sacrifica bebês por imortalidade ou dois clãs, sendo o primeiro o com Siobhan e as consultoras de tratamento de imagem e a outra de Sonia? Ou isso tudo forma uma teoria com pontas soltas que Murphy não vai utilizar?
Em referência a pequena estatueta de ouro que o Oscar dedica aos vencedores da premiação, Little Gold Man marca o retorno da sua fraca protagonista para o centro narrativo, porém, o melhor ficará para o final: o que esperar de uma season finale de 31 minutos? Talvez a grande surpresa seja que Anna dará à luz a criatura que Rosemary foi aterrorizada para conceber.
Little Gold Man (American Horror Story: Delicate – 12X08: Little Gold Man – EUA, 2024)
Direção: Jennifer Lynch
Roteiro: Halley Feiffer
Elenco: Emma Roberts, Matt Czuchry, Kim Kardashian, Julie White, Tavi Gevinson, Grace Gummer, Reed Birney, Taylor Richardson
Duração: 33 min.