Quem diria que um episódio que não foca na sua protagonista faria a décima segunda temporada de AHS voltar às origens? Com “voltar às origens”, me refiro à série investir na bizarrice como combustível para narrativa e construção do terror em atmosfera e no visual. Para esse efeito de sorte, Ave Hastie seguiu o caminho oposto ao que Delicate tem percorrido desde o início com doses de flashbacks, focando em um arco inteiramente em recapítulo e deixando de lado o marasmo sobre Anna, e dando atenção a uma personagem tratada a sombra de um mistério repetitivo até então. Ao mesmo tempo que Ave Hestia se apresenta como um “diferencial” para a temporada, se torna um exemplo do que Delicate poderia ser.
Faltam apenas dois episódios para as revelações finais, e apesar de reconhecer as boas ideias em Ave Hestia, é inevitável pensar como a temporada teria se beneficiado, e até tornado o protagonismo de Anna interessante se tivesse investido numa narrativa que intercalasse eventos do presente e passado, afinal, Adeline e Anna estão ligadas a um culto que se alimenta da fertilidade enquanto alguém colhe os frutos. Está mais do que óbvio que Siobhan é a figura por trás das motivações que tornaram Anna em alvo, e não há nada demais em mostrar como ela encontrou um clã de bruxas imortais e o que pedem em troca do sucesso – além de estar desenhado que por ser infértil, Siobhan viu na amiga a chance de realizar.
Deixando de lado a dose de emoção que Ave Hestia revela, a intenção do episódio, de organizar peças e preparar para um encerramento mórbido, chega tarde para uma temporada regada a promessas, ou isso é só American Horror Story sendo American Horror Story? Tendo a informação de que o pesadelo de Anna se conecta ao passado de duas bruxas gêmeas, Delicate seria bem mais instigante pegando a estrutura de um terror convencional da gêmea tentando se comunicar com a protagonista do que esse derivado sobre o terror da maternidade e O Bebê de Rosemary – se bem que a história de Delicate pode ser vista como um remake, releitura ou versão alternativa do que culto que Polanski fechava o seu filme.
Para uma história que se tornou um clássico referencial, Delicate é só mais uma inspiração que entrega um argumento batido que vemos quase todo ano sobre fertilidade, gravidez e o gênero do terror psicológico como instrumento, a diferença é que esse não é um dos exemplos atraentes ou até mesmo criativo. Embora a ideia aqui não seja falar de maternidade e sim da fertilidade usada de forma geracional por bruxas em troca de imortalidade, a showrunner Halley Feiffer faz da temporada de AHS quase como um conto caricato, tentando ser uma versão sombria de Rosemary’s Baby imaginando isso no cenário do atual do entretenimento, ou no fim há uma sátira que se levou a sério?
Parece que assim como a participação de Kim Kardashian está sendo uma surpresa, Ave Hestia se fez um capítulo mediano para uma temporada irregular ao dar tempo de tela para duas personagens mais interessantes do que a protagonista, a nova esposa, que sofre gaslight e de falta de rumo numa história sem inspiração. Mas o que Delicate ainda a contar além do que está mais que óbvio? A maior reviravolta seria depois de Anna gerar uma criatura, acabar sendo esnobada no Oscar fazendo, assim, uma sátira sobre Amy Adams?
American Horror Story: Delicate – 12X07: Ave Hestia (American Horror Story: Delicate – 12X07: Ave Hestia – EUA, 2024)
Direção: Jennifer Lynch
Roteiro: Halley Feiffer
Elenco: Emma Roberts, Matt Czuchry, Kim Kardashian, Julie White, Annabelle Dexter-Jones, Michaela Jaé, Cara Delevingne, Debra Monk, Dominic Burgess, Juliana Canfield.
Duração: 38 min.