Parando para observar, desde que começou, a décima segunda temporada de AHS já passou por inúmeras interpretações do que poderia querer discutir. Com a informação de se baseia em um livro que imagina de forma contemporânea o clássico O Bebê de Rosemary, chegar a essa altura de Delicate (mais da metade) em que cada capítulo provoca um mistério com mesmice, não é nada menos que desanimador. Enquanto que a trama apresentada pede por qualquer combustível que empolgue sua existência, o texto de Halley Feiffer insiste em deixar Delicate em linhas confusas, como se estivesse criando um forro complexo e conspirador que está prestes a ser revelado. Mas se a pretensão é fazer algo próximo do desfecho caótico de Roman Polanski, AHS, mais uma vez, vai ficar nas tentativas e promessas.
Antes de apontar Opening Night como outro deslize em sequência na temporada, ao menos, a cena de abertura serviu para mostrar que desde o seu nascimento, Anna é observada de perto pelo clã secreto de bruxas. Aliás, os flashbacks têm se colocado como os únicos momentos em que Delicate se esforça para movimentar alguma peça desse quebra cabeça desinteressante, ainda mais se considerarmos as informações em Preech e como soam desperdiçadas nesse episódio pós-hiatus. A aproximação de Anna com a antiga vítima da seita parece acontecer a passos lentos, com a promessa de que está aquecendo para quando tudo for revelado. Exceto por esses pequenos esforços para a trama andar, não há nada aqui que já não tivesse sido explanado: Anna tem uma criatura em sua barriga, desconfia da esposa falecida de Dex e sua amiga, e por fim, está cada vez mais convencida de que não está louca.
Em tese, esse mistério banhando em conspiração vinda de uma seita satânica deveria ser mais empolgante, ainda mais por se tratar de uma releitura com temas relevantes inspirados em Rosemary’s Baby, mas nada em Delicate parece efetivamente empolgante. Nem mesmo tentar encontrar paralelos com o filme de Polanski faz mais sentido, embora Feiffer indique querer trabalhar com as próprias pernas em levar a história que conhecemos e a derivada trama de terror psicológico sobre gravidez para outros cenários, sendo o momento mais triunfante da temporada, os bastidores de uma campanha de prêmios para uma atriz em ascensão. O que há por trás do glamour do entretenimento em Hollywood?
Em uma de suas cenas mais uma vez repetitiva, o ilusório – ou não – ataque no banheiro contra Anna mostrou ser algo proposital para gerar confusão na estrela do momento, porém, o ponto em específico que me chamou atenção é no tom da sequência em ser exagerado, caricata e digna de Maite Perroni se acidentando em alguma novela, o que serve para exemplificar que Delicate sem querer acerta nessa abordagem quase paródica ao fazer um recorte sobre a indústria. Tudo indica que o desfecho seja sobre a seita cuidar para que seja cumprido uma promessa geracional de séculos na gravidez de Anna em troca da sua ascensão, mas enquanto isso não vinga, há de concordar que Kim Kardashian vem se mostrado a maior surpresa com sua Siobhan ofuscando quem quer entre em seu caminho como assessora.
Se a trama novelesca em Delicate parece oferecer o entretenimento que o fraco terror de AHS não consegue, o ritual está cada vez mais se aproximando agora que o misterioso porão indica ser o local, a ponta exata que completa o pentagrama formado pelas diferentes localizações em que as bonecas de Anna foram deixadas. Ritual simultâneo com o parto ocorrendo no porão ou no momento em que Anna é anunciada como ganhadora do prêmio de melhor atriz por seu papel The Auteur? Seja como for, a reta final bate à porta e Opening Night não leva a lugar algum.
American Horror Story: Delicate – 12X06: Opening Night (American Horror Story: Delicate – 12X06: Opening Night – EUA, 2024)
Direção: Bradley Buecker
Roteiro: Halley Feiffer
Elenco: Emma Roberts, Matt Czuchry, Kim Kardashian, Julie White, Annabelle Dexter-Jones, Michaela Jaé, Cara Delevingne, Debra Monk, Dominic Burgess, Maaz Ali, Grace Gummer, Leslie Grossman, Billie Lourd, Juliana Canfield
Duração: 40 min.