Home TVEpisódio Crítica | American Horror Story: Delicate – 12X02: Rockabye

Crítica | American Horror Story: Delicate – 12X02: Rockabye

Sanidade e paranoia se confundem.

por Felipe Oliveira
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Na linha entre ser uma série de terror que reproduz os tropos do gênero e que também reflete a cultura pop, depois de seguidas temporadas inconsistentes, com Delicate, AHS parece ter encontrado uma luz no seu estilo superficial de ser. Em comparação ao episódio de estreia, Rockabye traz um avanço ao tema da temporada com um tratamento mais coeso e direcionado, o que faz, ainda que com a maneira conveniente com o que a trama se desenrola, Delicate ser divertida por querer se levar a sério, pois não importa se no livro de Delicate Condition fez uma releitura feminista ao filme de Roman Polanski, a temporada é – como outros projetos – uma história derivada de Rosemary’s Baby, porém, espelhando a relação, por vezes tóxica, de uma figura pública vs o fandom, traçando essa alegoria por meio da almejada gravidez de Anna Victoria Alcott.

O problema não é ter um marcante filme de terror psicológico como inspiração e sim como tudo em AHS acontece de maneira instantânea, sem um mínimo de personalidade para sua lógica. Sabemos que Anna está em alta em Hollywood e fazendo uma campanha massiva por uma indicação ao Oscar de melhor atriz em um filme de terror, “A Autora” – Oscar reconhecer filmes de terror? – mas ao mesmo tempo que Delicate se inclina em criticar a artificialidade da indústria de entretenimento não consegue idealizar esse universo de modo palpável, o que torna a tentativa de crítica uma piada, boba por ser tão superficial quanto a artificialidade que examina. Por sorte, o roteiro de Halley Feiffer arruma um um ritmo esse segundo episódio, e a direção de Jennifer Lynch tira o melhor proveito disso – exceto pela cena do banheiro baseada nos acidentes de Maite Perroni em novelas mexicanas – com uma atmosfera hesitante e visuais intensos.

Sendo a teia de conspiradores óbvias ou não, Rockabye acerta pelo tom agressivo que a paranoia e insegurança de Anna aumentam, o que não é pra menos, se tomarmos como exemplo a mudança drástica na persona de Siobhan, de melhor amiga e assessora para uma versão caricata disso, e se Emma Roberts parece nem fazer esforço para o seu papel, Kim Kardashian se diverte insultando sua cliente e trazendo referências sobre a cultura pop e filmes de terror. De longe, a socialite tem conseguido transitar de forma cômica com as nuances de Siobhan, fazendo a sátira na retratação glamourizada e fetichizada de Hollywood soar menos ridícula, e sim, um entretenimento estranhamente a parte – como na cena que Anna e sua assessora dançam na frente de um espelho.

Se por um lado Lynch acerta no visual grotesco – como na alucinação quando Anna soube ao palco – ou na desconfortável cena final na clínica, a direção sofre para acertar o tom entre momentos claramente risíveis para uma suposta atmosfera sufocante da “condição delicada” que Anna se vê presa. Isso pode ser observado no trecho do jantar onde uma conversa invasiva faz a atriz em ascensão ir ao banheiro e como toda a estranheza da cena simplesmente destoa da emoção que quer atingir. E se a intenção era o público embarcar nas dúvidas de Anna e se questionar o que pode ser paranoia ou conspiração, apenas testemunhamos AHS falhar em fazer uma história de terror que seja envolvente e consiga desenvolver os temas que quer discutir.

Aparentemente, o culto satânico que se consumou em O Bebê de Rosemary assume a forma de um culto de gaslighting – com direito a stalker, fandom tóxico –  contra uma atriz em alta na indústria ao mesmo tempo que sofre com os terrores da gravidez e descasos médicos. Entre os momentos paranormais súbitos que mais causam risos e alucinações, Rockabye acerta quando brinca com a sanidade de Anna, o que permite brevemente embarcar na perspectiva da personagem. A julgar pelo desfecho, a perda do bebê deve tornar o possível culto um jogo ainda mais intenso, enquanto vemos Anna navegar em contradição: a versão que experimenta o terror e não sabe de onde está vindo os ataques e a stalker que investe para impedir que a gravidez tenha êxito, o que surge o questionamento: a que tipo de bebê Anna daria luz?

Imaginar a história horripilante de Rosemary como um analogia a um gaslighting e a toxicidade da indústria – com esse período decisivo da vida de Anna entrando em conflito sobre o reconhecimento da carreira e ser mãe – indica como de diferentes formas – o marido, a ex-esposa que supostamente morreu e Siobhan – reúne um grupo que quer se aproveitar da ascensão de Anna em prol de suas ambições frustradas. E bem, esse pode ser só o começo para Delicate, outro lançamento de American Horror Story, e que poderá ser lembrado como a temporada que Kim Kardashian roubou a cena sem querer.

American Horror Story: Delicate – 12X02: Durma Bebê (American Horror Story: Delicate – 12X02: Rockabye – EUA, 2023)
Direção: Jennifer Lynch
Roteiro: Ryan Murphy, Brad Falchuk, Halley Feiffer
Elenco: Emma Roberts, Matt Czuchry, Kim Kardashian, Annabelle Dexter-Jones, Denis O’Hare, Cara Delevingne, Julie White, Maaz Ali, Taylor Richardson, Dominic Burgess, Ashlie Atkinson
Duração: 42 min.

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