Home TVEpisódio Crítica | American Horror Story: Delicate – 12X01: Multiply Thy Pain

Crítica | American Horror Story: Delicate – 12X01: Multiply Thy Pain

Paranoias e Kim Kardashian.

por Felipe Oliveira
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Desconhecido para geração do termo pós-terror, foi graças ao sufocante terror de Roman Polanski, O Bebê de Rosemary, que o cinema americano passou a investir na recorrente narrativa sobre gravidez, paranoia e maternidade. Alguns ainda tiveram a oportunidade de apresentar uma história original, trazendo uma nova perspectiva para a temática – a exemplo de Mãe!, As Boas Maneiras – outros, se contentam em dar a luz a vários irmãozinhos para o filho de Rosemary com premissas que tentam abordar os horrores da gravidez através do terror psicológico. Também na TV e literatura, o livro Delicate Condition, de Danielle Valentine, é mais uma extensão de Rosemary’s Baby e serve de inspiração para a nova temporada de American Horror Story.

Além das promessas de terror e estética, a intitulada Delicate chega com algumas polêmicas extras a série: Kim Kardashian estreando como atriz, a exposição de falas transfóbicas de Emma Roberts, depois, a divisão em duas partes da temporada por conta da greve dos roteiristas nos EUA. Como de costume, AHS se tornou um programa de terror regrado a sugestão, com toda a bizarrice e atmosfera psicológica ficando nos materiais promocionais do que sendo reconhecida na trama. Ou seja, Murphy explana o conceito, mas no resultado, se satisfaz com menos do que poderia ter sido. Se do décimo primeiro ano o slasher e o erótico cinema de William Friedkin davam forma a NYC, a releitura do livro de Delicate Condition ao filme de Polanski é a base que Murphy precisava para compor o conto de terror da vez.

De alguma forma, mesmo com as comparações sendo inevitáveis – tendo em vista que o principal cenário de paranoia é também o apartamento da protagonista – Delicate tem uma história que não posiciona a temporada com uma das melhores estreias depois de tempos, porém, podemos dizer que há um terror familiar sendo executado de maneira autocontida, e isso para AHS pode ser sinal de consistência, ainda que nada original. Enquanto Polanski trazia um casal se mudando para um novo prédio com a personagem central, Rosemary, desconfiando de todos e da própria sanidade, aqui, a paranoia se instaura para a atriz em ascensão Anna Victoria Alcott (Roberts) que, durante investe em sua campanha para o Oscar depois de atuar em filme perturbador – e é bem capaz do projeto espelhar o que ela está experimentando – passa a se sentir perseguida ao mesmo tempo que recebe boas notícias após outra tentativa de fertilização in vitro.

Se imaginarmos como seria O Bebê de Rosemary em formato de série – ignorando a minissérie feita – esse começo seria apenas uma ponta de um filme fragmentado. Claro que Delicate poderia ser vista pelos seus próprios méritos, mas assim como o livro ao que se inspira, não há um esforço nem no roteiro nem na direção de Jessica Yu em se afastar do filme de Polanski, se contentando em uma história que só consegue reproduzir o que veio antes. Nesse caso, ver Anna sofrendo gaslight e a personagem de Cara Delevingne sendo um contraponto a conspiração que a protagonista vai sofrer porque querem seu bebê, não soa atraente, e sim, é um ensaio de terror psicológico em sua forma mais simples para falar dos assombros da gravidez e a realidade enfrentada pelas mulheres que buscam pelo tratamento de fertilização.

Delicate se inclina em fazer a passos lentos numa temporada dividida em duas partes o que já dá para visualizar sobre a história, restando apenas que a previsibilidade seja disfarçada pela bizarrice e construção que o terror psicológico oferece e ainda assim, é um artifício que parece não se encaixar na narrativa além de vislumbres óbvios. Contudo, enquanto outros rostos conhecidos não dão as caras, é interessante ver como Kim Kardashian funciona na premissa, e como será sua performance quando (se) o décimo segundo da série se permitir ser mais estranho e desconfortável do que apenas apresentar ecos de O Bebê de Rosemary como uma história de terror lite.

É apenas o começo de um conto que não se mostra promissor, mas que ao menos poderá ser divertido ver a versão contemporânea do filme de Polanski como se fosse uma série da CW, no entanto, é só o Ryan Murphy utilizando o cinema do terror como inspiração para tocar sua antologia na TV prometendo conceito e horror psicológico.

American Horror Story: Delicate – 12X01: Multiplique Sua Dor (American Horror Story: Delicate – 12X01: Multiply Thy Pain – EUA, 2023)
Direção: Jessica Yu
Roteiro: Ryan Murphy, Brad Falchuk, Halley Feiffer
Elenco: Emma Roberts, Matt Czuchry, Kim Kardashian, Annabelle Dexter-Jones, Denis O’Hare, Cara Delevingne, Julie White, Juliana Canfield, Zo Tipp, Andy Cohen
Duração: 42 min.

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