– Contém spoilers do episódio. Leiam, aqui, as nossas outras críticas da série.
Com apenas mais dois episódios pela frente American Horror Story: Cult começa a preparar o terreno para seu desfecho, trazendo ações importantes por parte dos personagens centrais, especialmente Ally, que finalmente sai da posição de vítima indefesa a fim de livrar seu filho e a si mesma do culto de Kai Anderson. O grande problema é que tais movimentações dos personagens são realizadas a custo do que vimos ser desenvolvido até então, transformando-os em indivíduos voláteis, que mudam de opinião a cada semana, com novos elementos sendo introduzidos, jogando fora outros que sequer foram desenvolvidos apropriadamente.
Boa prova disso é toda a história envolvendo Valerie Solanas e o plot-twist do respectivo episódio, que influenciaram em basicamente nada. Evidente que a insatisfação das mulheres, que foram deixadas de lado por Kai é um elemento importante nessa temporada, mas não precisávamos de um longo flashback a fim de construir esse fato. Aliás, a própria personagem interpretada por Frances Conroy foi esquecida e, mesmo se ela retornar futuramente, continuaremos com a pulga atrás da orelha, ao passo que ela mais soa como algo desnecessário do que efetivamente parte imprescindível da trama que vem sendo construída até aqui.
Já a volatilidade dos personagens pode ser observada em Ally, Ivy e principalmente em Oz. A primeira permanece em um vai e vem todo o episódio, primeiro buscando escapar e depois querendo matar a própria esposa, ponto que parece ter sido decidido pelos roteiristas de última hora, como se a opinião da equipe houvesse mudado enquanto escreviam o texto. Ivy, por sua vez, mudou completamente ao longo dessas semanas, mas não de maneira linear – uma hora tínhamos uma personagem e na outra, uma totalmente diferente. Já Oz é tratado simplesmente como um garoto estúpido, que passa a considerar Kai como seu pai, com tão pouco tempo de interação – onde estava o seu senso crítico demonstrado pouco depois quando questiona a história do líder do culto? Pelo jeito, ele só aparece quando é conveniente ao roteiro.
Mesmo com tais elementos em mente, não podemos deixar de ressaltar o quão catártico foi assistir a vingança de Ally. Angela Bassett, como diretora, apresentou a morte de Ivy de maneira verdadeiramente visceral, enquanto a personagem se contorcia no chão. Por mais artificial que seja a mudança da água para o vinho de Ally, Sarah Paulson consegue minimizar as falhas do roteiro com sua certeira atuação, com a decupagem de Bassett sempre deixando bem claro onde se encontrava o poder naquela sala. Vale notar como a câmera mostrou Ivy comendo, enquanto ocultava sua (ex?) esposa, já dando a entender que ela estava sendo envenenada.
A construção imagética do jantar entre Ally e Kai também diz muito. Dessa vez o enquadramento sugere que ambos estão na mesma posição de poder – a oposição na mesa ainda remete a um jogo de xadrez, algo que ambos sabem que estão jogando. Nesse ponto, o roteiro de Adam Penn acerta, não deixando claro de Anderson suspeita das ações da mulher, aspecto que funciona para transmitir tensão ao espectador, gerando a dúvida sobre o que pode acontecer a seguir.
Drink the Kool-Aid, portanto, tem suas falhas visíveis, mas continua sendo um capítulo, ainda que minimamente, instigante, que nos leva cada vez mais perto da resolução dessa temporada. Resta torcer para que os showrunners não insistam em introduzir mais e mais elementos, esquecendo do que veio antes a favor da novidade. Caso saibam focar nessa reta final, teremos um desfecho satisfatório.
American Horror Story – 7X09: Drink the Kool-Aid — EUA, 31 de outubro de 2017
Showrunner: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Direção: Angela Bassett
Roteiro: Adam Penn
Elenco: Sarah Paulson, Evan Peters, Cheyenne Jackson, Billie Lourd, Alison Pill, John Carroll Lynch, Billy Eichner, Leslie Grossman, Cooper Dodson, Jorge-Luis Pallo, Zack Ward, Adina Porter
Duração: 51 min.