Obs.: contém spoilers do episódio. Leiam aqui as nossas críticas do restante da temporada.
Ryan Murphy pelo jeito tem total consciência de que estamos na reta final da temporada – apenas mais dois episódios pela frente – e nos traz aqui, em Chapter 8, um verdadeiro show de horrores, que consegue superar toda a tensão gerada nos outros capítulos. Ao invés de concentrar o clímax em apenas um episódio, o showrunner opta por estendê-lo por diversos outros, criando a sensação no espectador que, de fato, não há esperança para qualquer personagem ali, por mais que saibamos que um deles irá sobreviver. Roanoke definitivamente não para de nos impressionar.
A trama dessa semana se divide em dois focos distintos. O primeiro permanece na fatídica casa, com Shelby e Dominic cercados pelos Outros e tendo de lidar com os seres sobrenaturais presentes ali. O roteiro de Todd Kubrak é certeiro em nos lembrar o que acontecera nos episódios anteriores sem soar didático, aproveitando o drama de cada personagem. Após o acesso de ira de Shelby chegara a hora dela encarar o que fizera e a personagem encontrou seu fim ideal – ela já enfrentara tudo aquilo antes e tinha total consciência de que sua sobrevivência fora baseada principalmente na sorte. Lily Rabe não nos desaponta e nos traz um perfeito retrato da derrota, de alguém que se entregara e nos faz acreditar no suicídio de sua personagem.
Cuba Gooding Jr., por sua vez, nos impressiona ainda mais pela maneira como realiza diferentes papéis dentro de uma mesma temporada. Sua encarnação de Matt é totalmente diferente de Dominic e mesmo dentro desse segundo personagem ele demonstra uma gama de emoções e diferentes facetas. Temos o homem que se importa com Shelby, a pessoa que apenas quer sobreviver e o ator preocupado com sua carreira. Eu ousaria dizer que ele é mais crível dos indivíduos nessa casa, nos entregando uma personificação bastante humana, repleta de camadas e que não peca pelo exagero. Sua presença fará falta nos próximos dois capítulos.
O segundo foco de Chapter 8 gira em torno de Audrey, Monet e Lee, esta última sendo a versão American Horror Story de Carol (The Walking Dead). A tensão aqui é, sobretudo, criada através da expectativa, a iminência dos atos canibais da família Polk. O roteiro, porém, não permanece somente no terror e parte para o horror com a tortura desses personagens, desde os pedaços arrancados de Lee, até o dente de Audrey. O que mais nos deixa nervosos, contudo, é a construção dessas cenas, o suspense, a espera que vem antes do ato em si, que não nos dá tempo para respirar a qualquer momento.
Sarah Paulson e Adina Porter ganham o destaque aqui. A primeira nos traz uma perfeita caricatura da pessoa cheia de si, que considera a carreira mais importante que tudo, eclipsando até mesmo sua sobrevivência – ela não se preocupa em viver o resto de sua vida e sim nos papéis que poderia realizar, chegando ao ponto do ridículo, no qual grava um vídeo para seus fãs. Adina, por sua vez, consegue demonstrar o abalo psicológico de sua personagem enquanto permanece forte, planejando a cada instante sua fuga. A adrenalina que pulsa pelo corpo de Lee chega a ser palpável e só vemos a desconstrução da personagem quando ela encontra o cadáver de seu irmão.
A direção de Gwyneth Horder-Payton faz um ótimo trabalho construindo toda essa atmosfera de constante tensão. Ela praticamente não nos mostra nada, alterna entre as diferentes câmeras dispostas pelo local a fim de ocultar tanto as criaturas que perseguem Dominic e Shelby, quanto as ações da família Polk. Muito é deixado para nossa imaginação e inúmeras vezes a câmera mostra um determinado local nos fazendo acreditar que algo irá ocorrer. O exemplo disso é o banheiro, com a cortina em volta da banheira sempre fechada e sempre em quadro – a todo instante esperamos que algo apareça ali, mantendo nosso coração no acelerado ritmo constantemente.
Com um cliffhanger que nos faz questionar tudo o que vemos até então, Chapter 8 é encerrado, nos entregando, definitivamente, o episódio mais frenético até então. Com duas mortes de personagens relevantes o cerco se fecha ainda mais na casa e, por mais que algumas decisões soem irreais, como a vontade de Lee em voltar para a fazenda dos Polk, não podemos deixar de sermos totalmente fisgados por Roanoke. Falta pouco para o término desse ano e, até agora, Ryan Murphy não errou sequer uma vez. Resta torcer para que o recorde se mantenha por mais duas semanas.
American Horror Story 6X08: Chapter 8 — EUA, 02 de novembro de 2016
Showrunners: Brad Falchuk, Ryan Murphy
Direção: Gwyneth Horder-Payton
Roteiro: Todd Kubrak
Elenco: Angela Bassett, Wes Bentley, Sarah Paulson, Cuba Gooding Jr., Lily Rabe, Adina Porter, Finn Wittrock, Robin Weigert
Duração: 45 min.