- Há SPOILERS. Leia aqui as críticas dos outros episódios.
Ah, uma das piores séries do ano passado retorna! Apesar de uns dois episódios razoáveis, a primeira temporada de American Horror Stories é um desfile de mediocridade, seja do roteiro, direção ou atuações. Aliás, o último episódio do ano de estreia, Game Over, é uma das coisas mais tenebrosas que já tive o desprazer de assistir na televisão. Se tem algo que Ryan Murphy conquistou com a série de terror é me deixar morrendo de medo de ver mais uma história da obra antológica…
E, como num belo pesadelo da vida real, cá estamos no início de uma nova temporada. Eu poderia dar uma de crítico fingido e dizer que estou de braços abertos para os novos capítulos do seriado, mas a verdade é que tenho expectativas baixíssimas e estou assistindo a série de pura má vontade. Me reconforto nos miseráveis que são fiéis à franquia e a mim para sofrerem as torturas semanais – ou pelo menos espero que tenha alguém (se pronunciem, por favor). E também sei que tem os fãs da série, neste momento torcendo o nariz para meu veneno escorrendo pelo teclado, mas se acalmem, vamos debater e, quem sabe, talvez eu até goste de alguns episódios.
Aliás, Dollhouse, episódio que abre o segundo ano de AHStories, nem é essa monstruosidade toda. Aos meus olhos, não chega a ser bom, mas também não está próximo de alguns exemplares horrorosos que vimos ano passado. Como o título indica, temos uma história circulando o famigerado conceito de bonecas em obras de terror. Acompanhamos Coby (Kristine Froseth), uma moça que vai numa entrevista de emprego com o Sr. Van Wirt (Denis O’Hare), um ricaço que tem uma empresa que vende bonecas. Ao fim da entrevista, Van Wirt sequestra a jovem, colocando-a numa casa de bonecas em escala real, junto de outras mulheres, todas encarceradas e obrigadas a participar de competições domésticas para sobreviver.
Primeiramente, gosto da certa ironia do roteiro. Normalmente vemos bonecas(os) como antagonistas, sejam ganhando vida própria ou sendo recipientes de entidades malignas. Aqui, elas são vítimas simbólicas. A produção acaba não explorando nada muito subversivo nesse sentido, mas é algo interessante conceitualmente. Também gosto da participação de O’Hare, sempre atuando com uma aura sinistra.
O mistério da história funciona até certo ponto, e aprecio um pouco os joguinhos macabros do antagonista. Há um sentimento genuíno de apreensão durante as competições, criando uma atmosfera enervante em torno da situação e as personagens – também há de se valorizar o trabalho do design de produção com os cenários e os vestuários. Aliás, o momento ali perto do desfecho revelando Coby com uma boneca transformada é realmente aterrorizante de se ver.
Mas, como sempre, a série tem muito mais limitações do que qualidades. Apesar da premissa ser bacana, o texto oferece pouco material para a direção trabalhar. Não temos boas encenações ou trabalho visual, até porque o episódio como um todo é muito estático. As competições, por mais bacaninhas que sejam, roubam muito tempo narrativo e deixam a história estagnada. Os poucos momentos fora da casinha (a sequência da floresta e da mansão) são pobremente exploradas pela produção. Também falta força na morte das garotas, e nem digo algo necessariamente gore, mas algo mais impactante ou pelo menos misterioso – é criado todo um lance de perigo em volta do poço e não vemos nada recompensador por esse lado narrativo.
Além disso, como vários episódios de American Horror Stories até aqui, Dollhouse tem escolhas e resoluções forçadas demais. O relacionamento entre Coby e o garotinho não tem um pingo de naturalidade, e a assassina de coleguinhas também soa deslocada na história. Mas nada chega perto daquele final podre, com as bruxinhas aparecendo e o garoto entrando para a versão Hogwarts de AHS. Eu sei que o desfecho tem ligações com outra temporada da franquia, mas isso não deixa a situação mais orgânica ou menos constrangedora. É conveniente, mal construído e embaraçoso de assistir. Enfim, AHStories está de volta!
American Horror Stories – 2X01: Dollhouse | EUA, 21 de julho de 2022
Criação: Ryan Murphy, Brad Falchuk
Direção: Loni Peristere
Roteiro: Manny Coto
Elenco: Kristine Froseth, Denis O’Hare, Houston Towe, Abby Corrigan, Simone Recasner, Maryssa Menendez, Emily Morales-Cabrera
Duração: 47 min.