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Crítica | American Gods – 3X08: The Rapture of Burning

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

Sou o primeiro a reconhecer que a 3ª temporada de American Gods mal anda para a frente e que um episódio eminentemente focado em Salim, personagem que nem deus é e que não parece ter grande importância geral na série, pode parecer um desvio narrativo grande demais, especialmente a essa altura do campeonato. Entenderei perfeitamente quem achar isso, pois é uma conclusão razoável, mas tenho para mim que tudo depende da execução e a execução de The Rapture of Burning, que parece encerrar o primeiro (ou o único, não sei) arco narrativo do imigrante islâmico, foi muito interessante e muito bem trabalhada e, mais ainda, deixou espaço para que as tramas realmente importantes para a temporada como um todo andassem a passos largos, sem enrolação.

Diria até que este foi o episódio que mais fez a temporada andar para a frente, pois não só Laura Moon conseguiu Gungnir, a lança de Odin, cortesia do leprechaun Doyle (Iwan Rheon), como ela conseguiu lidar com seu passado recente, mais precisamente com o luto não processado que ainda sentia por Mad Sweeney. Além disso, o sequestro de Shadow Moon por Tyr não se transformou em uma subtrama arrastada e cansativa, sendo logo resolvida pela chegada de Odin e por um belo duelo no plano divino, com direito a armaduras e um Ian McShane muito bem caracterizado como o Pai de Todos, inclusive com uma horrorosa cicatriz no olho em um baita trabalho de maquiagem. Claro que essa sequência de ação poderia ter ganhado mais tempo de tela, mais construção e uma abordagem ainda mais violenta e visceral, mas ela cumpriu sua função de também enterrar de vez essa rivalidade milenar entre os dois irmãos, algo que combina também com o fim da trama envolvendo Deméter que, infelizmente, até agora, não gerou fruto algum na temporada.

Até mesmo a narrativa envolvendo o Garoto Técnico parece ter caminhado bem, com Bilquis – ou seria uma criação mental do Novo Deus na forma de Bilquis – ajudando-o a sair da prisão cibernética que Ms. World (na forma de Dominique Jackson novamente, na base do “porque sim”) o colocou para resolver seus glitches. Será essa uma indicação de que o rapaz bandear-se-á para o lado dos Antigos Deuses? Caso positivo, esse é mais um ponto a reforçar a crescente importância não dele, mas de Bilquis na série, o que é, claro, uma escolha muito boa, ainda que falte “direção” a essa elevação da deusa a um papel mais relevante do que apenas uma curiosidade, como ela acabou relegada nas temporadas anteriores. Mesmo que o papel em si dos Novos Deuses não esteja lá muito claro, com o plano de Ms. World mantido tão secreto e lento quanto a guerra de Odin, esse desenvolvimento, se for confirmado, pode alterar a dinâmica da série, o que seria muito bem-vindo.

Deixei por último o personagem mais importante do episódio, que mencionei no parágrafo de abertura. Salim tem uma jornada de redescoberta em The Rapture of Burning, em que ele não só aceita que seu Jinn não mais voltará, como ele tem um efetivo despertar para sua sexualidade. Pode parecer para muitos uma repetição temática, pois isso, de certa forma, já havia acontecido quando os dois se relacionaram antes, mas Salim foi mantido como um personagem tímido, extremamente reprimido por sua própria incapacidade de realmente aceitar quem ele é. Com toda a construção da história pregressa do Grand Peacock Inn (olha a simbologia do pavão novamente!) e de sua dona Toni (Dana Aliya Levinson), com direito à visita de Tur Er Shen (Daniel Jun), o deus chinês da homossexualidade, que transforma o local em um santuário, Salim entra em uma bonita espiral de aceitação profunda de quem ele é e, mais do que isso, faz as pazes com seu deus, prometendo seguir seu próprio caminho dali em diante.

Como afirmei, é, sem dúvida alguma, um arco de um personagem menor que ganha um fechamento digno. Ele fará sentido – e aí a análise só poderá ser feita em retrospecto – se os protagonistas tiverem encerramentos ainda mais completos e mais bem trabalhados, pois será estranho focar tanto em Salim sem que os demais ganhem o mesmo tratamento. Claro que, se Salim, como Bilquis, passar a galgar a escada que leva do tratamento de personagem coadjuvante a pelo menos um coadjuvante semi-protagonista, que tenha realmente relevância para o desfecho do conflito entre deuses, aí sua abordagem ampla, aqui, ganhar justificativa. Novamente, só o tempo dirá, mas, julgando o episódio por seus méritos, foi, sem dúvida alguma, uma bela maneira de lidar com um personagem que, até este momento, parecia uma ponta solta, tão perdido quanto ele realmente parecia estar.

The Rapture of Burning é outro episódio de qualidade da temporada, o segundo em seguida, o que é uma excelente notícia considerando que faltam apenas dois para seu fim. Se, no agregado, será suficiente para retirar o terceiro ano da série da mediocridade, teremos que esperar mais duas semanas para ver. No entanto, já começo a ficar mais animado, com um ponta de esperança…

American Gods – 3X08: The Rapture of Burning (EUA, 07 de março de 2021)
Showrunner: Charles H. Eglee
Direção: Tim Southam
Roteiro: Holly Moyer
Elenco: Ricky Whittle, Ian McShane, Emily Browning, Yetide Badaki, Bruce Langley, Omid Abtahi, Ashley Reyes, Eric Johnson, Julia Sweeney, Lela Loren, Andi Hubick, Cloris Leachman, Erika Kaar, Denis O’Hare, Herizen F. Guardiola, Danny Trejo, Devery Jacobs, Iwan Rheon, Dominique Jackson
Duração: 51 min.

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