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Crítica | American Gods – 3X01: A Winter’s Tale

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica dos episódios anteriores.

American Gods é uma das séries mais amaldiçoadas (pelo deuses, será?) da atualidade. Na 3ª temporada e já em seu terceiro showrunner depois de saídas dos anteriores com base nas boas e velhas alegações de “diferenças criativas”, de diversas mudanças do elenco de apoio, inclusive com Orlando Jones fazendo alegações desconcertantes sobre a razão de sua demissão, a adaptação audiovisual da obra homônima de Neil Gaiman vem bravamente resistindo ao cancelamento, com o timoneiro atual, Charles H. Eglee, fazendo o que precisa fazer para o começo do novo ano: parar tudo e, ato contínuo, rebobinar um pouco para tentar colocar tudo nos eixos novamente.

Não é uma tarefa fácil, especialmente considerando que a saída de Jones maculou a série como um todo considerando que seu personagem, Mr. Nancy, era um de seus melhores coadjuvantes e também levando em conta que, desde o final da 2ª temporada, nada menos do que um ano e nove meses transcorreram, quase o dobro do que o tempo normal. A Winter’s Tale, porém, não é um recomeço ou um reboot ou nada parecido, mas sim uma eficiente recapitulação, um episódio milimetricamente pensado para fazer o espectador relembrar da série e para fazer as mudanças regidas pela visão no novo showrunner e pela saída de nomes importantes do elenco.

O maior exemplo dessa recapitulação é que, passados meses de Moon Shadow, Shadow Moon não está em Lakeside como parecia que ia acontecer não só pelos acontecimentos do episódio como pela importância dessa parte do livro para a história como um todo. Muito ao contrário, o protagonista está trabalhando sob o nome Mike Ainsel em uma fundição em Milwaukee, prestes a ganhar uma promoção com um trabalho para o governo que, claro, precisa fazer uma checagem de antecedentes criminais, o que, obviamente, não é no melhor interesse dele. Esse é o gancho para que Mr. Wednesday, revelado como Odin, o Pai de Todos e, especificamente, pai de Shadow, desta vez com novo figurino, uma “nova” versão de Betty e energizado por um show de rock em que ele é venerado pelo vocalista vivido por ninguém menos do que Marilyn Manson.

Com esse artifício simples, o roteiro de David Paul Francis usa a reunião de pai e filho para beneficiar não exatamente a história, mas sim os espectadores, trabalhando os diálogos para recontar o que é necessário recontar de maneira que, ao final, todo mundo esteja na mesma página. Paralelamente, a narrativa nos leva para o lado dos vilões, mais especificamente Mr. World, outrora vivido por Crispin Glover, mas que é “transformado” na Ms. World de Dominique Jackson em razão da saída do ator, em uma sequência que homenageia a inesquecível cena do taco de beisebol de Al Capone em Os Intocáveis. Da mesma forma que na conversa de Odin com Shadow, Ms. World e o Garoto Técnico ajudam a contextualizar o lado de lá da rivalidade entre os deuses antigos e os novos.

Se o conflito macro é suficientemente bem trabalhado, com direito até mesmo a uma participação do sempre ótimo Graham Greene como Whiskey Jack (ou Wisakedjak, como queiram) em um plano divino dentro do plano divino, o mesmo não pode ser dito de Laura Moon tentando ressuscitar Mad Sweeney (Pablo Schreiber infelizmente não foi escalado novamente para o papel, pelo que não ficou claro ainda o que acontecerá), já que as sequências dedicadas ao ritual, apesar de uma marginalmente interessante extração de moeda da sorte de dentro do corpo da moça, parecem completamente deslocadas no contexto geral. Tudo bem que o objetivo foi criar um mini-cliffhanger, mas esse lado do episódio ficou perdido até mesmo em termos de ritmo e estrutura, destoando de tudo ao redor.

Mesmo retrocedendo um pouco, o roteiro de A Winter’s Tale inteligentemente deixa espaço para que, ao final, com Shadow finalmente chegando à gelada Lakeside, haja um bom encaixe com o ponto em que fomos deixados na temporada anterior. Tendo lido o livro, devo dizer que os capítulos dedicados aos acontecimentos na cidadezinha não me parecem fáceis de serem adaptados, mas, como American Gods não tem se preocupado demasiadamente em seguir o material fonte, pode ser que saia coisa boa daí. Agora é esperar para ver e torcer para que Charles H. Eglee tenha feito as oferendas corretas aos deuses para que a qualidade da 1ª temporada retorne.

American Gods – 3X01: A Winter’s Tale (EUA, 10 de janeiro de 2021)
Showrunner: Charles H. Eglee
Direção: Jon Amiel
Roteiro: David Paul Francis
Elenco: Ricky Whittle, Ian McShane, Emily Browning, Yetide Badaki, Bruce Langley, Omid Abtahi, Ashley Reyes,  Dominique Jackson, Eric Johnson, Julia Sweeney, Graham Greene, Marilyn Manson
Duração: 56 min.

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