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Crítica | American Crime Story – 3X08 e 3X09: Stand by Your Man / The Grand Jury

Clinton vs Clinton. Lewinsky vs Tripp.

por Iann Jeliel
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The Grand Jury
  • Contém SPOILERS. Acompanhe por aqui as críticas dos demais episódios de Impeachment, e aqui, as críticas de nosso material da série.

Semana passada sofri um golpe de estado que me impossibilitou de fazer a crítica do antepenúltimo episódio da temporada. Desse modo, hoje trago não só a crítica do penúltimo episódio de Impeachment, como também a do anterior que deixei passar.
. The Grand Jury

3X08 – Stand By Your Man

The Grand Jury

Stand By Your Man é um episódio aparentemente deslocado numa temporada que tanto focou em Monica Lewinsky (Beanie Feldstein), Bill Clinton (Clive Owen) e Linda Tripp (Sarah Paulson), mas que traz uma perspectiva muito bem-vinda (e não tardia) do sentimento de Hillary Clinton (Edie Falco) aos escândalos envolvendo seu marido. A proposta dessa terceira temporada era dar enfoque nas vítimas femininas que protagonizaram os bastidores do caso e, gostando dela ou não, Hillary se encaixa como uma delas. O episódio em questão tenta comprovar isso através de um micro estudo da personagem, buscando compreender e enviesar o estranho apoio que deu ao presidente no contexto da época, revelando ser uma defesa de fachada, motivada por uma mescla de preservação mínima de sua imagem com a não-destruição da imagem de quem ela tanto ama, apesar do histórico de acontecimentos .

Há todo um passeio retroativo na linha do tempo para elaborar um panorama crível do porquê somente o caso de Mônica implodiu a relação dos Clinton para Hillary. É demonstrado na citação do caso Gennifer Flowers que ela já sabia da veracidade dos outros casos amorosos de Bill. Não era a  negação de uma realidade defendê-lo, pelo contrário, era a aceitação dela em prol da continuidade do comprometimento político e emocional do casal. A primeira-dama encobria o marido para além de manter-se numa posição privilegiada de poder pelo conjunto. Ela realmente acreditava que a união dos dois era a força que o país precisava, tanto que sacrificava sua imagem pessoal para que os dois saíssem maiores da situação. A traição por ela sentida vai muito mais pela mentira de Bill do que por descobrir que o envolvimento dele com Mônica era real. Em um diálogo do episódio passado ela deixava claro que não haveria problema se ele admitisse. Como ele não admitiu, por medo de perder a confiança de um escudo por tantas outras ocasiões, o casamento “cairia por terra” internamente, pois Hillary sai execrada pela população por defender um erro que não cometeu (tendo que sustentar isso depois, sem querer, após saber da mentira), enquanto Bill, ao fim, fica como perdoado às  suas custas.

As cenas que eles se confrontam em palavras são ótimas, porque, novamente, Bill não é tratado de maneira unilateral. Quando ele implora por perdão no final e chora sozinho na beira da piscina, acreditamos que existe arrependimento por de trás do instinto malicioso e que ele realmente amava Hillary também, só não soube demonstrar isso com sacrifícios à  sua índole ou imagem. Por exemplo, é evidente a falta firmeza em seu discurso esclarecedor ao público lamentando sobre o caso, quando comparado à maneira que dá ordem para a execução da ação de captura de Bin Laden. Outro exemplo vem quando comparamos coragem de enfrentamento quando vai manipular Jackie Bennett (Darren Goldstein), Ken Star (Dan Bakkedahl) e sua equipe em tribunal, enrolando sobre os conceitos ou não do que é uma “relação sexual” para não responder perguntas diretas – excelente cena, inclusive –, com a covardia de quase não ter a coragem de contar para Hillary dando essa tarefa ao seu supervisor, David E. Kendall (Peter Oldring) e/ou quando tenta forçar uma noite “como se nada tivesse acontecido” de jantar, com ela, com Vernon Jordan (Blair Underwood) e sua esposa Ann (Diahnna Nicole Baxter).

A força do episódio, portanto, passa muito pela encenação que envolve os Clinton, mas há também as participações relevantes do núcleo de Mônica entrecortando o principal, retirando a parte burocrática do próximo episódio, onde  ela contaria toda a verdade. Até por isso, sua participação fornece mais o posicionamento dos fatos cronologicamente do que uma progressão dramática  após aparentemente ter caído na realidade ao ver a última declaração do presidente. Tanto que há um salto temporal para evitar mostrar um provável longo período de lamentação até sua postura mais madura e pronta para encarar esse fantasma da melhor maneira, criando coragem para despedir seu advogado midiático William H. Ginsberg (Fred Melamed), contratando o mais competente Plato Cacheris (Warren Sweeney) que lhe conseguiu um acordo seguro de imunidade.  Stand By Your Man é um “filler” que Paula Jones (Annaleigh Ashford) poderia ter tido também na série, o que não anula o fato de Hillary merecer ter sua história contada.

American Crime Story (Impeachment) – 3X08: Stand By Your Man | EUA, 26 de Outubro de 2021
Showrunners: Ryan Murphy, Sarah Burgess
Direção: Rachel Morrison
Roteiro: Daniel Pearle, Flora Birnbaum (baseado no livro A Vast Conspiracy: The Real Story of the Sex Scandal That Nearly Brought Down a President de Jeffrey Toobin)
Elenco: Beanie Feldstein, Edie Falco, Clive Owen, Colin Hanks, Mira Sorvino, Blair Underwood, Fred Melamed, Dan Bakkedahl, Darren Goldstein, Rae Dawn Chong, Rob Brownstein, Christopher McDonald, Scott Michael Morgan, Patrick Fischler, George Harrison Xanthis, Morgan Peter Brown, Joseph Mazzello, Christopher May, Peter Oldring, Diahnna Nicole Baxter, Craig Welzbacher, Brian Maillard, Anastasia Barkow, Jared Gertner, Alan Starzinski, Sharmita Bhattacharya, Jason Cook, Dylan Jones,
Mike Randleman, Chopper Bernet, Jeff Marlow, Warren Sweeney, Jayne Han, Carrie Gibson
Duração: 59 minutos
. The Grand Jury

3X09 – The Grand Jury

The Grand Jury

Na proposta de denúncia dessa temporada, The Grand Jury é basicamente um clímax com antecedência, embora sua condução passe longe de ter uma exaltação característica do que seria um fim de uma história com tamanho escopo. É verdade que o real fim é o processo de Impeachment que possivelmente será documentado e emulado na season finale, porém, considerando os alicerces temáticos, o aspecto narrativo primário foi finalizado aqui no exorcismo emocional das vítimas em contar e aprender com a verdade que carregam. Se a parte traumática havia sido devidamente encenada de fora para dentro, ela precisava ser solta de dentro para fora numa nova encenação em tom de desabafo terapêutico, num júri certamente mais otimista do que realmente aconteceu. Não sei dizer até onde existiu uma liberdade criativa na sequência, a ponto de os jurados praticamente terem passado a mão na cabeça de Monica para tudo o que ela também fez, mas fato é que a construção cenográfica é suficientemente convincente para parecer realista e, ao mesmo tempo, dar uma justiça poética à memória do que o caso representa a Lewinsky.

Metade do episódio é basicamente a dificuldade do processo de contar o trauma e a privacidade com o presidente em detalhes (para contrapor o argumento de Clinton em não classificar seus encontros em “relações sexuais”, de acordo com a definição que lhe foi fornecida) com a recompensa de ser recepcionada devidamente de maneira empática, especialmente pela forma desumana com  que foi abordada no shopping pelo FBI.  A outra metade, seria dedicado para fazer o mesmo com Linda Tripp, só que uma recepção inversa, julgando seu ato egoísta não com a intenção de vilaniza-la, mas sim de fazê-la cair na realidade. Basicamente, ela descontou em Monica seu sentimento de traída, inicialmente válido, mas que foi perdendo a razão numa paranoia também consequência de seu egoísmo. Ora, ela tinha um complexo de perseguição, mas também outro de necessidade de afirmação alheia. Dois complexos que não se batem. Por isso ela sofreu antes de armar contra a amiga e continuou sofrendo depois quando o resultado não foi o esperado. Negar virava uma consequência automática de um processo de autodefesa quando as intenções de ser uma heroína não eram enxergadas pelos outros.

Isso fica muitíssimo claro no seu discurso para a TV perto do final do episódio. A cena valoriza alguns poucos segundos de sua reação ao terminar de discursar e receber as perguntas, que ignoram o que ela falou e vai para questionamento do tipo: “como se sente em trair Mônica?”. Sentimos o peso do arrependimento em seu olhar, não por ter feito o que fez, mas por não ter valido a pena o esforço, porque jamais o povo iria enxergá-la da maneira que idealizava. Mudando de núcleo, outra cena espelhada nesse mesmo sentido é a de Bill desabafando abertamente com Hillary. Há uma catarse dramatúrgica  tremenda na atuação de Clive Owen ao expor todo arrependimento mostrado nos demais episódios, e é justamente ela que mostra o quanto esse pesar não está pelo que fez, mas pelas consequências. É, de certo modo, uma justiça poética tanto ele quanto Tripp saírem sem o perdão que gostariam, por mais que seja dolorido (o que demonstra o quão bom foi o desenvolvimento desses personagens), eles plantaram o que colheram, ainda que Clinton tenha sido absolvido, ainda que Tripp seja entendível.

Finalizando as várias justiças poéticas em The Grand Jury, temos talvez a melhor cena de Paula Jones até aqui, onde e ela discute com seu marido Steve (Taran Killam) pouco tempo após fazer uma plástica no nariz. Como falei inúmeras vezes, gostaria de ter visto mais de Paula, embora todas as suas cenas tenham sido cirúrgicas e suficientes para trazer uma leitura substancial de sua perspectiva. Paula nunca se sentiu confortável em denunciar o abuso, teve coragem de fazer e por ela o acordo com dinheiro estava de bom tamanho, porque também era de seu desejo não se expor, tanto que a escolha da plástica foi mencionada como influenciada pelos comentários que passou a ouvir como figura pública. Ela se deixou levar porque o marido queria mais “por justiça” e quando perderam o caso, caiu a máscara de que, no fim das contas, ele nunca acreditou nela, pensava que tinha feito oral no presidente porque quis e ia usar esse fato para talvez conseguir extorquir benefícios. Steve era o verdadeiro interesseiro, mas foi Paula quem ficou com essa imagem, infelizmente. Felizmente, ela não deixou barato e mandou ele tomar naquele lugar numa típica cena “que satisfação, Aspira!”. Sentimento que vale para o que foi essa belíssima temporada de American Crime Story até aqui.

American Crime Story (Impeachment) – 3X09: The Grand Jury | EUA, 02 de Novembro de 2021
Showrunners: Ryan Murphy, Sarah Burgess
Direção: Rachel Morrison
Roteiro: Sarah Burgess, Daniel Pearle (baseado no livro A Vast Conspiracy: The Real Story of the Sex Scandal That Nearly Brought Down a President de Jeffrey Toobin)
Elenco: Sarah Paulson, Beanie Feldstein, Annaleigh Ashford, Margo Martindale, Edie Falco, Clive Owen, Colin Hanks, Mira Sorvino, Dan Bakkedahl, Darren Goldstein, Rae Dawn Chong, Taran Killam, Ashlie Atkinson, Scott Michael Morgan, Patrick Fischler, Joseph Mazzello, Lindsey Broad, Christopher Redman, Judith Light, Craig Welzbacher, Brian Maillard, Emma Malouff,
Tom Simmons, Jenny C. Paul, Jim Rash, Ryan Nassif, Jamie Baer, Jared Gertner, Alan Starzinski, Warren Sweeney
Duração: 64 minutos

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