- Contém SPOILERS. Acompanhe por aqui as críticas dos demais episódios de Impeachment, e aqui, as críticas de nosso material da série.
Man Handled faz a ponte direta com o início de Exiles em que Monica (Beanie Feldstein) é cercada no shopping e escoltada até um quarto de hotel. Fiquei ligeiramente surpreso com essa retomada já no sexto episódio de Impeachment. Apesar de que, depois das provas adquiridas por Linda Tripp (Sarah Paulson), cronologicamente era esse o passo lógico a acontecer – imaginava algum episódio de meio, preparatório, antes desse primeiro clímax. Que bom que não teve, ou no caso, que o anterior serviu para isso, mesmo sendo o melhor episódio da temporada até então. Que bom que o texto afiado de Sarah Burgess implique todo um capítulo para esse primeiro interrogatório entre Monica e agentes do governo, mesmo que, no frigir dos ovos, não tenha sido essa a derradeira conversação que consolidou o pedido de afastamento do presidente Clinton (Clive Owen).
Ele que nem aparece neste episódio, porque lembremos, a proposta crítica da showrunner ao lado de Ryan Murphy, que assume a direção aqui, era oferecer a perspectiva desoladora e angustiante de Monica na situação. Nesse sentido, a encenação em Man Handled não poderia ser melhor executada. Quer dizer, ainda tenho problemas com a lente às vezes afobada de Murphy, mas neste caso, além de bem localizada, adere a um papel fundamental para alavancar um sentimento de claustrofobia sobre a vítima. De estar completamente cercada, com poucas alternativas e sem a maturidade suficiente para tomar a decisão que lhe é cobrada, mesmo que não fosse cobrada a “ferro e fogo”. Penso que o mérito maior de Murphy é extrair o desespero da personagem, visualizar seu choque de realidade, aproximar sua angústia do público, visando a extrair entretenimento do suspense de seus sentimentos e das ótimas trocas de diálogos bem escritos. O envolvimento do telespectador passa pelas várias liberdades poéticas de como foram os detalhes daquelas quase doze horas de negociação, mas a proposta circunstancial nunca admite maniqueísmo sobre os outros lados.
Isso fica claro em Tripp, por ser bastante explorada em nuances antes, e que aqui, em outra performance corporal estudada de Sarah Paulson, explicita todo seu arrependimento com pingos de orgulho ao fazer “a coisa certa” – a cena em que troca olhares com Monica no shopping após ser liberada é o retrato perfeito para fechar esse arco de traição. Contudo, também fica bem evidente na figura de Mike Emmick (Colin Hanks). É nítida a empatia em seu rosto conflitando com seu senso de dever no trabalho. Isso torna crível que ele tente administrar a situação da melhor forma possível, apesar do estresse gerado, que seu Jackie Bennett (Darren Goldstein) não faz questão de esconder em seus picos explosivos. Ambos parecem ser colocados no texto como ferramentas, mesmo. Jackie para trazer o lado mais intimidador de que aquela situação não tem escapatória, enquanto Emmick fornece brechas para que seja possível ludibriá-la, ainda que a maioria não exatamente dê em algo – as ligações, idas ao banheiro, passeios no shopping –, isso valoriza a crescente de tensão do episódio.
Seria ainda melhor se apostassem a condução de Man Handled inteiramente em cenário único, mas há algumas outras cenas passadas em ambientes diferentes que não chegam a quebrar a atmosfera do suspense, por estarem, em sua maioria, dramaticamente conectadas aos eventos principais, mas que poderiam ter sido conduzidas de maneira mais subjetiva. Exemplifico nas cenas de ligações, em que poderiam ter simplesmente acompanhado as falas de um lado da linha e não a encenação da conversa do outro pela da pessoa que não estava presente no quarto do hotel. Tornariam os desdobramentos, para o aspecto de entretenimento, menos previsíveis. Ver a mãe (Mira Sorvino) e o pai (Rob Brownstein) de Monica agindo por trás para resolverem a situação meio que entrega (mesmo não sendo “de bandeja”) que o veredito seria a escapatória momentânea da filha. Seria bem mais interessante deixar essas conversas implícitas, mantendo a dúvida sobre o que iria acontecer até o fim do episódio.
Também não gosto tanto do apelo dramático vindo em certas ameaças de suicídio de Monica, além de um certo overacting da intérprete Beanie Feldstein em alguns momentos, que fazem a emulação dos fatos flertar um tanto com a inverossimilhança. Mesmo que tenham sido relatadas tais ameaças, o episódio tenta utilizar esse elemento para gerar suspense, passando da linha que permite criar suspense sobre fatos consumados, pois é óbvio que isso não teria chances de dar em algo. Apesar desses pontos, Man Handled converte toda sua construção isolada e conjunta perante os demais episódios para potencializar o drama da narrativa. Quando aquela pressão toda acaba, e Monica e Marcia chegam em casa simplesmente desabando, sentimos o peso do trauma gerado por aquele momento na trajetória. Assim, justificando a importância de dedicar tanto tempo a ele, sendo recompensada na execução de outro grande episódio.
American Crime Story (Impeachment) – 3X06: Man Handled | EUA, 12 de Outubro de 2021
Showrunners: Ryan Murphy, Sarah Burgess
Direção: Ryan Murphy
Roteiro: Sarah Burgess, Daniel Pearle (baseado no livro A Vast Conspiracy: The Real Story of the Sex Scandal That Nearly Brought Down a President de Jeffrey Toobin)
Elenco: Sarah Paulson, Beanie Feldstein, Clive Owen, Colin Hanks, Mira Sorvino, Fred Melamed, Dan Bakkedahl, Cobie Smulders, Darren Goldstein, George Salazar, Rob Brownstein, Teddy Sears, Craig Welzbacher, Brian Maillard, Emma Malouff, Christopher Wallinger, James Thomas Gilbert, David Babich, Mickey Maxwell, Chelsea Averill, Natasha Sill, Debbie Zaltman, Edith Fields, Eliza Shin, Brandon Bale
Duração: 59 minutos