Encerrando com categoria a primeira temporada do revival de Amazing Stories (Histórias Maravilhosas), The Rift traz uma adaptação da HQ homônima de 2017 escrita pelo americano Don Handfield e pelo britânico Richard Rayner, com arte do piauiense Leno Carvalho, que, por sua vez, parece ser fortemente inspirada no clássico Nimitz – De Volta ao Inferno só que ao contrário. No lugar de um porta-aviões moderno ser transportado para a 2ª Guerra Mundial em razão de um fenômeno misterioso, é um piloto americano lutando por sobre Rangun que cai em Ohio. Ou seja, a temporada acaba como começou com The Cellar, abordando o eterno e sempre bem-vindo artifício sci-fi da viagem no tempo, ainda que de maneiras bem diferentes.
Sem perder muito tempo, o episódio começa com Mary Ann (Kerry Bishé) e Elijah (Duncan Joiner), respectivamente madrasta e enteado, em viagem de mudança quando o mencionado avião passa raspando por sobre suas cabeças e cai em um riacho. O piloto, o tenente Theodore Cole (Austin Stowell), é salvo por Mary Ann e logo levado pelas autoridades para o hospital mais próximo, enquanto um agência governamental secreta chega ao local do acidente para tomar controle de tudo e reverter os efeitos da “fenda” do título. A partir daí, o óbvio passa a acontecer, com Elijah conectando-se com o piloto e os dois, em fuga, tentando entender exatamente o que aconteceu e como evitar o pior.
Mais uma vez, Amazing Stories não tenta surpreender com linhas narrativas originais ou mesmo com a execução original de linhas narrativas batidas. Ao contrário, a série esmera-se em trabalhar os clichês e até os arquétipos narrativos sem maiores invencionices, entregando, normalmente, capítulos honestos, bem feitos e que tem o entretenimento como foco principal. The Rift não é diferente, mas, talvez indo um pouco além do que os demais episódios foram, o roteiro escrito pela dupla responsável pela HQ sabe criar relações enternecedoras entre Mary Ann e Elijah e entre Elijah e Theodore que usam as coincidências inerentes ao gênero e à história como parte da engrenagem para justificar certas conveniências, o que acaba funcionando muito bem.
Além disso, há uma boa e imediata conexão entre Bishé, Joiner e Stowell, com os três atores estabelecendo química em qualquer dupla que formem, algo que não só deve ser creditado ao elenco, como também ao trabalho de direção de Mark Mylod, com extensa carreira em séries como Entourage, Game of Thrones, Shameless e Succession. Mesmo na correria e tendo ainda que lidar com a equipe de “Homens de Preto” que chega ao local, o cineasta tem excelente controle de câmera, mantendo uma estrutura fácil de acompanhar e aplicando filtros em momentos precisos, como quando Theodore lembra de sua casa antes de partir para a guerra ou segurando boas tomadas com fotografia noturna sem muito esforço como a da pista de pouso mais ao final.
A correria que o roteiro impõe à direção é, sem dúvida, o ponto mais fraco do episódio, que mereceria uma minutagem um pouco mais alongada ou, até mesmo, arrisco dizer, a divisão em duas partes para que um pouco mais desse universo construído velozmente pudesse ser abordado com mais vagar. Por outro lado, é sempre um sinal positivo quando queremos ver mais de determinada cena e é exatamente isso que acontece muitas vezes, como no reencontro de Theodore com sua esposa ou na conexão à beira do rio dele com Elijah.
The Rift vem para fechar com chave de ouro a mini-temporada inaugural de Amazing Stories, entregando substancialmente mais da mesma atmosfera agradável e descompromissada de Sessão da Tarde que marcou a série oitentista original e que volta com força total pela Apple TV+. Só resta, agora, torcer pela renovação da série em formato de antologia para que ganhemos mais histórias maravilhosas spielberguianas para aquecer nossos corações.
Amazing Stories – 1X05: The Rift (EUA, 03 de abril de 2020)
Direção: Mark Mylod
Roteiro: Don Handfield, Richard Rayner
Elenco: Edward Burns, Kerry Bishé, Austin Stowell, Duncan Joiner, Juliana Canfield, Aly Ward Azevedo, Jay DeVon Johnson, Desmond Phillips, Andrew Benator, Bernardo Cubria, Michael Chandler
Duração: 48 min.