Tentando ser o selo de produção conhecida por remakes de filmes de terror, a Dark Castle Entertainment viu essa tocha ser assumida pela produtora criada por Michael Bay, Platinum Dunes, empresa responsável pelas refilmagens de O Massacre da Serra Elétrica e Horror em Amityville, sucessos de bilheteria e aceitação do público. E a organização tinha conseguido manter esse posto até 2007, com o também apreciado remake de A Morte Pede Carona mantendo uma linha de apreciação de novos cults clássicos com o antigo e novo público, o que podia ser observado, ainda, na estética imaginada para a safra de regravações do terror dos anos 2000.
E se o remake de Sexta-Feira 13, que reunia partes dos primeiros filmes da franquia slasher no argumento de Damian Shannon e Mark Wheaton dividiu o público em 2009, a chegada de Alma Perdida veio para ser o divisor entre o segmento de refilmagens com a tentativa de investirem em motes “originais”, quando na verdade, foi só mais um dos títulos surfando na onda das produções nipo-americanas. O terror sobrenatural com jumpscares estava em alta fazendo a típica fórmula de desvendar o mistério por trás de uma maldição do passado, porém, exceto O Grito (2004), era difícil alguém fazer bonito como O Chamado (2002), e David S. Goyer achava ter uma pérola de alto-conceito ao misturar os tropos derivativos de The Ring com os longas “inspirados” no ritual de exorcismo de O Exorcista.
De fato, tinha-se algo interessante na abertura – que demonstrou o tom exagerado da peça – que sinalizava uma introdução para o que o título original sugeria: uma trama sobre presságio, maldição e reencarnação, porém esquecida pelos excessos absurdos e explicativos escritos por Goyer. O engraçado é que tal dedução foi lembrada mesmo que nos últimos trinta segundos de The Unborn, exemplificou o desperdício de potencial para um argumento que poderia ter se aproveitado com criatividade (ao menos no conceito) desse cenário de horror sobrenatural nipo-americano, no entanto, o que Goyer optou foi lançar outro repeteco reproduzido tropos do terror japonês ao contrário de criar um terror psicológico sobre maternidade, uma gravidez mal-sucedida, ou o que quer que “unborn” pudesse ser.
Seguindo o caminho inesperado do que o título e início de Alma Perdida indicava, Goyer deixa o arco sobre gravidez de lado e passa a espalhar peças para uma mitologia que revela o surgimento de um demônio como resultado de experimentos realizados em Auschwitz em crianças gêmeas durante a Segunda Guerra Mundial. Junto a isso, Goyer injetava um pouco do folclore judaico sobre dybbuk, um espírito malévolo que vaga pela terra em busca de se apoderar de um corpo vivo, mas na lógica da trama, a entidade ia aos poucos se manifestando entre insetos, cachorros de cabeças invertidas e possessões entre até chegar na protagonista que descobre a maldição ao qual está conectada: Casey (Odette Annable).
Embora apresentasse um show de imitações e aplicações que remetem a outras produções, como a criança estranha sendo instrumento e porta-voz de um demônio lembrar The Ring, ou o conceito de espelhos serem portais para a entrada de entidades ser algo parecido com Espelhos do Medo, Goyer ainda conseguiu trazer elementos interessantes que funcionavam de maneira intrínseca em The Unborn. Muitos dos aspectos foram tratados como próprios da sua combinação de misticismo judaico e experimentos nazistas em vez de assumir como reproduções de tropos já vistos, porém, alguns fenômenos como manifestações da entidade conseguiam causar boas concepções paranormais, e seriam cenas como na abertura – que induzia uma atenção direta para as simbologias por trás maldição – que Goyer beneficiaria o tom onírico e perturbador de sua abordagem ao contrário de propor uma mitologia absurda para reproduzir sustos genéricos.
Quando Goyer não investia em cenas seguidas de alucinações para manipular a compressão do sobrenatural vs mundo real, perdia de vista qualquer potencial ao seguir uma cartilha de sequências com sustos fáceis sucessivos em excesso sem qualquer construção de suspense. O que fecha os vários exemplos de que Goyer não conseguia manter algo próprio em Alma Perdida é o ato final, onde deveria ter o ápice com um ritual de exorcismo e encerrar a história de maneira pessimista, mas nem mesmo o ritual em hebraico interrompido e possessões parecia querer assumir o caos que vinha alimentando sobre o demônio, e sim, em se assemelhar a algo tirado de Constantine. Entre combinações da cabala, lendas judaicas e experiências nazistas, como um bom roteirista e diretor, Goyer mostrava ser o maior fã de filmes de terror nipo-americanos, tanto que fez o seu.
Alma Perdida (The Unborn – EUA, 2009)
Diretor: David S. Goyer
Roteirista: David S. Goyer
Elenco: Odette Annable, Meagan Good, Cam Gigandet, Gary Oldman, Idris Elba, Jane Alexander, Atticus Shaffer, Carla Gugino, Ethan Cutkosky
Duração: 88 min