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Crítica | Aliens, O Resgate

Transformando terror em ação.

por Ritter Fan
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Aliens, dirigido e escrito por James Cameron, é uma lição de como se fazer uma continuação. Nada de meramente repetir o filme anterior, só acrescentando mais explosões ou trair o que veio antes inserindo elementos contraditórios à mitologia. Nada também de fazer algo gratuito, irrelevante. O diretor e roteirista criou talvez a melhor sequência da ficção científica, quiçá a melhor de todos os gêneros e ponto final.

A primeira conclusão que chegamos ao fim da projeção de Aliens é que houve um profundo estudo e respeito ao material fonte. E esse respeito vai tão longe que percebemos que até o gênero do filme foi alterado. Sim, continua sendo ficção científica, mas não é uma obra de terror como Alien. Há suspense, claro, mas o mote, na sequência, é ação, ação e mais uma vez ação, mas nunca de forma descerebrada e feita somente pelo espetáculo. Cameron sabia que o mistério que povoava o primeiro capítulo já não existia mais. Afinal de contas, o monstro já havia sido revelado e era impossível escondê-lo. Inventar outro seria uma heresia criminosa (sim, Mr. Scott, isso foi para você…). Assim, a solução foi usar o que o espectador já conhecia, apresentando elementos novos, surpreendentes.

Ripley (Sigourney Weaver), talvez a personagem mais azarada do Cinema, é achada flutuando no espaço na cápsula de fuga Narcissus, exatamente como Ridley Scott a havia deixado em sua obra seminal. Uma equipe de salvamento a localiza, mas, para sua surpresa, 57 anos se passaram desde que ela enfrentou o monstro. Ripley é um peixe fora d’água e, como se isso não bastasse, ainda tem que enfrentar um inquérito perante a empresa que trabalha para explicar o porquê de ela ter explodido uma nave de milhões de dólares com toda sua preciosa carga mineral. Obviamente, ninguém acredita na sua história de bicho-papão e ela sofre um rebaixamento, tendo que trabalhar com carga e descarga de materiais.

Mas, claro, alguma coisa muito errada acontece lá em LV-426, o planeta onde o facehugger havia estuprado Kane, no primeiro filme. O local, agora, é povoado por uma colônia de humanos que estão lá para “terraformar” o planetoide, ou seja, torná-lo habitável. Perde-se a comunicação com os colonos e Burke (Paul Reiser), representante da corporação Weyland-Yutani, junto com o Tenente Gorman (William Hope), tentam recrutar Ripley como uma consultora de uma expedição militar ao lugar. Ripley hesita, expulsa os dois de seu apertado apartamento, mas, finalmente, acaba aceitando.

Ripley, então, junta-se a um destacamento militar na nave de guerra Sulaco. Somos apresentados muito rapidamente ao Sargento Apone (Al Matthews), ao cabo Hicks (Michael Biehn) e aos soldados Hudson (Bill Paxton), Vasquez (Jenette Goldstein), Drake (Mark Rolston), Frost (Ricco Ross) e outros. Mais importante, conhecemos Bishop (Lance Henriksen), um androide de quem Ripley imediatamente se afasta, lembrando-se dos horrores perpetrados por Ash (Ian Holm) em sua outra tenebrosa aventura.

O que se segue daí é um filme de guerra em que o inimigo é uma horda de alienígenas muito parecidos aos do primeiro filme, que tomaram de assalto e aniquilaram toda a colônia de LV-426, com exceção da menininha Newt (Carrie Henn), que desperta os instintos maternais em Ripley. Cameron e sua equipe de design tomaram a liberdade de retirar um pouco do antropomorfismo do alienígena original, tornando-o mais animalesco, selvagem. Mas as mudanças não são radicais. Ao contrário, elas respeitam a perfeita criação de H.R. Giger e, ao mesmo tempo, dão um toque peculiar e próprio às criaturas.

O interessante é que, apesar de Cameron ter partido para a guerra franca, ele ainda economiza nas aparições dos bichos, pelo menos até o terço final da película. Na primeira vez que os soldados desastrosamente deparam-se com os monstros, eles estão, assim como em várias cenas do primeiro filme, perfeitamente camuflados no ambiente e nós, como os personagens, não conseguimos vê-los. Mesmo quando eles se revelam, a montagem não explicita a anatomia dos aliens e isso consegue sustentar uma boa dose de suspense, desespero e confusão.

Outro aspecto digno de nota é o quanto Cameron mantém a estrutura do primeiro filme. Desde o início, quando mostra os soldados acordando na Sulaco, passando pelo primeiro ataque, pela contagem regressiva e os finais falsos, o diretor faz uma mímica de Ridley Scott, mas sempre acrescentando ou mudando as cenas de tal maneira que ele realmente consegue acrescentar significado à trama, justificando a continuação. Vemos as marcas registradas do diretor em suas críticas aos militares e às corporações a cada sequência da obra, algo que ele viria a repetir com bem menos sutileza em Avatar. Até mesmo os equipamentos que marcaram Alien recebem a “versão Cameron”, como o detector de proximidade, o lança-chamas e a escotilha da nave. É o respeito sem a cópia barata. Algo que, infelizmente, falta nas sequências e prelúdios de hoje em dia.

E isso sem falar, claro, na cena em que acompanhamos Ripley em sua luta desesperada para achar Newt no ninho da mãe dos monstros. São momentos tensos, sem diálogos, apenas com Sigourney Weaver (e depois Carrie Henn também, meio que substituindo o gatinho Jonesy), de forma a espelhar, brilhantemente, os famosos 17 minutos finais do primeiro filme.

Mas, apesar da grande obra que o diretor criou, talvez sua maior contribuição tenha sido realmente a Rainha Alien. Há um belíssimo paralelismo entre Ripley e a monstruosa criatura: ambas são mães defendendo sua prole. O instinto maternal, em Aliens, toma o lugar daquela forte conotação sexual da primeira obra e funciona da mesma maneira. O desespero das mães é palpável, pois elas farão de tudo para salvarem seus protegidos, mesmo que, para isso, tenham que se sacrificar. O embate final na Sulaco, com Ripley “vestindo” o exoesqueleto amarelo (a ótima versão de Cameron para uma empilhadeira), é um verdadeiro balé. O diretor mantem a câmera circulando em volta das duas lutadoras, simulando boxe e fazendo closes muito eficientes quando necessário. Não poderia haver fechamento melhor para a montanha-russa que é Aliens.

Mais ou menos como aconteceu no primeiro filme, a trilha sonora de Aliens foi problemática. James Horner, apesar de ter levado sua primeira indicação ao Oscar por este trabalho, teve não mais do que quatro semanas para compor a música, sendo que a batalha final foi toda re-montada por Cameron e Horner, desesperado, teve apenas uma noite para retrabalhar sua música de acordo com as alterações do diretor. As gravações se deram ao longo de parcos quatro dias. Acabou que ele não saiu completamente satisfeito com que escreveu, apesar de a trilha de Aliens ser tão poderosa como fora a de Jerry Goldsmith no anterior, considerando, claro, os diferentes gêneros das fitas.

Alien é um filme obrigatório para qualquer entusiasta de cinema. Aliens, por sua, vez, tem o mérito próprio de ser uma obra diferente, mas à altura da original e, ainda por cima, consegue ser uma aula passo-a-passo de como fazer uma continuação ou prelúdio. Cameron, juntamente com mais uns cinco ou seis diretores, é um dos poucos que prova que continuações podem ser relevantes sem ser repetitivas ou exageradas. Assistam Aliens e vejam como uma sequência deve ser feita.

*Crítica originalmente publicada em 12 de junho de 2012 (atualizada e corrigida).

Aliens, O Resgate (Aliens – EUA, 1986)
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Elenco: Sigourney Weaver, Carrie Henn, Lance Henriksen, Paul Reiser, Michael Biehn, Bill Paxton, Jenette Goldstein, William Hope, Al Matthews, Mark Rolston, Ricco Ross, Colette Hiller, Daniel Kash, Cynthia Dale Scott
Duração: 137 min.

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