Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Aliens: O Que Aconteceria Se… Carter Burke Tivesse Sobrevivido?

Crítica | Aliens: O Que Aconteceria Se… Carter Burke Tivesse Sobrevivido?

Preparados para torcer por Carter Burke?

por Ritter Fan
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Aliens: O Resgate é, provavelmente, um dos filmes que mais vezes assisti na vida e, para mim, uma das mais fascinantes características da continuação do clássico de 1979 de Ridley Scott por James Cameron, para além da perfeita transformação do horror espacial em um filme de ação bélico, é o vilão humano, o burocrata da Weyland-Yutani Carter Burke, vivido por Paul Reiser, então ainda razoavelmente em seu começo de carreira. Atrapalhado, medroso, hesitante, longe de ter presença assustadora, controle da situação ou mesmo um mínimo de imponência, Burke é um daqueles vilões que, por mais que não queiramos, por mais que lutemos com o sentimento, conseguimos muito facilmente nos identificar com ele quando somos sinceros conosco mesmos. É, em resumo, o que grande parte de nós seria se fôssemos vilões de filmes obedecendo ordens de uma empresa inescrupulosa.

Foi por essa razão que recebi com enorme alegria a notícia de que, como parte das publicações em quadrinhos no universo Alien que a Marvel Comics começou a soltar em março de 2021, depois que a Disney comprou a Fox e retirou a licença da franquia da Dark Horse Comics, haveria um “O Que Aconteceria Se…” – o famoso What If… da editora – envolvendo o referido vilão. E, dito e feito, aqui estamos, em 2024, com uma minissérie que indaga O Que Aconteceria Se… Carter Burke Tivesse Sobrevivido?, ou seja, quais seriam as consequências se o vilão escapasse ileso da colônia de Hadley’s Hope, no planeta Acheron (ou LV-426), infestada por xenomorfos? Para responder essa pergunta, vejam só, a editora arregimentou os serviços do próprio Paul Reiser e de seu filho Leon que, trabalhando com uma série de roteiristas, colocaram em pé uma minissérie em cinco edições que é muito interessante, diria até imperdível para que gosta desse universo.

Para começo de conversa, a sobrevivência de Burke é tão bem costurada à narrativa do longa de 1986 e tão característico do personagem – ficando sempre nas sombras e se aproveitando de todas as oportunidades – que é perfeitamente possível afirmar que essa minissérie sequer precisava ser um “O Que Aconteceria Se…“. Do jeito que o roteiro de Hans Rodionoff e Adam F. Goldberg, na primeira edição, retorna aos eventos do filme e revela o que aconteceu, há todo o espaço do mundo para que sua fuga do planeta seja canonizada na mitologia da franquia. Seja como for, o que interessa é que, 35 anos depois, Burke continua sendo um burocrata na WY, só que trabalhando como administrador de um asteroide de mineração nos confins do universo e sendo odiado por todos, inclusive por sua filha Brie, com quem tem relações conturbadas, já que toda a culpa do que aconteceu em Hadley’s Hope acaba em seu colo em razão das intrigas da empresa.

Mas Burke, apesar da aura vilanesca, realmente é humano e, no fundo, tem bom coração, pelo que ele sofre com a frieza de sua filha em relação a ele e, mais ainda, com sua esposa que ele secretamente mantém em criogenia, para tentar conseguir um tratamento para sua doença, tratamento esse que passa pela obtenção de um ovo de xenomorfo, algo que ele, há duas décadas, encarregou o sintético Cygnus, que ele reconstruíra, encarregou de conseguir. A minissérie, então, começa de verdade com o retorno de Cygnus, depois de todo esse tempo, com a perigosa encomenda de Burke e, como não poderia ser diferente, tudo dá muito errado e logo diversos simpáticos xenomorfos, incluindo uma rainha, passam a aterrorizar o asteroide, um problema que é amplificado pela presença surpresa de Hiro Yutani, filho do CEO da WY, que, como acontece com Brie, odeia seu pai.

A história em si é estruturalmente o padrão que se espera de algo inserido no universo Alien, mas o diferencial, aquilo que realmente vale a leitura, é como a versão mais velha de Carter Burke é bem escrita, algo que, não tenho dúvida, vem das ideias de Paul Reiser, que viveu o personagem e consegue muito bem imaginá-lo mais velho, extrapolando maturidade e idade como elementos que relativizam a vilania. É perfeitamente possível, durante a leitura, perceber que o Carter Burke em papel é sim o mesmo Carter Burke do filme, só que com cabelo branco e rugas nos olhos. Vemos um homem que não esqueceu o que fez e que é ainda capaz de fazer as maiores barbaridades, mas que tem um lado efetivamente humano, com que podemos criar facilmente empatia e até torcer, sendo bem sincero. Sim, de certa forma o vilão se torna o herói, mas o que importa é que essa transformação é verossimilhante quando o leitor leva em consideração o tempo que se passou e as circunstâncias que povoam a vida do personagem. Os dois Reisers e os três roteiristas – Brian Volk-Weiss é o único que não havia citado ainda – conseguem dar uma excelente voz ao Burke mais velho e também aos personagens ao seu redor, ainda que o destaque seja mesmo Burke.

A arte de Guiu Vilanova, com cores de Yen Nitro dão vida a esse espaço relativamente confinado do asteroide onde a ação se passa e faz a crível transposição do Burke novo para o Burke velho, assim como cria uma versão diferente da que estamos acostumados de um androide nesse universo, na forma do grandalhão Cygnus. Brie e Hiro, por seu turno, ficam ali na linha do genérico, mas cumprem suas funções. No lado dos xenomorfos, a dupla de artistas também faz um excelente trabalho no estilo velha guarda, sem inventar novas formas para os alienígenas e seguindo aquilo que Cameron colocou nas telas nos anos 80. Mas, mesmo diante dos monstros que sangram ácido, Burke magicamente continua sendo o grande destaque.

A única coisa que realmente me chateou é que a minissérie não é finita, ou seja, deixa um gigantesco final aberto para uma continuação que, receio, pode esvaziar a novidade que é a empreitada de Reiser Pai e Reiser Filho. Mas uma coisa é certa: eu sei que lerei a sequência se ela for efetivamente lançada, pois não só o conceito de um O Que Aconteceria Se… fora do universo de super-heróis da editora é de se aplaudir, como usar Carter Burke como o primeiro personagem a receber esse tratamento foi uma jogada de gênio.

Aliens: O Que Aconteceria Se… Carter Burke Tivesse Sobrevivido? (EUA, Aliens: What If… Carter Burke Had Survived? – 2024)
Contendo: Aliens: What If…? (2024) #1 a 5
Conceito: Paul Reiser, Leon Reiser, Adam F. Goldberg, Hans Rodionoff, Brian Volk-Weiss
Roteiro: Hans Rodionoff e Adam F. Goldberg (#1); Hans Rodionoff e Leon Reiser (#2); Hans Rodionoff (#3); Hans Rodionoff e Brian Volk-Weiss (#4); Leon Reiser (#5)
Arte: Guiu Vilanova
Cores: Yen Nitro
Letras: Clayton Cowles
Editoria: Lindsey Cohick, Sarah Brunstad, C.B. Cebulski
Editora: Marvel Comics
Data originais de publicação: 06 de março, 10 de abril, 15 de maio, 05 de junho e 17 de julho de 2024
Páginas: 124

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