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Crítica | Alerta de Risco

Alerta de perda de neurônios!

por Ritter Fan
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Quando acabei de assistir Alerta de Risco, senti-me sugado, esgotado, mentalmente exaurido pela inacreditável quantidade de idiotices contidas nesse filme e pela mais absoluta incompetência técnica por trás dessa mixórdia audiovisual que entra naquela categoria de obras que espanta por ter sido aprovada para entrar em produção e que ninguém, no meio do processo, tenha percebido o show de horrores que estava sendo criado. Falar que o filme é genérico, cansado e sem graça é elogio. Dizer que Jessica Alba não se sustenta como heroína de ação é desviar a atenção dos reais problemas. Afirmar que se trata de mais um filme de algoritmo do Netflix é aceitar que essa obra pode ser qualificada como filme sem que se cometa um atentado aos filmes de verdade.

O roteiro de John Brancato, Josh Olson e Halley Wegryn Gross é um fulminante ataque ao bom senso que pega uma premissa básica – uma soldada das Forças Especiais retorna para sua cidade natal em razão da morte de seu pai que ela, então, passa a investigar, descobrindo uma trama insidiosa por trás – e agrega elementos complicadores que o texto não sabe trabalhar, dependendo de artifícios estúpidos, furos gigantescos e diálogos dolorosos para dar certo, sem efetivamente dar certo no final. As críticas sociais e políticas, muito mais do que trabalhadas com mão pesada, são dignas de Jardim de Infância, além de não terem a menor consistência ao longo da suposta história. Com isso tudo, qualquer semblante de verossimilhança desaparece em meio a bares no meio do nada com uma mina adjacente que era usado como “quarto” pelo pai da protagonista, uma plantação subterrânea de maconha que aparece de repente e personagens que, no agregado, são a representação do significado da palavra caricatura.

Às vezes, porém, a direção consegue oferecer alguma coisa de positivo quando o roteiro falha fragorosamente. O problema é que o comando da indonésia Mouly Surya, em sua estreia em Hollywood, beira ao amadorismo. Na verdade, beira não, é completamente amador. São sequências mal editadas que tiram qualquer traço de lógica interna da história, construção de tensão que é frágil como um castelo de cartas em uma ventania, personagens que entram e saem da trama aleatória e convenientemente, e uma direção de atores que não se esforça em fazer nada para extrair algo minimamente humano do elenco. E não, eu não culpo os atores aqui – a não ser Alba, pois ela é também produtora executiva e, portanto, uma das responsáveis por essa atrocidade -, pois não há o que fazer com o material que lhes foi entregue a não ser embolsar o dinheiro oferecido e repetir as linhas de diálogo no automático.

Confesso, porém, que eu ri diversas vezes no filme. Risos de nervosismo, de vergonha, de incredulidade e de desconforto, mas, mesmo assim, risos. Afinal, como não gargalhar quando Parker, a personagem de Alba que, como aprendemos no primeiro minuto e reaprendemos sucessivamente a cada cinco minutos, adora facas, pega uma peixeira e a maneja como uma espada em silhueta contra o por do sol como em Conan, o Bárbaro? Como resistir à tentação de rebobinar a fita para rever o momento em que ela descobre, em off, com direito a um corte mais abrupto do que o final de A Desolação de Smaug, a verdade sobre a morte de seu pai? Como não aplaudir quando seu colega soldado atira um míssil dentro da caverna quase se matando e matando Parker? E, claro, tem a cereja no bolo, que é Parker e um bando de amigos maltrapilhos – e vergonhosamente inúteis, vale dizer – aparecendo dentro da base militar local e andando por lá na boa, sem serem detectados pelos soldados, como se fossem ninjas? Há tempos não via tosquidão nesse nível, o mais próximo tendo sido o recente estrupício Ghosted: Sem Resposta, na categoria de filme de ação.

Mas chega, já escrevi muito mais do que essa porcaria merecia. Estou ainda me recuperando da barbaridade que assisti, pensando aqui com meus botões que talvez o único valor que Alerta de Risco tenha seja semelhante ao de A Reconquista (sim, aquele sci-fi de 2000 com o John Travolta de salto plataforma e dreadlocks), ou seja, tornar futuras experiências audiovisuais muito melhores do que elas realmente são em termos comparativos. Pois é: o ponto positivo do filme é fazer lixo parecer apetitoso. Que coisa, não?

Alerta de Risco (Trigger Warning – EUA, 21 de junho de 2024)
Direção: Mouly Surya
Roteiro: John Brancato, Josh Olson, Halley Gross
Elenco: Jessica Alba, Anthony Michael Hall, Mark Webber, Jake Weary, Tone Bell, Alejandro De Hoyos, Gabriel Basso, Kaiwi Lyman, Hari Dhillon, Nadiv Molcho, Peter Monro, Stephanie Jones, James Cady, Jerry G. Angelo, David DeLao
Duração: 106 min.

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