Se isso ainda não estava claro, AIR: A História Por Trás do Logo reforça que Ben Affleck deveria dirigir mais filmes, convenhamos. Affleck retorna sete anos depois do seu último trabalho no cargo de direção em Live by Night com muita boa forma, demonstrando uma confiança tanto em sua performance ao dar vida a Phil Knight, ex-CEO da Nike, quanto nos seus talentos por trás das câmeras — bem mais habilidoso do que como ator —, o que faz de AIR um triunfo narrativo contagiante pela forma que Affleck consegue capturar a emoção da história do AIR Jordan, ainda que seja tão conhecida por carregar o nome do seu lendário astro: Michael Jordan.
É uma história grande para ser contada e, mesmo partindo de uma estrutura protocolar para um filme baseado em fatos reais, Affleck traz uma abordagem que mantém uma leitura em constante empolgação para o público. De forma geral, o longa relata os esforços do olheiro da Nike Sonny Vaccaro (Matt Damon) para realizar a contração de Jordan, contudo, não é um filme sobre o astro. E bem, essa é uma escolha que pode soar comprometedora, porém, Affleck defende de forma divertida e brilhante o que quer contar; não uma biografia e nem uma propaganda estendida para Nike, e sim sobre os movimentos que possibilitaram um dos maiores acordos para a marca esportiva.
A excitante abertura com uma montagem fazendo acenos a episódios políticos marcantes e da cultura pop dos EUA em meados da década de 80 e ao som de Money for Nothing, de Dire Straits, serve como um demonstrativo do tom do filme — ágil em trabalhar com suas informações —, depois, em situar o período para o contexto da história: a Nike em crise e como a terceira empresa de calçados atrás da Converse e Adidas, e a jogada de Vaccaro para assinar com Jordan, o astro em ascensão. Diferentes peças desempenharam um papel para o grande acordo, e mesmo sem ter o lendário do basquete como foco, AIR diverte ao contar sobre os passos arriscados da Nike para assumir a indústria de tênis e fechar com um jogador que viria a se tornar um fenômeno.
Essa escolha empregada no início volta como um recurso quando o filme utiliza imagens reais de Jordan como artifício narrativo, nas certeiras cenas em que Affleck filma Damian Delano Young em ângulos cuidadosos mas sem nunca mostrar o seu rosto — o que faz pensar como o filme se poupa, se preserva ao reconhecer que não daria para representar o astro e ser menos do que ele já é no nosso imaginário — e ao intercalar esses momentos com trechos da trajetória de Jordan como o maior jogador de basquete de todos os tempos, só coroa a abordagem de AIR em contar a história que firma o acordo revolucionário entre Jordan e a Nike quando ele ainda estava em ascensão e a empresa de calçados mirando se consolidar entre as concorrentes e no basquete. Além disso, Money for Nothing é só um dos exemplos de como a trilha sonora é usada para remeter a era oitentista — com uma seleção que apresenta uma playlist nostálgica — e ilustrar os desdobramentos do filme. Se Dire Straits é o tema para o compilado de recortes da época, Born in the U.S.A, de Bruce Springsteen, serve um contraponto a ideia de liberdade e sonho americano no ato final do acordo, assim como Time After Time, de Cyndi Lauper tece uma transição apaziguadora antes do ápice da trama.
É evidente que se atentar para o roteiro, AIR: A História por Trás da Logo não passaria de um drama sobre negócios e baseado em eventos reais com um bom elenco, porém, afetado por performances exageradas e estereotipadas, mas Affleck consegue injetar uma emoção natural na execução que não soa como se o público estivesse acompanhando a uma dramatização que ser épica, e sim, que empolga para ser assistida. A direção de Affleck é tão segura que faz funcionar as tiradas de comédia de Alex Convery como se estivesse reproduzindo uma esquete de Adam McKay dentro do filme, com o humor que encontra descontração para os personagens em meio às falas absurdas — a exemplo da cena de Vaccaro e David Falk, interpretado por Chris Messina.
E mesmo se passando em boa parte num cenário corporativo, a montagem faz o ritmo fluir entre as cenas que prezam por planos mais fechados e planos detalhes, e são essas escolhas, de proximidade com a ambientação e performances, que tornam a direção de Affleck um trabalho animador: o clima que traduz um prisma genuíno sobre um acordo revolucionário. AIR pode não ter nada de novo, mas conta com uma execução que deixa o elenco aproveitar os personagens, sendo os destaques para Chris Tucker como Howard White e Viola Davis, que vive Deloris Jordan. Por fim, AIR faz jus ao que tenta ser: agradável e objetivo, sabendo que contou uma boa história.
AIR: A História por Trás do Logo (AIR – EUA, 2023)
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Alex Convey
Elenco: Matt Damon, Jason Bateman, Ben Affleck, Chris Messina, Viola Davis, Chris Tucker, Julius Tennon, Damian Delano Young, Matthew Maher, Marlon Wayans
Duração: 111 min.