- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.
Em conversa com um leitor na crítica do episódio passado, cheguei a afirmar meu receio de que The Jedi, the Witch, and the Warlord – título que me lembrou As Crônicas de Nárnia – fosse um desfecho que é basicamente uma vitrine para novos spin-offs. Não é exatamente isso que acontece aqui, mas temos um episódio final meio sacana na forma que gradualmente nos prepara para uma segunda temporada sem nos entregar um clímax em suas resoluções inconclusivas que desmentem a notícia de que a produção é uma minissérie, a não ser que Dave Filoni decida assumir a continuação de Rebels com uma nova série em live-action da animação.
De qualquer forma, temos um episódio muito bacana. De início, o roteiro estabelece sem rodeios ou detalhes que será uma história para interromper a fuga de Thrawn, como esperado, e sem nada realmente tangencial a isto, inclusive com descarte da subtrama de Baylan Skoll – que será difícil de substituir após a performance monstruosa de Ray Stevenson – e Shin Hati para que o holofote fique todo na ação de Ahsoka, Sabine e Ezra correndo atrás do antagonista. O fato de que sabemos que nenhum personagem do trio irá morrer atrapalha o senso de perigo durante o ato final, mas Rick Famuyiwa, cineasta veterano das séries de Star Wars, faz um bom trabalho geral em manter o frenesi ligado e as ameaças de forma constante.
De stormtroopers com pontarias terríveis – a cena que eles continuam errando a nave parada no chão beira o ridículo -, batalhas com sabres de luz, momentos especiais com a Força e a chegada final de Huyang, temos um episódio cheio de homenagens para os elementos heróicos da franquia. Particularmente, destaco a batalha de Ahsoka e Morgan, que traz o estilo de luta samurai que caracterizou a franquia numa das melhores coreografias das séries de SW, e também o salto de fé de Ezra com a ajuda de Sabine, num momento tocante para a dupla e especialmente para a aprendiz de Ahsoka, concluindo um dos fios dramáticos da temporada sobre os ensinamentos da personagem e circulando os temas do episódio sobre escolhas difíceis – adorei o fato de Sabine ficar para trás dessa vez, sempre se sacrificando por seus amigos.
No entanto, é interessante como grande parte da ação também traz novidades para o cânone do live-action, resgatando a atmosfera mística de Far, Far Away com as Grandes Mães transformando Morgan em uma bruxa, cenas ritualísticas de ressuscitação de soldados, stormtroopers zumbis e uma trilha sonora relativamente sinistra para dar essa atmosfera leve de horror (bem leve mesmo, mas que funciona). Durante a ação, minha única reclamação é referente à participação amena do próprio Thrawn, que não ganha um destaque para suas habilidades de estratégia e manipulação, apesar de suas palavras finais para Ahsoka serem cortantes.
Bem, a ideia aqui com isso é extremamente clara: jogar tudo para uma nova temporada. Penso que isso é um problema, porque Filoni oferece um desfecho narrativamente insatisfatório, basicamente trocando Sabine e Ahsoka por Ezra em Peridea, além de libertarem Thrawn, terminando o episódio numa edição de “olhem o que vai acontecer“, passando por todos os personagens. Não é nem exatamente um cliffhanger, tampouco um clímax, mas só um “cenas dos próximos capítulos” para uma produção que foi anunciada como minissérie, mas que se solidificou como uma efetiva 5ª temporada de Rebels, e agora com uma 6ª temporada no horizonte.
Confesso que a escolha por terminar a temporada com uma derrota para o lado sombrio é corajosa, sendo que a chegada dos vilões em Dathomir abre diversas portas curiosas sobre mitologia e expansão de conceitos da franquia, mas não dá para negar que é um desfecho meio safado na forma que não finaliza o arco de Ahsoka, em tese a protagonista da produção. É bem verdade que existem momentos espalhados por The Jedi, the Witch, and the Warlord que concluem a ideia de desenvolvimento da personagem como mentora, e de Sabine como aprendiz, incluindo a possibilidade delas terem ficado para trás como forma de poderem treinar isoladamente até serem salvas por Ezra e Hera, mas a série Ahsoka se mostra mais uma abertura para outras histórias do que realmente uma minissérie sobre a personagem titular. Ainda é tudo muito bom dentro do estilo Filoni de se fazer Star Wars, com suas homenagens bonitas, ação divertida e foco no entretenimento imagético da aventura contra o mal, sendo que aposto que o futuro dessa história tem muita coisa boa para ser mostrada e contada, mas, bem, aqui no episódio final da “minissérie” fica um sabor agridoce sobre potencial e não conclusão. Veremos o que futuro guarda para a togruta e companhia.
Ahsoka – 1X08: The Jedi, the Witch, and the Warlord (EUA, 03 de outubro de 2023)
Showrunner: Dave Filoni
Direção: Rick Famuyiwa
Roteiro: Dave Filoni
Elenco: Rosario Dawson, Natasha Liu Bordizzo, Mary Elizabeth Winstead, Ray Stevenson, Ivanna Sakhno, Diana Lee Inosanto, David Tennant, Eman Esfandi, Lars Mikkelsen
Duração: 42 min.