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Crítica | Ahsoka – 1X05: Shadow Warrior

Mais do que uma guerreira.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Seguindo diretamente os eventos do episódio passado, Shadow Warrior mergulha no metafísico: Ahsoka tendo uma pequena jornada espiritual com seu antigo mestre no Mundo entre Mundos – aliás, seria mesmo esse espaço ou uma epifania? Fiquei na dúvida por conta da interpretação de Anakin (mais disso à frente), mas Jacen poder ouvir o choque dos sabres de luz confirma que o evento não é apenas uma visão da protagonista. De forma subsidiária, vemos Hera, Jacen, Huyang e companhia tentando encontrá-la, ao passo que o episódio fica concentrado em Seatos, sem abordar o grupo antagônico que viajou com Sabine em busca de Thrawn e Ezra.

Logo de início, queria destacar a participação de Anakin. Como disse na crítica passada, fiquei com receio que o retorno de Hayden Christensen fosse apenas fanservice, mas a interpretação do personagem é bastante interessante e diferente do que imaginei. O retrato de Anakin é quase de um fantasma, meio etéreo e fictício, e menos do personagem real dialogando com Ahsoka, o que difere de outras aparições de Jedis mortos na Força. Tive a impressão de que tudo é um sonho, entendem? Até as transições de cenários e de personalidade do personagem (de Anakin a Vader) trazem um aspecto meio Uma Canção de Natal.

E para mim isso funciona muito bem, uma vez que a narrativa da produção é extremamente conectada com o passado, tanto deste universo quanto da protagonista. Dar esse tipo de interpretação misteriosa para Anakin, com, aliás, belo trabalho de atuação de Christensen e dos efeitos especiais de rejuvenescimento/transição, e concentrar o arco em flashbacks dita o tom do episódio, que é basicamente uma grande lição para Ahsoka, que precisa entrar em termos com eventos antigos e ter algum tipo de encerramento para seu treinamento/relacionamento com Anakin. Todo esse túnel de memórias é consequência da afirmação de Baylan sobre Ahsoka em Fallen Jedi: “Seu legado, como o de seu mestre, é de morte e destruição”.

Em sua essência, Star Wars é uma batalha do bem vs mal, entre a luz e a corrupção. Nesse sentido, o texto de Filoni traz uma discussão críptica e engajante sobre como Ahsoka tem se comportado como uma guerreira desde criança, tanto por conta das circunstâncias das Guerras Clônicas quanto pelo estilo de treinamento de Anakin, ensinando a personagem a se tornar uma soldada. Os diálogos enigmáticos entre os personagens escondem algumas superficialidades temáticas e limitações de Filoni, mas funcionam para não entregar nenhuma interpretação mastigada da lição de Ahsoka, além de ser uma forma de comunicação que acena diretamente para os enigmas de Yoda e outros momentos icônicos da franquia.

Da minha percepção, o ensinamento aqui é sobre Ahsoka se tornar mais do que uma guerreira, aspirando ao verdadeiro legado Jedi de serem guardiões da paz. Obviamente que os conceitos se confundem, mas a personagem não pode ser definida apenas por seus conflitos e rastro de destruição, devendo superar Anakin para almejar viver como um símbolo de esperança. Simbolicamente, Filoni é inteligente para indicar algumas dessas ideias, desde a substituição da estoica Ahsoka adulta por uma criança inocente e vulnerável nos flashbacks, até a maneira sutil que a personagem parece mudar depois de retornar, sorrindo mais e com vestes brancas.

Existem muitas outras mensagens que podem ser interpretadas pelo evento que ocorre com Ahsoka, como os ensinamentos sobre os erros de Anakin como mestre, até se misturando ao drama central da série entre a protagonista e Sabine, e de superação do lado negro quando a personagem decide não matar Anakin. Uma coisa é certa, a abordagem visual poética e mística que Filoni empresta ao episódio é majestosa, encontrando sentimento mais nas imagens do que nas palavras, sob temas operísticos que dão dimensão aos momentos imponentes que estamos assistindo.

Algumas sequências aqui merecem ser eternizadas na iconografia da franquia, como a cena de Ahsoka no mar, a representação espacial do Mundo entre Mundos e o impacto das Purrgils emergindo das nuvens e indo em direção à imensidão da galáxia. É ficção científica e fantasia da melhor qualidade explodindo em tela, com paisagens pitorescas, baleias espaciais e efeitos especiais de fazer os olhos brilharem.

Minha única reclamação é em relação ao bloco de Hera e companhia, que cumpre um papel narrativo, mas que ganha mais tempo do que deve, com seus momentos soando mais como interrupções chatas à fantástica jornada de Ahsoka do que agregando qualquer tipo de valor dramático. Queria ver menos deles e muito mais do limbo metafísico que a protagonista se encontra, mas isso é detalhe. Com o desfecho do episódio, Hera e Jacen parecem se despedir de uma aventura da qual eles sempre pareceram deslocados.

No entanto, a despedida chorosa e terna da general, bem como o olhar de deslumbramento de Jacen são momentos que encapsulam uma das melhores qualidades do episódio: um sentimento edificante de esperança no bem e na luz, que desagua num final que olha para a jornada de Ahsoka com um senso de confiança, expectativa e admiração. Não considero Shadow Warrior um episódio narrativamente perfeito, tampouco uma obra-prima, mas é certamente um capítulo muito bonito visualmente e emocionalmente, de um criador que, entre tradição, nostalgia e veneração por esse universo, entende o espírito da franquia, dos Jedi e de Ahsoka como ninguém. E bem, finalmente ganhamos um episódio efetivamente sobre a personagem titular, sobre seu passado, sobre seu papel e sobre como deve encarar essa nova jornada.

Ahsoka – 1X05: Shadow Warrior (EUA, 12 de setembro de 2023)
Showrunner: Dave Filoni
Direção: Dave Filoni
Roteiro: Dave Filoni
Elenco: Rosario Dawson, Natasha Liu Bordizzo, Mary Elizabeth Winstead, Ray Stevenson, Ivanna Sakhno, Diana Lee Inosanto, David Tennant, Hayden Christensen
Duração: 41 min.

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