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Crítica | Ahsoka – 1X04: Fallen Jedi

Sobre mestres e padawans.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Parece haver uma confusão e uma discussão interessante sobre meus comentários sobre Andor nas críticas passadas. Não estou, de forma alguma, cobrando que Ahsoka seja igual a produção referida, até porque são propostas distintas e visões de criadores que enxergam SW de formas totalmente diferentes. No entanto, no modelo Disney de se fazer produções familiares e que agradam as massas (nunca é uma coisa boa!), a franquia tem se tornado cada vez mais exaustiva com o mais do mesmo efêmero, principalmente visto agora na era pós-Andor, já que a série demonstra o que Star Wars pode almejar, fazendo com que produções como Obi-Wan Kenobi, O Livro de Boba Fett e até o terceiro ano de The Mandalorian pareçam ainda piores. As novas séries/filmes não precisam ter o mesmo tipo de história e abordagem de Andor, mas devem aspirar ao legado de qualidade, coragem e criatividade que a série já sedimentou na franquia.

Ahsoka, felizmente e infelizmente, está nas mãos de Dave Filoni, talvez, hoje, a pessoa que melhor entende o espírito da franquia, mas que, justamente por isso, é um contador de histórias que não se arrisca e que olha bastante ao passado para formular o futuro de SW. Para a Disney, é o casamento perfeito. Um criador que irá trazer histórias com um certo nível de qualidade, ainda que limitado, mas que irá agradar aos fãs e ao infeliz modo de se desenhar narrativas atualmente em franquias de grande porte: referências, nostalgia e repetição.

Fallen Jedi encapsula tudo isso, para bem ou para mal. Enquanto Ahsoka Tano, Sabine Wren e Huyang tentam realizar reparos na nave ou pelo menos encontrar uma maneira de pedir ajuda, o roteiro continua construindo os conflitos e motivações diferentes entre a mentora e sua aprendiz, reciclando muito do que já vimos na franquia sobre mestres e padawans. O diálogo continua problemático em algumas dessas cenas da nave, querendo ser mais interessante e reflexivo do que realmente é, mas tudo acaba funcionando. A divergência central sobre deixar de salvar Ezra para evitar o retorno de Thrawn é relevante e traz estofo ao drama entre as co-protagonistas – já podemos assumir que Sabine não é apenas coadjuvante, certo?

Diferente do episódio passado, que tinha um aspecto meio filler sobre uma batalha espacial, a trama aqui progride de maneira efetiva e envolvente em torno do objetivo central, tanto de Ahsoka quanto de seus antagonistas, abordando temas conhecidos da franquia que ajudam a aprofundar a história e a dramaturgia. Para além da ótima caracterização, Baylan Skoll e Shin Hati ganham holofotes e tempo de tela para deixarem novas impressões antagônicas que elevam a produção, com destaque para a performance de Ray Stevenson em todas as cenas que aparece, ganhando alguns dos melhores diálogos da série até aqui e uns one-liners fantásticos sobre o mistério de sua corrupção e suas verdadeiras intenções.

Novamente, não é nada muito diferente do que já vimos no cânone, mas ainda muito bem feito e intrigante, com as palavras e manipulações do personagem cortando Ahsoka e Sabine como um sabre de luz. Em alguns momentos o personagem até remete Palpatine e sua língua perigosa, refletindo o próprio título do capítulo, apesar de, claro, a insinuação principal ser o retorno de uma figura conhecida. A escolha duvidosa de Sabine traz um ponto dramático que será curioso de assistir quando se encontrar novamente com sua mentora ou até com Ezra, que pode ver seu sacrifício desfeito, e se houver alguma consequência (espero que haja) ao abrir a oportunidade para que o império ressurja com a volta de Thrawn. Eu me pergunto, porém, como a audiência que não assistiu Rebels está absorvendo esses momentos que tão obviamente ganham impacto apenas com um conhecimento prévio.

De qualquer forma, entre o maniqueísmo e a filosofia sobre a força, o bem e o mal que SW sempre discutiu, Filoni tece um capítulo tematicamente mais rico que os anteriores, apesar de ainda não ter se aprofundado em nada tão engajante, o que pode mudar com o debate moralmente tênue sobre salvar ou não Ezra, e a aparição do antigo mentor da protagonista. Aliás, existe uma possibilidade importante para Filoni explorar o “Mundo entre mundos”, onde Ahsoka aparece ao final do episódio depois de uma transição sensacional entre o mar e o limbo, um conceito pouco explorado que pode vir a trazer um senso real de expansão de mitologia e construção de universo para uma produção que até o momento tem sido segura.

Acredito que, diferente de muitos fãs, me importo mais com esse lugar fora do espaço e do tempo do que com a aparição de Anakin (Hayden Christensen). Penso que o roteiro tem a oportunidade de trabalhar algo em torno do arco de Ahsoka sobre trauma, arrependimento e até raiva contra seu mentor, além de poder trazer um pouco disso para a relação central da história com Sabine, mas tenho medo do retorno do personagem ser apenas nostalgia e referência vazia. Veremos. De qualquer forma, Filoni pode explorar algum conceito metafísico sobre a Força que pode ser interessante de ver.

No mais, temos outro episódio que cativa os olhos com o lado da ação, com Peter Ramsey na cadeira de diretor. É notável como as coreografias das lutas de sabres de luz prezam algo mais samurai do que acrobático, trazendo um aspecto tradicional que gosto para tais momentos, além de visualmente, na minha opinião, terem mais força e peso do que personagens dando piruetas sem parar. Alguns outros pontos: por qual motivo Hera Syndulla levaria seu filho à batalha (?) e espero que ela ganhe algo para fazer depois desta tentativa patética de ajudar; e a morte precoce de Marrok é decepcionante, mas ironicamente divertida para uma franquia conhecida por descartar rapidamente personagens com designs bacanas.

Voltando à discussão que apresentei no início da crítica, o problema em querer se fazer uma “clássica história de Star Wars” é que os esforços estão concentrados em criar uma cópia e não um verdadeiro clássico. Andor e Os Últimos Jedi, por exemplo, são clássicos, entendem a diferença? Filoni, em todas as suas homenagens e autorreferências, peca em almejar aquele “algo a mais” que ficou na audiência depois da história de Andor, mas, pelos menos aqui em Fallen Jedi, vemos um episódio que tem substância para velhos conceitos da franquia, traz a oportunidade de explorar um novo conceito de mitologia e tece intrigas narrativas suficientes para dar uma base melhor para os visuais divertidos e a história de aventura simples.

Ahsoka – 1X04: Fallen Jedi (EUA, 29 de agosto de 2023)
Showrunner: Dave Filoni
Direção: Peter Ramsey
Roteiro: Dave Filoni
Elenco: Rosario Dawson, Natasha Liu Bordizzo, Mary Elizabeth Winstead, Ray Stevenson, Ivanna Sakhno, Diana Lee Inosanto, David Tennant, Hayden Christensen
Duração: 41 min.

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