Home TVEpisódio Crítica | Ahsoka – 1X01 e 02: Master and Apprentice / Toil and Trouble

Crítica | Ahsoka – 1X01 e 02: Master and Apprentice / Toil and Trouble

A famosa togruta entra em cena.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Fora do círculo cinematográfico de Skywalkers e Han Solos, a Jedi Ahsoka é, provavelmente, a personagem mais conhecida e mais bacana do universo de Star Wars a não ter uma presença firmada em live-action, o que é um grande elogio considerando a imensidão de excelentes figuras da franquia em animações, livros e quadrinhos, como a fantástica Doutora Aphra, por exemplo. Com a crescente demanda de séries do Disney+, era mais do que esperado uma obra da personagem, que foi apresentada com participações pequenas em The Mandalorian e O Livro de Boba Fett, interpretada por Rosario Dawson. Cá estamos, com os dois primeiros episódios da produção homônima da togruta, que serve tanto como spin-off de The Mandalorian quanto uma continuação de Star Wars Rebels, trazendo de volta alguns rostos conhecidos e apresentando novas ameaças.

Em linhas gerais, somos inseridos em um período pós-O Retorno de Jedi, em que Ahsoka e Huyang (David Tennant) estão procurando um mapa que aponta a localização do Grão-Almirante Thrawn e por extensão de Ezra Bridger, enquanto dois antagonistas sombrios, Baylan Skoll (Ray Stevenson) e sua aprendiz Shin Hati (Ivanna Sakhno), libertam a prisioneira Morgan Elsbeth (Diana Lee Inosanto), que também está em busca do mapa para encontrar Thrawn, vilão responsável por ter reacendido o interesse na franquia com sua trilogia literária nos anos 90. Pois bem, com o palco estabelecido, temos a introdução em live-action da General Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead) e de Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), que irão ajudar a protagonista no mote da temporada: encontrar Ezra Bridger.

Meu primeiro receio em relação a produção era de como o showrunner Dave Filoni iria fazer a apresentação de seus personagens já conhecidos por muitos fãs, uma vez que o roteiro tem que caminhar numa linha tênue entre não ser confuso para telespectadores de primeira viagem e não sofrer demais com recontextualizações que podem ser chatas para quem acompanhou Rebels. Pelo menos nesses dois episódios, o texto de Filoni mantém um bom equilíbrio para qualquer tipo de audiência, apesar de ser notável como o conhecimento prévio de Ahsoka e Sabine são importantes para peso dramático em muitas cenas e ganham uma dimensão maior com a memória afetiva, até na maneira como a direção apresenta as personagens em tom nostálgico e em como a câmera para em diversos momentos para destacar alguém, um desenho ou uma peça de tecnologia que algum fã irá pegar a referência.

Felizmente, a rica caracterização do elenco compensa um pouco esses problemas de familiaridade, seja o design único e peculiar de cada personagem, seja a maneira inteligente com a qual a direção tem um poder imagético e simbólico forte para representar a personalidade das guerreiras, com destaque para a sequência à la Caçadores da Arca Perdida de Ahsoka encontrando o mapa, e também para a cena de Sabine fugindo da cerimônia e de suas responsabilidades. As sequências de ação são ótimas, com um certo peso visual, sonoro e coreográfico, principalmente nos ataques dos antagonistas, mas são as set-pieces das heroínas que retratam a ótima narrativa visual de Filoni (e de Steph Green também, em menor medida), que consegue contar mais com imagens do que com diálogos.

Digo isso até porque o texto falado dos episódios é meio desajeitado e expositivo, com Filoni trazendo um pouco de seus cacoetes de conversações em animações infantis para uma serialização de capítulos de uma hora dramática. Não é nada horrível nem nada do tipo, mas é perceptível a falta de sutileza dos roteiros, o jeito mastigado com o qual as interações acontecem e a imaturidade em como temas são articulados. Chega a ser um pouco cruel assistir algo assim depois dos diálogos magníficos e cheios de subtexto de Andor, mas a comparação é injusta, considerando que Filoni prioriza uma jornada mais comum e menos sofisticada em termos de aventura no universo de SW.

Inclusive, a trama é estruturada de maneira objetiva, econômica e cheia de batidas conhecidas da franquia. Somos rapidamente apresentados a um objetivo nobre (salvar Ezra), a uma dramaturgia em volta dos conflitos entre mestre e padawan (algo que não é feito com qualidade na franquia há muito tempo), e ao inimigo maniqueísta na forma do que restou do Império. É tudo convencional, mas com uma personalidade visual ímpar e personagens extremamente identificáveis, além de um ótimo estabelecimento em torno do enigma da localização, o retorno de Thrawn e o verdadeiro interesse de Baylan Skoll e Shin Hati no conflito. A corrupção dos Jedi continua sendo um tópico cativante na franquia, então fica a torcida para o aproveitamento da dupla antagonista.

Voltando a falar da abordagem convencional de Filoni, é interessante notar a construção estoica e silenciosa da Ahsoka, que é um tantinho diferente de sua versão animada, mas que faz sentido dentro do contexto pelo qual a guerreira passou e na natureza dos protagonistas das séries de SW, como Din Djarin, Obi-Wan Kenobi, Boba Fett e Andor, todos afetados pela guerra e carregados de traumas. Espero que explorem essa faceta da togruta com maturidade e densidade para justificar a (ótima) atuação reprimida de Rosario Dawson. Por outro lado, Natasha Liu Bordizzo traz carisma para sua rebelde sarcástica e sem direção, com a química funcionando entre mestre e aprendiz. É um pouco estranho o fato de Sabine parecer mais protagonista do que Ahsoka em diversos momentos de ambos os episódios, mas vamos ver como isso se desenrola.

Também é notável a representação de um período de transição política para este universo na produção. Tenho sérias dúvidas de que Filoni irá se aprofundar no lado geopolítico do momento histórico aqui com a mesma coragem de Tony Gilroy, mas se ele souber articular bem o pano fundo e a expansão de mitologia, teremos substância para a aventura de Ahsoka e companhia. Mesmo que a jornada se concentre em heróis e vilões lutando no espaço com muitas cenas icônicas, é bacana notar um interesse, mesmo que efêmero, de Filoni em associar camadas políticas e ideológicas à história com o bloco dos imperialistas remanescentes na república.

De forma geral, temos uma introdução sólida nos dois episódios lançados esta semana, estabelecendo a trama da série de uma maneira que captura nossa atenção para o divertido entretenimento sci-fi, alto valor de produção que cativa os olhos e a apresentação de diversos personagens que adoramos em novas posições. A falta de familiaridade com alguns personagens pode afastar alguns espectadores ou atrapalhar o andamento narrativo se a produção querer ser uma “5ª temporada de Rebels” e não uma série da Ahsoka, além de que o tom sempre em homenagem à Star Wars de Filoni pode impedir o desenvolvimento de uma história mais corajosa como Andor, mas temos todos os ingredientes para uma série de aventura com muito potencial na galáxia muito, muito distante.

Ahsoka – 1X01 e 02: Master and Apprentice / Toil and Trouble (EUA, 22 de agosto de 2023)
Showrunner: Dave Filoni
Direção: Dave Filoni (1X01), Steph Green (1X02)
Roteiro: Dave Filoni
Elenco: Rosario Dawson, Natasha Liu Bordizzo, Mary Elizabeth Winstead, Ray Stevenson, Ivanna Sakhno, Diana Lee Inosanto, David Tennant, Eman Esfandi
Duração: Aproximadamente 60 min. cada episódio

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