- Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas dos outros episódios e, aqui, de todo o Universo Cinematográfico Marvel.
Alguma hora a derradeira temporada de Agents of S.H.I.E.L.D. tinha que apresentar um episódio menos do que excelente e Adapt or Die, que fecha o mini-arco dos Anos 70, é o primeiro a comparativamente desapontar. A ênfase está no “comparativamente”, pois o episódio continua sendo bom, com belos e emocionantes momentos que trabalham muito bem especialmente Mack e sua relação com os pais e a conexão entre Coulson e May, mas ele é menos competente ao lidar com o restante, inclusive sua temporalidade, o grande achado dessa primeira metade, já que como muito do que se passa acontece no Farol, estar ou não nos anos 70 não afeta a narrativa como antes.
Tudo bem que esse episódio parece ser a ponte entre dois momentos distintos, um que vinha trabalhando mini-arcos ao longo das décadas nos bastidores do Universo Cinematográfico Marvel e outro que… bem… pode ser qualquer coisa, mas que desconfio que focará mais nos Chronicoms e menos nas referências e trará Fitz de volta. Mesmo que essa minha impressão não proceda (e não, eu não vejo previews e nem leio absolutamente nada sobre episódios futuros), o fato é que o capítulo vai além do “fechamento de década” e mergulha com um pouco mais de detalhes no modus operandi dos vilões sintéticos e suas intenções, algo que a conversa de Coulson com Sibyl (Tamara Taylor) em ambiente virtual sobre a natureza humana deixa bem claro, inclusive trazendo a primeira vitória efetiva da equipe contra os alienígenas mesmo considerando o sacrifício – temporário, lógico – do LMD mais simpático do mundo.
Em termos estruturais, a direção de Aprill Winney (sério, com dois Ls?) revela escolhas equivocadas, como a forma como ela lida com o ataque ao Z1 pelos Chronicoms usando o sistema de defesa do Farol. A ação é toda truncada, sem uma resolução, sem uma lógica conectiva com o momento seguinte que mostra o avião danificado lançando Mack e Elena em uma missão de resgate dos pais dele. É quase como se a diretora quisesse se livrar desse preâmbulo logo, de qualquer jeito, para focar no lado sentimental da série e eu nem a culpo por esse afã, ainda que ela pudesse ter tido um pouco mais de cuidado para transportar nossos heróis do ponto A ao ponto B.
Mack é, sem dúvida alguma, um dos melhores personagens que não fizeram parte da equipe original e seu arco com sua filha no Framework foi belíssimo e, claro, tristíssimo. Ele merecia alguns momentos de felicidade além de sua relação amorosa com Elena e o resgate de seus pais veio justamente para nos trazer isso, com a dupla de atores – Paulina Lule e Sedale Threatt Jr. – logo estabelecendo química com Henry Simmons. Mas DJ Doyle tinha outros planos e seu roteiro cozinha em chama lenta aquele tipo de reviravolta que sabemos que é inevitável, mas que queremos a todo custo que não aconteça de jeito nenhum. Quando tudo está maravilhosamente bem no Quinjet, eis então que John coloca a mão no ombro da detectora de Chronicoms Melinda May e pronto, tudo começa a desabar exatamente como imaginávamos, acrescentando ainda mais dor ao grandalhão de coração maior ainda.
Voltando brevemente a Coulson e May, os dois presos na sala de interrogatório do sempre simpático Rick Stoner recria à perfeição aquela relação gostosa dessa dupla, um agora robô e a outra só sentindo os sentimentos dos outros. Não só as provocações de Coulson parecem quebrar a barreira psicológica(???) de May, como coloca o ex-diretor da S.H.I.E.L.D. na direção de seu sacrifício no subsolo do Farol, momento que é tratado com solenidade, mas sem chorumelas, já que a morte não combina bem com esse personagem de toda forma e nós já estamos cansados de saber disso.
Infelizmente, porém, tudo que envolve o cativeiro de Daniel e Daisy, por mais que os dois personagens sejam adoráveis, não funcionou em termos dramáticos. Essa subtrama é corrida demais, com um Nathaniel Malick fazendo as vezes de vilão afetado de filmes de 007 tornando-se inumano em questão de minutos (ok, foram horas, mas vocês entenderam) em experimentos off screen e derrubando o teto sobre sua cabeça em um encerramento – pelo momento ao menos – completamente anti-climático que não consegue cumprir sua função de nos fazer sequer temer pelos personagens. Tinha a impressão que Sousa seria usado de maneira um pouco mais eficiente nesse arco dado o destaque que foi sua salvação no arco dos Anos 50, mas, pelo visto, ele foi apenas escolhido como o par da outra personagem que está sendo escanteada na temporada. Resta só torcer para que esse quadro seja revertido, já que, pessoalmente, adoraria ver os dois em uma série spin-off dos Guerreiro Secretos ou algo do gênero.
Entre uma coisa e outra, o episódio, que é talvez picotado demais, ainda arruma tempo para explicar o que exatamente se passa com Jemma, derrubando todas as teorias feitas ao longo dos comentários em minhas críticas. Quer parecer que ela tem “apenas” um implante cibernético batizado de Diana (alguém encarnou Tony Stark aqui…) que filtra suas memórias de forma que ela não se lembre do paradeiro de Fitz. Diria que a grande revelação me pareceu morna e um tanto confusa sem o contexto maior que ainda não foi explicado. Mas pelo menos houve espaço para uma conexão maior entre ela e seu neto Deke e dos dois com Enoch. Por outro lado, é tanto mistério que estão fazendo sobre Fitz que tenho certeza que ficarei desapontado quando tudo for revelado…
Adapt or Die revela outra faceta dos Chronicoms, faz Mack sofrer duramente mais uma vez na série e, como se isso não bastasse, o abandona, junto com Deke, em algum lugar do passado, enquanto o restante da equipe vai para sei lá quando. Sem dúvida um bom cliffhanger e sem dúvida um episódio de qualidade que, porém, não alcança o mesmo patamar dos cinco que o precederam.
Agents of S.H.I.E.L.D. – 7X06: Adapt or Die (EUA, 1º de julho de 2020)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen, Jeffrey Bell
Direção: Aprill Winney
Roteiro: DJ Doyle
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wen, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Natalia Cordova-Buckley, Jeff Ward, Enver Gjokaj, Joel Stoffer, Tobias Jelinek, Thomas E. Sullivan, Patrick Warburton, Tamara Taylor, Paulina Lule, Sedale Threatt Jr.
Duração: 42 min.