- Há spoilers do episódio e da série. Leia, aqui, as críticas dos outros episódios e, aqui, de todo o Universo Cinematográfico Marvel.
Agents of S.H.I.E.L.D. teve episódios duplos por três vezes, mas cada dupla foi ao ar no mesmo dia. Collision Course representa a primeira vez que um episódio dessa natureza ganha transmissão em dias diferentes, o que quase me fez esperar a segunda parte para fazer uma crítica só. É que a impressão de conjunto pode significativamente melhorar ou piorar a visão crítica sobre uma obra feita dessa forma, pelo que é importante ter em mente que meus comentários, aqui, obviamente, só levam essa Parte 1 em consideração e tudo o que levou a temporada a esse ponto.
E, para começar a falar sobre o episódio, tenho que fazer uma confissão vergonhosa. A conexão entre Sarge e Izel deveria ter ficado evidente para mim já no final de Toldja, mas isso não aconteceu até o momento em que a câmera começa a se aproximar da personagem sentada de pernas cruzadas e produzindo um som estranho até que um dos morcegos-zumbis é revelado (ou nasce) em suas mãos. Todos os sinais de que Izel era o tal “Criador” que Sarge tanto mencionava estavam lá, desde o uso do pronome “ela”, passando pela “coincidência” de termos visto Izel querendo chegar à Terra justamente no momento que Sarge estimara que ela chegaria, chegando ao título completamente auto-explicativo do episódio. Se conseguirem me imaginar dando um tapa na minha testa, saibam que é exatamente isso que fiz!
Seja como for, apesar da apresentação tardia de Izel na temporada, o episódio funcionou muito bem graças a um roteiro esperto, fragmentado em diversos pequenos núcleos que equilibrou bem ação com texto expositivo e revelações potencialmente interessantes, deixando-nos com um interessante cliffhanger para a Parte 2. E isso sem prescindir de humor, marca registrada especialmente desta temporada, mas que, até agora, não havia sido bem utilizado.
Mesmo que naturalmente ainda haja espaços em branco a serem preenchidos tanto sobre Sarge quanto sobre Izel, o roteiro de Jeffrey Bell e Craig Titley soube manejar bem os mistérios, mesmo que, para isso, tenham que ter feito uso de um artifício barato, no caso o Dr. Benson “incorpóreo” que, na hora exata, manda arquivos importantes para Mack e Yo-Yo. Mas esse foi um pequeno detalhe incômodo em um texto que, de diversas outras maneiras, soube dar espaço a todo o elenco, primeiro começando a discretamente reatar o novo diretor da S.H.I.E.L.D. com seu amor inumano e, depois, criando uma boa dinâmica entre a nova equipe de Sarge, agora composta de Daisy, May e Deke, além de Snowflake.
Aliás, falando na Floco de Neve, a personagem meio maluquinha e completamente assassina vivida por Brooke Williams não tinha mostrado seu potencial até agora, mas sua conexão com Deke, reunindo lascívia e um desejo de matar (ou torturar) trouxe ótimos momentos no caminhão de Sarge, em uma bem-vinda quebra do clima mais pesado gerado pelo misterioso clone de Coulson e pela torre de cristal que os humanos controlados pelos Shrikes começam a construir para aguardar Izel. Em paralelo, a interação entre May e Daisy e das duas com Sarge também funcionou no limite do que os segredos mantidos a sete chaves permitiram.
Lá no Zephyr, a estrutura foi parecida, com os prisioneiros de um lado e Mack e Yo-Yo de outro em uma relação ao mesmo tempo tensa e cômica que soube usar bem os poderes da inumana e melhor ainda o jogo de xadrez de Sarge que muito claramente joga já pensando em várias jogadas a frente. É particularmente interessante notar que, mesmo que muita coisa tenha sido revelada aqui, há muito mais que ainda não sabemos, a começar pelos monólitos e o que eles representam na prática para Izel, o que Sarge realmente quer com a “Besta” e como é que raios os Chronicoms serão novamente encaixados nessa estrutura, agora que aparentemente, eles copiaram os cérebros de Fitz-Simmons com a máquina de realidade virtual.
Falando na dupla apaixonada, apesar de ela não ter tido uma função muito importante no episódio além de preencher minutos para que ele pudesse chegar ao tempo regulamentar, os diálogos também foram inteligentes, especialmente quando Simmons começa a falar sobre seu casamento com o primeiro – ou seria o segundo? – Fitz, fazendo-o ficar com ciúmes dele mesmo. E confesso que, na situação do rapaz, acho que me sentiria igualmente enciumado de mim mesmo, já que ele, agora, tecnicamente, será o segundo marido, terá a segunda noite de núpcias e assim por diante. Isso é suficiente para fundir a cabeça de qualquer um!
Mesmo com a variedade de cenários fechados – Farol, Zephyr (ponte e compartimento de carga), caminhão e nave espacial – houve ainda tempo para que a temporada voltasse ao espaço livre, com fotografia repleta de planos gerais e profundidade de campo. Não foi nada espetacular em termos técnicos, mas Kristin Windell soube dividir muito bem o tempo de câmera entre espaços confinados e abertos com uma decupagem eficiente em um episódio que substitui a ação física propriamente dita por uma dinâmica excelente de sequências capaz de manter a atenção do espectador até o fim.
Tudo caminha para uma Parte 2 que confirmará ou melhorará ainda mais a impressão de conjunto de Collision Course. Apesar de a linha narrativa de destruição do mundo não ser terrivelmente original ou interessante, com zero impressão de perigo ou urgência, as interações do elenco foram inspiradas, o humor foi eficiente do começo ao fim pela primeira vez na temporada e a convergência de linhas narrativas para literalmente um ponto só promete.
Agents of S.H.I.E.L.D. – 6X08: Collision Course (Part I) (EUA, 05 de julho de 2019)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen, Jeffrey Bell
Direção: Kristin Windell
Roteiro: Jeffrey Bell, Craig Titley
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wen, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Natalia Cordova-Buckley, Jeff Ward, Karolina Wydra, Christopher James Baker, Barry Shabaka Henley, Maximilian Osinski, Briana Venskus, Joel Stoffer, Ava Mierelle, Karolina Wydra, Brooke Williams
Duração: 42 min.