Aviso: Há spoilers do episódio e da série. Leia, aqui, as críticas dos outros episódios e, aqui, de todo o Universo Cinematográfico Marvel .
Semana passada, em The Last Day, os showrunners de Agents of S.H.I.E.L.D. fizeram de tudo para manter seus espectadores no suspense e matutando sobre as consequências das meias-revelações que vieram a conta-gotas. O resultado foi um bom episódio que recolocou a temporada nos eixos novamente, ainda que, a bem da verdade, mesmo os capítulos mais fracos tenham se mantido acima da média.
Agora, com Best Laid Plans, que lida muito bem com as duas linhas narrativas, uma no Zephyr com Coulson e companhia e outra no Farol com Mack e Yo-Yo, as dúvidas são dissipadas: estamos diante de um loop temporal mesmo. Em outras palavras, estamos em um mato sem cachorro, já que as ações dos personagens fatalmente os levarão a repetir os eventos que os fizeram chegar onde estão. Logicamente que não tardará e descobriremos exatamente o que desatará esse nó temporal, mesmo que, para isso, tenhamos que aceitar uma ou duas mexidas naquilo que aprendemos em nossas “lições” cinematográficas e televisivas sobre a ciência da viagem no tempo.
Mas chegaremos nisso em vindoura crítica sobre o inevitável episódio que terminará de lidar com essa questão. O que interessa, pelo momento, é que Best Laid Plans traz o tão esperado equilíbrio narrativo ao arco, algo que vinha faltando nos três últimos episódios.
Aqui, cada personagem tem sua função bem definida, ainda que o grupo de Coulson funcione mais como uma amálgama do que como cada um individualmente, uma solução prática do roteiro de George Kitson que precisa lidar com espaço confinado com mini-ações encadeadas que extraem o máximo possível da ótima química que o elenco tem, com o bônus da relação maternal de May com Robin ser propagada e eficientemente explorada na trinca filha-mãe-pai formada por Daisy-May-Coulson. Diálogos curtos, mas tocantes e uma bela expressividade dos atores pela primeira vez na temporada conseguem desbancar a qualidade da já bem estabelecida dupla Fitz-Simmons que não tem muito espaço no episódio que não seja o de nerds espaciais que precisam explicar para seus colegas – e, portanto, para nós – os detalhes do que raios está acontecendo, começando com a confirmação verbal do loop temporal, passando por toda a pseudo-ciência e, claro, a solução para os problemas de se reviver um avião que não decola há algo como 80 anos.
O mesmo acontece no Farol, com Mack e Yo-Yo liderando a rebelião humana contra os Kree. O que antes parecia uma linha narrativa desgarrada ganha um semblante de simetria e de importância dentro da história macro, ainda que Flint não convença muito além de sua função agora clara de “reunidor de peças do monólito” e que a ressurreição de Tess tenha sido, bem…, como dizer… forçada demais e, em última análise, completamente desnecessária.
No entanto, quando as duas (três, se contarmos separadamente as duas que acontecem no Zephyr depois da chegada de Sinara) linhas narrativas são finalmente reunidas, é que realmente vemos a direção de Garry A. Brown tirar o máximo proveito do roteiro de Kitson, depois de começar com uma irritante câmera nervosa que não para de girar ao redor dos personagens no pior estilo Arrow de ser. No lugar de burocraticamente lidar com as histórias, cada uma a seu tempo, Brown faz ótimo uso de montagem paralela para lidar com a luta final de Daisy contra Sinara, a confusão no cockpit do Zephyr e o “duelo” de planos espertos no Farol.
Com isso, temos uma ótima sequência de luta com ajuda de gravidade zero que dá cabo em Sinara em um momento que lembrou o final de Comando Para Matar e o excelente impasse literalmente bombástico entre Mack e Yo-Yo e o cada vez mais estupefato e irritado Kasius que, pela primeira vez, precisou sair do conforto de seu resort Kree. Em toda essa sequência, muito bem arquitetada pela direção e roteiro, o destino da população no Farol é selado e Kasius é humilhado, o que provavelmente levará a uma perseguição espaço-temporal que deflagrará a tal invasão alienígena mencionada no episódio e que é o estopim para a destruição da Terra no passado.
Ainda que detalhes aqui e ali ainda estejam enevoados, o episódio foi eficiente em pintar um panorama para os próximos capítulos, encaixando as peças necessárias ao redor das visões de Robin. Aliás, falando em visões, quem será o clarividente que Kasius revela ter?
De toda maneira, o problema intrínseco do arco continua firme e forte. Trata-se da falta de empatia dos coadjuvantes. Temos que aceitar a vida pregressa deles como fait accompli, especialmente sua relações interpessoais. Com Tess revivida, sua relação com Flint torna-se importante, mas há um vazio ali. O mesmo pode ser dito da relação de Deke com Voss, que, aliás, mais uma vez nos leva a pensar no sujeito como traidor, em uma repetição narrativa que definitivamente poderia ter sido evitada. Esses personagens todos parecem demais estarem a serviço de uma narrativa é não verdadeiramente como partes integrantes dela, quase como aqueles personagens em games que não podem ser controlados pelo jogador.
Por último, há que se falar sobre o bode na sala. Mais uma vez – e agora com mais intensidade – o gravitonium foi mencionado e mostrado, desta feita como parte da tecnologia usada no Zephyr. Isso pode sinalizar o surgimento de Graviton, personagem super-poderoso egresso dos quadrinhos cuja persona civil já apareceu na série e também explicar a destruição do planeta. O grande problema é que seria uma introdução tardia demais em um arco que talvez já tenha avançado além do que deveria. Vamos ver como os showrunners lidarão com isso, se que é que a substância realmente tem relação com o cataclismo.
Best Laid Plans corrige rumos e pavimenta o caminho para o final do primeiro arco da temporada. Ainda há muito o que acontecer, mas AoS mostra que não está para brincadeiras e reúne suas narrativas de maneira inteligente, deixando-nos curiosos para saber como o nó temporal será desatado.
Agents of S.H.I.E.L.D. – 5X09: Best Laid Plans (EUA, 26 de janeiro de 2018)
Showrunner: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen, Jeffrey Bell
Direção: Garry A. Brown
Roteiro: George Kitson
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Natalia Cordova-Buckley, Jeff Ward, Eve Harlow, Pruitt Taylor Vince, Coy Stewart, Pruitt Taylor Vince, Rya Kihlstedt, Myko Olivier, Dominic Rains, Florence Faivre
Duração: 43 min.