Aviso: Há SPOILERS do episódio e da série. Leia as críticas dos outros episódios, aqui.
É impossível saber se, lá atrás, no comecinho da 1ª temporada de Agents of S.H.I.E.L.D., que já estabelecera a badassery da agente Melinda May e seu passado sombrio, Joss e Jed Whedon sabiam seu “segredo”. Tenho para mim que eles não faziam a menor ideia. Mesmo assim, ao finalmente descobrirmos o que aconteceu com May para que ela merecesse o apelido de “A Cavalaria”, a sensação é que havia sim um plano alinhavado desde o começo e que ele sempre envolveu os Inumanos.
É que o episódio focado na agente e que conta com extensos flashbacks para sua ação heroica no Bahrain há sete anos convence o espectador nem que seja a aceitar a história com um retcon daqueles bem feitos, como a transformação de Bucky Barners no Soldado Invernal (no fantástico trabalho de Ed Brubaker à frente dos quadrinhos do Capitão América, cuja crítica você pode ler aqui). Há um senso de completitude no que vemos e que estabelece paralelos com a presença secreta dos Inumanos no mundo. Melinda tem uma missão: capturar uma mulher aparentemente com super-poderes, mas nada é o que parece ser. O que começa como uma missão objetiva logo descamba para algo mais sinistro e Melinda precisa interferir para impedir a morte de uma criança somente para descobrir que essa criança é algo como o mal encarnado.
Não que seja uma surpresa completa. Sabíamos há tempos que os eventos em Bahrain foram traumáticos para May, só não fazíamos ideia da extensão e natureza. E, quando a menininha surge na equação – que era “só” capturar Eva Belyakov (Winter Ave Zoli) – percebemos rapidamente o potencial de desastre. Mas, sem dúvida alguma, a execução de todas as sequências em flashback, que são refletidas no presente, durante o treinamento de Skye por Jiaying, sua mãe, é estruturalmente bem bolada e bem acabada, com ótimo controle da montagem que não exagera nos cortes e nos deixa maturar a ideia que é plantada de um plano bem mais complexo para toda a estrutura da série desde o começo (que, novamente, não me convenci ainda que estava lá, mas não me importo em simplesmente aceitar que estava, como em um “conto de fadas”…).
O roteiro de DJ Doyle, porém, exagera no drama ao também trabalhar o desejo de May e de seu então marido em ter filho. Será que era mesmo necessário criar esse instinto materno em May e essa felicidade entre o casal para tornar a morte da menina pela agente mais traumático do que o evento já é naturalmente? Tenho para mim que não. Pareceu algo artificialmente martelado na trama para justificar a separação do casal.
De toda maneira, é interessante também ver o progresso de Skye em Afterlife, especialmente quando ela toca notas musicais com as taças. Mostra o potencial dos poderes da futura Tremor e permite um momento entre mãe e filha precioso, com a revelação da identidade de Jiaying (ainda bem, pois a manutenção desse segredo não tinha muito sentido). Da mesma forma, a primeira pista sobre o poder de Raina fecha um círculo. Afinal, sua clarividência combina com sua decepção ao descobrir, na 1ª temporada, que O Clarividente (The Clairvoyant) era o vigarista John Garrett usando aparatos tecnológicos. Ela, agora, é de verdade alguém que pode ver o futuro e esse potencial ainda inexplorado gera um cliffhanger leve, que é efetivo em deixar gosto de “quero mais”.
Fora desse eixo de passado e Afterlife, temos a confirmação de May na posição de nova diretora da unidade de Coulson da S.H.I.EL.D. e a revelação de um Projeto Theta super-secreto que envolve a presença de Deathlok no episódio anterior. Será que a ignorância de May sobre os planos de Coulson é verdadeira ou faz parte do jogo duplo dela? E que plano exatamente é esse, que envolve investimento maciços ao redor do mundo? Super-prisões para super-criminosos? Ou será algo mais, digamos, ousado, como uma narrativa na linha de Academia de Vingadores dos quadrinhos, com centros de treinamento de meta-humanos? Lembrem-se: não tem muito tempo e uma série spin-off de Agents of S.H.I.E.L.D. foi anunciada como sendo desenvolvida pela Marvel para a ABC. Seria esse o caminho a ser seguido, com o uso de heróis dos escalões X, Y e Z do Universo Marvel? Hmmmmm…
E, falando em Coulson, ele faz quase que uma ponta no ótimo encerramento do episódio, que também conta com Hunter e Fitz, esse último destravando o cubo de Fury no banheiro de uma lanchonete. Vem diversão aí!
Melinda é mais um episódio eficiente de Agents of S.H.I.E.L.D. que, ainda bem, não perde o fôlego em compasso de espera dos eventos de Vingadores 2. É uma série que vagarosa, mas certeiramente vem se firmando como uma boa diversão nessa desapontadora enxurrada de séries baseadas em quadrinhos.
Agents of S.H.I.E.L.D. – 2X17: Melinda (EUA, 2015)
Showrunner: Joss Whedon, Jed Whedon
Direção: Garry A. Brown
Roteiro: DJ Doyle
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, J. August Richards, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Brett Dalton, B.J. Britt, Nick Blood, Adrian Pasdar, Hayley Atwell, Kenneth Choi, Neal McDonough, Henry Simmons, Brian Patrick Wade, Henry Simmons, Dylan Minnette, Kyle MacLachlan, RFieed Diamond, Simon Kassianides, Adrianne Palicki, Tim DeKay, Jamie Alexander, Eddie McClintock, Edward James Olmos, Ruth Negga, Luke Mitchell, J. August Richards, Dichen Lachman
Duração: 43 min.