Depois de uma primeira temporada desequilibrada, com a metade inicial muito fraca e a segunda boa, com lampejos de excelência, a Marvel não podia arriscar. E a season premiere carrega em seu próprio título – Shadows (Sombras, em português) – o tom que o estúdio parece querer imprimir à nova temporada. Tudo agora é mais sombrio e as piadas e as relações “Barrados no Baile” de jovens não muito mais velhos que adolescentes parecem ter ficado de lado.
É óbvio que ainda é cedo demais para se chegar a essa conclusão e, considerando a estrutura longa demais de 23 episódios, a lei das probabilidades dita que o roteiro não se sustentará no nível desse episódio de abertura, que é muito bom. Mas estamos falando só dele por enquanto, não é mesmo?
O Agente Coulson (Clark Gregg) está, agora, no papel de diretor da S.H.I.E.L.D. O pequeno problema desse cargo é que a S.H.I.E.L.D. não mais existe e, ainda por cima, está sendo caçada pelo Brigadeiro-General Glenn Talbot (Adrian Pasdar) e seus militares. A jovem equipe de Coulson faz o que pode para continuar agindo a partir da base secreta que aparece no final da primeira temporada. Quando vemos Melinda May (Ming-Na Wein), Skye (Chloe Bennett) e Antoine Triplett (B.J. Britt), eles estão cobrindo outro grupo de mercenários comandado pela Agente Isabelle ‘Izzy’ Hartley (Lucy Lawless, a eterna Xena) na tentativa de aquisição de informações sobre um objeto metálico conhecido apenas como Obelisco.
A partir desse momento, que praticamente mostra que Coulson transformou-se em uma espécie de Nick Fury, agindo das sombras (afinal, aquele terno imaculado não combinava mesmo com ações em campo), a ação não para, com o envolvimento direto de Talbot e de um novo (na série) e perigoso inimigo super-poderoso: Carl “Crusher” Creel, conhecido por todos os Marvetes como o Homem Absorvente (Brian Patrick Wade). E a escolha do inimigo – trabalhando para a Hydra, claro – foi muito mais eficiente do que o da abertura da primeira temporada, alterado pela tecnologia Extremis. O poder de absorção de Creel (ele se transforma no material de tudo que toca) funciona muito bem, com efeitos especiais bastante convincentes.
Mas o lado multicolorido de lutas contra super-vilões não é o destaque desse episódio. Há, literalmente, uma sombra sobre tudo que vemos, com Coulson correndo atrás para manter uma certa ordem no caos deixado pelo vácuo da destruição da S.H.I.E.L.D. em Capitão América 2: O Soldado Invernal.
Novamente vemos o ex-agente Grant Ward (Brett Dalton), dessa vez prisioneiro de Coulson (que mania de se fazer prisões transparentes – e há duas só nesse episódio!). Ele parece, agora, ser um homem torturado, com intenção de efetivamente fazer o bem e passar informações úteis para Skye. Não tenho dúvidas, porém, que há muito mais por trás do que apenas uma mudança repentina de lado.
Há, também, a dinâmica alterada na dupla Fitz-Simmons (Iain de Caestecker e Elizabeth Henstridge), os geninhos de Coulson. Vagarosamente, aprendemos quais foram as consequências do sacrifício de Fitz para salvar Simmons ao final da temporada anterior e isso reduz significativamente – elimina, na verdade – o alívio cômico do episódio. Se essa estrutura séria e até pesada será mantida, só o futuro dirá. Mas o fato é que ela funciona e, se bem trabalhada, pode gerar bons frutos.
E a presença de Lawless no elenco também é muito interessante. Não darei spoilers aqui, mas ela tem grande destaque no episódio, sendo peça-chave mesmo e o roteiro a aproveita ao máximo. No final, fica uma interrogação sobre o futuro dela na série, mas estamos falando de Xena aqui, correto?
Para terminar, falarei sobre o começo. Aproveitando que a ABC também deu luz verde para a produção da série Agent Carter, tendo a personagem-título vivida por Hayley Atwell, exatamente como em Capitão América: O Primeiro Vingador, Agents of S.H.I.E.L.D. começa em 1945, com ela comandando o Comando Selvagem (composto por Neal McDonough como Dum-Dum Dugan e Kenneth Choi como Jim Morita) em nome da S.S.R., precursora da agência de Coulson. O grupo coleta, das mãos da Hydra, justamente o artefato misterioso que é o MacGuffin da vez ao longo do episódio. Com isso – e há a promessa de mais aparições de Carter nessa temporada – a série faz uma elegante ponte entre séries, mantendo a coesão do Universo Cinematográfico Marvel.
Shadows continua o ritmo forte que marcou a segunda metade da primeira temporada de Agents of S.H.I.E.L.D. Agora é torcer para que Joss e Jed Whedon não deixem a peteca cair rápido demais (pois ela cairá, tenho certeza…).
SPOILERS ABAIXO
A partir daqui, listo as referências ao Universo Marvel em quadrinhos desse episódio e elas podem constituir pequenos spoilers do episódio:
1. Brigadeiro-General Glenn Talbot – Eterno caçador do Hulk, junto com o General Thunderbolt Ross.
2. Lance Hunter – Diretor da S.T.R.I.K.E., agência correspondente à S.H.I.E.L.D. na Inglaterra.
3. Carl “Crusher” Creel – O Homem-Absorvente, clássico inimigo de Thor.
4. Dr. Whitehall – Nos quadrinhos, Daniel Whitehall é um lendário agente da Hydra conhecido pelo codinome Kraken.
5. Dum Dum Dugan – Combatente do Comando Selvagem, junto com o Nick Fury original.
6. Jim Morita – Idem acima.
7. Peggy Carter – Primeiro amor do Capitão América, durante a 2ª Guerra Mundial.
8. Mr. Stark – Referência à Howard Stark, pai de Tony Stark.
9. Quinjet – Nave dos Vingadores criada com tecnologia de Wakanda, reino do Pantera Negra.
10. Alien azul (na sequência em 1945) – Provavelmente o mesmo, ou relacionado ao que aparece na primeira temporada. Será um Kree?
Agents of S.H.I.E.L.D. – 2X01: Shadows (EUA, 2014)
Showrunner: Joss Whedon, Jed Whedon
Direção: Vincent Misiano
Roteiro: Jed Whedon, Maurissa Tancharoen
Elenco: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wein, J. August Richards, Iain De Caestecker, Elizabeth Henstridge, Brett Dalton, Lucy Lawless, B.J. Britt, Nick Blood, Adrian Pasdar, Hayley Atwell, Kenneth Choi, Neal McDonough, Henry Simmons, Brian Patrick Wade
Duração: 42 min.